Nunca havia parado para pensar nisso, mas ao ver uma biruta improvisada no teto de uma casa, a associação foi imediatamente ao perfil de político ansioso por ocupar a cadeira de prefeito ou prefeita de Natal. Explico. A biruta é um instrumento básico para indicar a direção e sinalizar a força do vento. E qual a relação com a política? Simples. Representantes que anseiam demais pela aceitação da opinião pública e flutuam sem pudor na direção do vendaval hoje são comuns. Mais confortável, mais conveniente e menos desgastante, mas são um risco futuro para resolução de problemas crônicos da sociedade.
O episódio da ocupação do terreno do antigo Diário de Natal por pessoas do Movimento de Luta nos Bairros, Vila e Favelas (MLB) é um exemplo disso. Muitos dos pré-candidatos à Prefeitura do Natal, cidade que concentra cerca de 68% das pessoas em situação de rua do estado, correram para se manifestar de forma veemente contra a invasão à propriedade. O mesmo ardor, infelizmente, não foi visto para defender o direito à moradia digna. Segundo o Censo da População em Situação de Rua no RN, divulgado pela Secretaria de Trabalho, Habitação e da Assistência Social (Sethas), aproximadamente 1.491 pessoas vivem nessa condição.
Não houve questionamento, por exemplo, sobre a paralisação do Pró-Moradia em razão da interrupção dos repasses financeiros pela gestão anterior do Governo Federal que inviabilizou o cumprimento dos prazos pelo Governo do Estado, executor do programa no RN. E apesar da repactuação com a atual gestão nacional para retomada, o atraso impactou na entrega e obra ficou mais cara. Prejuízo para todos, mas não da mesma forma. Uns dormiram no conforto de seus lares, outros se cobriram de desesperança ao relento, nas ruas.
Tanto o direito à propriedade privada, quanto o direito à moradia são garantidos constitucionalmente e são lei. Antes deles, porém e literalmente, estão o direito à cidadania e a dignidade da pessoa humana. Direitos que não se sobrepõem, mas que nutre um ao outro para fazer a letra da Constituição buscar o equilíbrio social. E por isso, é fundamental que aqueles que desejam estar à frente da cidade compreendam que gestão municipal se faz para todos, mas urge para aqueles que não possuem o básico.
A opção da população em deixar os políticos-biruta longe dos ventos da sociedade é um caminho necessário. Quem deseja representar apenas o que convém, não merece a energia dos ventos. O mais sensato, talvez, seja buscar os políticos-bússola, que trazem consigo uma agulha para indicar o caminho com firmeza, naturalidade e orientar a sociedade e seu desenvolvimento de forma a ser atraído exclusivamente pelo magnetismo do espírito público e com o compromisso de garantir uma existência digna a todos.