Belo Horizonte não está entre os destinos mais procurados por quem vem de outros Estados. Com a redução da população da capital – de 2.375.609 para 2.315.560 – apresentada no Censo de 2022, a interpretação de especialistas ouvidos pelo Super é que a cidade mais “exporta” cidadãos do que recebe, atualmente. No Censo de 2010, o último que traz o perfil da população da capital, 93,74% dos habitantes da cidade nasceram em BH ou no interior de Minas Gerais – em São Paulo, por exemplo, o índice de paulistas é de 76,92%. Entre os 6,3% restantes em BH, 2,54% são do Sudeste, 1,97%, do Nordeste, e 1%, de outras regiões.
O professor do Departamento de História da UFMG Tarcísio Botelho conta que BH foi fundada com o objetivo de se tornar um núcleo de crescimento econômico. Por isso, durante o século XX, foi uma área de atração para a população de Minas e, em menor escala, de outros Estados. No entanto, esse cenário mudou nos últimos anos. “BH tem um espaço municipal pequeno, em comparação com municípios do entorno. Dessa maneira, está praticamente ocupada. Não tem para onde a cidade crescer, a não ser verticalmente. Então, os migrantes estão indo para a região metropolitana, para cidades como Contagem e Betim”, detalha o especialista.
Ainda assim, essa minoria diversa de migrantes de outras regiões encontra seu espaço na capital mineira – seja atraída por um romance, seja por uma oportunidade de trabalho, estudo, cultura etc. – e diz se sentir acolhida. É o que relata o músico pernambucano, de Recife, Diogo Alcântara de Medeiros, de 41 anos, que decidiu morar na capital em 2015, depois de quatro anos vivendo em Angola, na África, onde conheceu sua esposa, a mineira Fernanda. “Eu me apaixonei pela cidade. O povo me recebeu de forma bem carinhosa. Uma coisa que eu descobri é que o mineiro gosta muito do Nordeste e dos nordestinos em geral”, comenta Diogo.
Ele lembra que, quando começou a fazer shows em Belo Horizonte, se esforçava para tocar produções mineiras, mas foi percebendo que o público também gostava das músicas nordestinas, como Alceu Valença e Zé Ramalho.
A sintonia deu tão certo que ele e a esposa abriram um restaurante de culinária nordestina, o Canto de Mainha (rua Heitor Menin, 115, Buritis). Hoje, Diogo e Fernanda têm dois filhos, ambos de 6 anos, nascidos em Belo Horizonte. “É muito bom ter a possibilidade de os meus filhos crescerem com essa riqueza cultural, com essa infraestrutura”, afirma o músico.
Metrópole que não assusta
Para o jornalista Hugo Fernando dos Santos, de 31 anos, a decisão de morar na capital mineira não foi difícil. Vivendo em Belo Horizonte desde 2015, o sergipano, de Aracaju, reconheceu sua cidade natal em Belo Horizonte. “BH me chamou a atenção desde a primeira vez que vim, para visitar, e não para morar. Era uma cidade grande que lembrava a minha cidade (Aracaju), bem maior e sem mar. E as pessoas eram tão receptivas quanto”, relembra.
Com possibilidades de trabalho surgindo, Hugo dos Santos foi ficando e pretende viver aqui por muitos anos. Segundo ele, a saudade da praia é a única coisa que pode fazê-lo mudar de ideia. “Como sempre fui muito bem acolhido aqui, nunca tive problemas quanto a conseguir emprego. BH é uma cidade grande com jeito de cidade pequena, que não assusta”, diz.
Capital nasceu pelas mãos dos migrantes
Fundada em 12 de dezembro de 1897, após quatro anos sendo construída, Belo Horizonte é uma das cidades planejadas do Brasil e a quinta capital mais jovem. Embora não seja atualmente um polo de atração de migrantes, durante a criação e o crescimento da capital, foi esse público que ocupou a cidade.
“De início, houve a primeira chegada de pessoas, que foram os operários que construíram a cidade. Depois, vieram funcionários públicos e outras pessoas para trabalhar aqui”, detalha Tarcísio Botelho, professor do Departamento de História da UFMG.