Presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Foto: REUTERS/José Cabezas
Foi reeleito, com mais de 85% dos votos, Nayib Bukele, 42, presidente da República de El Salvador, pequena nação da América Central, com cerca de 6 milhões de habitantes. A Constituição salvadorenha proibiu-o de concorrer, mas a Câmara Constitucional deu-lhe liberdade.
Na chamada “democracia do partido único”, 58 legisladores eleitos, no total de 60, pertencem ao partido do governo. O presidente Bukele afirmou que é a vitória com a maior margem da história da humanidade. Ele governa com as redes sociais, onde ordena, ataca e monta a plataforma para decisões permanentes.
O pai de Bukele era um polígamo, empresário muçulmano palestino, com seis esposas. A “chave” da liderança de Bukele é o combate sistemático a criminalidade. A segurança melhorou drasticamente em El Salvador. Duas gangues dominavam o país desde a década de 1990. A maioria das empresas foi extorquida e a taxa anual de homicídios era de 103 por 100.000. O ano de 2023 fechou com taxa de homicídios de 2,4 por 100 mil habitantes, níveis mínimos históricos.
O marco principal dessa estratégia foi o regime de exceção decretado em 2022. As autoridades poderiam prender qualquer pessoa que considerassem suspeita. O direito de se reunir em grupos maiores que dois foi suspenso. Os menores seriam julgados como adultos.
A medida resultou na prisão de mais de 75 mil pessoas por vínculos com as gangues. A maioria dos salvadorenhos garante que vive com mais tranquilidade, podendo circular por regiões que, antes, eram tomadas pela violência. Oito em cada dez pessoas acreditam que El Salvador é um país mais seguro, ou não percebem clima de medo.
Outras mudanças são implantadas por Bukele. Entrará em vigor a redução de 262 para 44 municípios. A medida vai permitir economia de US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,24 trilhão) por ano. Além disso, a próxima legislatura será a primeira com 60 deputados, em vez de 84.
O que acontece em El Salvador é o exemplo típico de crise da democracia política contemporânea. A cultura democrática reconhece em muitos países que as formas políticas vigentes não são suficientes para atenderem a igualdade entre as pessoas, com a preservação da liberdade individual. A grande mudança é que a comunicação não é mais aquela tradicional, mas sim do Twitter, Facebook, Instagram, de forma direta, onde cada cidadão é o ator que expressa sua opinião e pesa na opinião pública.
A popularidade é indispensável para ganhar as eleições e a credibilidade o exercício do poder. Sem esse binômio a democracia fatalmente gera a descrença coletiva. São indispensáveis o senso da responsabilidade social e o respeito ao sentimento das maiorias, para evitar o choque das vontades pessoais, que conduz às ditaduras. El Salvador sugere uma alternativa. Cabe analisá-la com a preocupação constante de que sejam preservadas as liberdades.