Planejada pelo engenheiro Aarão Reis há mais de 126 anos para abrigar 30 mil pessoas em área de 8,8 km² delimitada pela avenida do Contorno, Belo Horizonte extrapolou o traçado inspirado no modelo das mais modernas cidades do mundo de então, como Paris e Washington. Com previsão de que chegaria a ter no máximo 200 mil habitantes no século XXI, em uma visão bastante exagerada à época, a capital mineira hoje figura como a sexta cidade mais populosa do país, com 2,3 milhões de moradores distribuídos em 332 km², conforme o Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa expansão impõe desafios de mobilidade, de maior trafegabilidade entre os grandes corredores e de integração com a região metropolitana.
“Adaptar-se às mudanças impostas pelas demandas da sociedade é a principal característica de uma cidade que deseja estar pronta para o futuro”, diz o arquiteto e urbanista Sérgio Myssior. E pensando no futuro, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), segundo o subsecretário de Planejamento Urbano, Pedro Maciel, já estuda a melhora da mobilidade, apesar de não revelar detalhes. “Priorizar o uso do transporte público é um dos pontos centrais do planejamento urbano. Queremos desenvolver a cidade na mobilidade, ampliando, por exemplo, a rede cicloviária. O uso das bicicletas é um caminho que precisa ser seguido”. BH tem hoje 72,3 km de pistas e faixas exclusivas para ônibus, contra 109 km de ciclovias e ciclofaixas.
“A mobilidade inteligente e sustentável tem que ser encarada como serviço. É preciso melhorar a experiência do usuário, seja ele pedestre, ciclista ou aquele que usa ônibus e metrô. É preciso pensar ainda num modal integral. Poderíamos ter um bilhete único possibilitando os deslocamentos intermodais. Isso melhoraria o ir e vir”, opina Myssior.
Para além da melhoria do transporte coletivo, a ex-secretária de Política Urbana de Belo Horizonte Maria Caldas ressalta que é necessário orientar o desenvolvimento da cidade de modo a diminuir a necessidade de deslocamentos. “Não só em função das dificuldades do sistema, mas também para reduzir impactos climáticos e melhorar a qualidade de vida da população. Esta é uma das estratégias do Plano Diretor de BH, que propôs o adensamento dos corredores de transportes e fomentou o fortalecimento de novas centralidades e melhoria do espaço público”.
Os especialistas são categóricos ao afirmar que de nada adianta pensar no futuro de BH deixando de lado a integração com as cidades da região metropolitana. “É uma necessidade histórica. É uma estratégia inteligente e fundamental, porque grande parte dos problemas urbanos desconhece os limites administrativos. Com uma boa gestão, os escassos recursos públicos financeiros, técnicos e humanos são otimizados em benefício da população”, defende Maria Caldas.
Movimentos cobram melhoria nos transportes
A melhora na mobilidade é desejada também pelos integrantes de movimentos sociais de Belo Horizonte. “Temos uma cidade com problemas no sistema de transporte, e tudo se agravou com a pandemia de Covid-19. A mobilidade está em crise em BH. Para além disso, o sistema recebe subsídio do governo municipal, ou seja, dinheiro do povo, mas as melhorias não são vistas”, diz a cientista política Letícia Domingues, 30, do Tarifa Zero.
A ampliação das ciclovias na capital é um sonho almejado pelo diretor do BH em Ciclo, Marcos de Sousa. “A prefeitura, infelizmente, se preocupa com as ampliações de estruturas para carro. O ideal, segundo o Plano de Mobilidade, era a cidade ter em torno de 400 km de ciclovias”.
Diante dos desafios postos, Letícia e Marcos esperam que BH se torne uma cidade que oferte aos usuários opções sustentáveis de mobilidade. “Queremos a capital para as pessoas utilizarem os espaços públicos”, diz Letícia.
Números
109 quilômetros – é a extensão das ciclovias na capital mineira
72,3 quilômetros – é a extensão de pistas e faixas exclusivas e preferenciais