Há dois anos, as tardes de Ranielly da Silva eram tediosas. Para não ficar em casa, preferia estar no colégio, a Escola Ambiental de Camaçari, mesmo no turno oposto às aulas. Um dia, percebendo a presença frequente, a professora de música da escola a fez um convite que mudaria a vida da estudante. Desde então, ela integra a turma de música.
Hoje, com 13 anos, Ranielly faz parte do coral Música das Nascentes, assim como muitos outros colegas de escola. Atualmente, a menina não vê sua vida sem a música. “A música na minha vida significa muita coisa. Eu me apresentei no Natal ano passado, fiquei nervosa no início, mas me acostumei. Cantar é sempre uma experiência muito boa”, diz.
Do último domingo (10) até a quinta-feira (14), o coral se apresentará no Casarão 17, que fica no Terreiro de Jesus, no Pelourinho, sob a regência do maestro Fred Dantas. A formação é completa, sendo a primeira fase o vocal e, depois, os instrumentos: enquanto os alunos mais novos fazem parte do coral, os mais antigos são designados para a filarmônica.
Weik Railan, de 16 anos, é um dos estudantes veteranos da turma atual, fazendo parte do projeto há mais de sete anos. Ele, que já cantou junto ao Música das Nascentes em muitas ocasiões, toca clarinete nas apresentações de Natal deste ano.
Filho de pai e mãe cantores, Railan cresceu com a música ao seu redor. Ao entrar na Escola Ambiental e ver as pessoas passando com instrumentos em mãos, cantando e tocando, ficou fascinado. Entretanto, aos seis anos, não tinha idade para ingressar nas aulas.
“Os anos foram passando e, quando cheguei na idade, não perdi tempo. Fui atrás, me inscrevi logo. A música é minha vida, eu acho que vem do sangue. Eu resumo a importância dela para mim em duas palavras: conforto e trabalho. Quando me sinto mal, só sinto desejo de cantar”, afirma.
Já Renan Jesus Santos, de 13 anos, está no coral há oito meses. O adolescente, que descobriu o projeto pela internet e pediu aos pais para que o matriculassem, é o primeiro da sua família a entrar no mundo da música. Para ele, a sensação ao se apresentar e cantar para o público é de pura alegria.
“Quando eu vejo os meninos tocando, me sinto feliz. É uma vivência única fazer parte do projeto, eu nunca tinha participado de nada assim na vida”, conta.
Para o maestro Fred Dantas, ensinar música às crianças é mais do que “tirá-las da rua” ou fazer um “trabalho social”. Ele quer mais: que esses jovens se formem músicos e cantores profissionais e consigam transformar o talento em renda.
“Existe uma falsa ideia de que a pessoa está num projeto social como se fosse uma concessão, mas que logo, logo eles vão ter que sair para ‘trabalhar’. O que é trabalhar para essas pessoas? É trabalhar em call center, em lanchonetes, em prestação de serviços. São empregos precoces, que tiram deles, inclusive, a oportunidade de seguir um ensino superior. Eu quero que eles saiam dessa dicotomia”, diz. O maestro adiciona que desde o ano passado as crianças recebem um cachê pelas apresentações natalinas no Pelourinho.
*Com orientação de Monique Lôbo.