Uma buzina insistente de caminhão soa na avenida Brasil, no bairro Funcionários, por volta das 10h30 desta terça-feira de Carnaval (13 de fevereiro). É o começo do bloco Truck do Desejo, que emenda a buzina com seu hino, repetido pelas milhares de pessoas ao redor: “É a força da mulher sapatão, as bi e as futuristas”.
Luta, alegria e amor são tons do Carnaval de Belo Horizonte, sublinhados no bloco Truck do Desejo. Dentro e fora da corda, ele privilegia pessoas “LBPT” (parte da sigla LGBTQIAPN+, incluindo as lésbicas, bissexuais, panssexuais, pessoas trans, travestis, transmasculinas e não-binárias). E é palco de amor entre elas.
Ecoando a música de Caetano Veloso, “Deusa do Amor”, que diz “foi no bloco Olodum que encontrei meu amor”, a geógrafa Janaína Gomes, 34, mostra a aliança no dedo e repete: “encontrei meu amor no Truck do Desejo”. Foi em um ensaio do bloco, em 2019, que ela conheceu a gestora pública Gisele Maia, 31, com quem hoje está casada — e que ainda é sua colega como membro do bloco.
O bloco Truck do Desejo, que desfila nesta terça (13) no Carnaval de BH, resgata a brasilidade para os braços das mulheres e outras pessoas “LBPT”. Por volta das 9h30, pouco antes da saída do bloco, que segue pela avenida Brasil até as 14h rumo ao colégio Arnaldo, uma multidão… pic.twitter.com/95dm377MKa
— O Tempo (@otempo) 13 de fevereiro de 2024
O Truck do Desejo não é só amor, é luta por direitos e visibilidade também. Em meio à pressão por corpos magros à mostra no Carnaval, foi no Truck que Janaína conseguiu se sentir à vontade consigo mesma na folia, conta. “No Truck, consegui colocar meu primeiro cropped, minha primeira hot pant”.
Gisele reforça que o bloco, cujo lema deste ano é “a gente é multidão”, é uma festa da visibilidade das pessoas “LBPT”. “Ele serve para mostrar que somos muita gente. Nós, que somos sapatões, nos sentimentos excluídas, invisibilizadas. Aqui, reconhecemos nas outras pessoas que estamos vivas”.
Outro casal na bateria são a vendedora Fabiana Barros, 41, e a professora Fernanda Medeiros, da mesma idade. Fabiana alegra-se por este espaço na folia, já que, quando era mais nova, encontrava somente espaços LGBTQIAPN+ voltados para homens gays.
“Antigamente, só tinha boate gay. Aqui, me sinto pertencente, é bem diversificado. E há o resgate das mulheres que abriram as portas pra gente lá atrás, como Sandra de Sá e Gal Costa”, diz.