Considerável parcela da sociedade brasileira ao longo de sua história e motivada por uma série de fatores sociais e econômicos, contraiu muitas dívidas com vários segmentos sociais, seja com a iniciativa privada, seja com o setor público. Na origem delas vamos encontrar os trabalhadores desempregados, os subempregados, os que vivem na economia informal, a inflação que corrói os já baixos e defasados salários, a alta concentração de renda, os planos econômicos, os juros escorchantes do cartão de crédito e do cheque especial, a gulodice fiscal da tributação excessiva, a paralisação da economia durante os momentos mais graves da pandemia da covid-19, os desajustes familiares etc. O volume das dívidas só tem aumentado, graças sobretudo a incapacidade dos devedores de a saldarem, bem como a alta insensibilidade dos credores, notadamente do setor bancário, que impinge juros dignos de um capitalismo selvagem, cada vez mais empurrando as classes baixa e média para uma inadimplência desenfreada e uma insolvência geral. Não é menos verdade que os gastos com saúde e educação privados têm aumentado acima da inflação de forma que cada vez mais, as famílias não conseguem pagar os planos de saúde e também retiram os filhos das escolas, com isso sobrecarregando o atendimento no Sistema Único de Saúde e superlotando com matrículas as escolas públicas. Além dos gastos que têm desembolsado com a segurança privada, mormente os altos índices de violência e criminalidade da qual têm sido vítimas, face a ainda as ineficientes políticas de segurança pública e de defesa social, posta em prática por sucessivos governos, que ao invés de atacarem as causas, continuam combatendo os efeitos dela, ou seja, só enxugando gelo.
Desta forma pode-se facilmente constatar o equívoco dessa equação, onde ao invés da sociedade ser devedora, na verdade, ela é credora de políticas públicas eficientes e permanentes que consigam atender as necessidades básicas da população, como educação, saúde e segurança, de uma inflação baixa e controlada, do pleno emprego, de salários dignos que reponham anualmente a inflação, de juros compatíveis com a lei da oferta e da procura, de participação nos lucros das empresas, da desoneração de impostos para os produtos da cesta básica, da tributação das grandes fortunas, de combustíveis subsidiados etc. E na condição de credora dos diversos segmentos sociais, políticos e econômicos, a sociedade tem o direito de cobrar urgentemente dos empresários, industriais, banqueiros e políticos em todos os seus níveis da administração pública, que a médio e longo prazo, sejam capazes de pôr fim a esta escalada de abandono e exclusão em que vem sendo posta, excluída e marginalizada, portanto, do desenvolvimento econômico e social sustentável do país, para que possa ter a sua dignidade restaurada.