Alguns de vocês aqui vão se lembrar de um caso que relatei na semana passada de um paciente de 57 anos com angina grave com dificuldade de conseguir atendimento para o seu caso. Felizmente ele teve um desfecho feliz, conseguiu ser operado de urgência e soube que já teve alta hospitalar. Idoso de 68 anos morre
Infelizmente, ontem, 10/04, um outro paciente de 68 anos não teve o mesmo final.
Ele teve dor no peito pela manhã, mas só tomou a iniciativa de ir para um serviço médico quando o sintoma ficou insuportável e passou a ter desconforto respiratório, já no final da tarde. O eletrocardiograma mostrava que o caso era gravíssimo. Ele foi entubado, houve necessidade de uso de drogas para manter a pressão e a contratação do músculo cardíaco. Idoso de 68 anos morre
Enquanto isso, nos preparávamos para recebê-lo na sala de procedimento.
O caso era muito grave, a pressão continuava baixando, necessitando cada vez mais de drogas. Luta contra o tempo. 3 stents implantados, fluxo coronariano restaurado e alguns minutos de esperança. Mas o coração já estava em fadiga total. A quantidade de morte muscular já tornava o quadro irreversível. Evoluiu com arritmia e parada cardíaca. 50 minutos tentando reanimação. Equipe exausta entre massagens e cardioversão elétrica. O jovem anestesista que estava comigo, um monstro de disposição, sem querer parar, repetia “ vamos, volte, sua artéria já está aberta, enquanto massageava”. Veio a decisão mais difícil: a hora de dizer “acabou”
Depois de tudo, vem a parte mais triste: dar a notícia para a família, que esperava.
aflita na recepção. Dinheiro nenhum no mundo vale a pena nesse momento. Idoso de 68 anos morre
A família começa a relatar o ocorrido. E aí vem o motivo de eu ter decidido escrever sobre esse episódio: ele estava há 3 dias tendo vários episódios de dor em casa, sem querer ir ao hospital pelo medo de “pegar o novo vírus”. A esposa estava se sentindo muito culpada pois ela tb teve muito medo de sair.
Desculpem-me estar expondo um caso triste aqui, mas vocês precisam entender que a vida não pode parar em decorrência de um pânico desproporcional. Precisamos enfrentar essa pandemia com seriedade e racionalidade e não com histeria, medo e intimidação.
O pânico, instalado na população de forma proposital, está fazendo as pessoas e o próprio sistema de saúde terem mais medo do vírus do que de um infarto. Estão com mais medo do vírus do que do caos social iminente. Isso é surreal. E tem gente me acusando de fake quando falo das inúmeras mortes invisíveis causadas por essa situação. Sabe por quê? Porque esse óbito não irá para a estatística da mídia. Idoso de 68 anos morre
Fui pra casa tarde da noite pensando durante todo o caminho: se ele tivesse sido atendido 3 dias atrás?
Lembrei tb da entrevista que li ontem, com Dr Felipe Simão, cardiologista em SC. Alguns trechos abaixo:
“Diante de tantas restrições e cuidados, os cardiopatas ficaram trancados dentro de casa, e ao mesmo tempo relaxados em procurar ajuda para a sua doença do coração. Por conta de toda essa situação, o paciente que tem diabetes, pressão alta e doença coronariana, quando aparece, está em péssimas condições e muitas vezes em situação muito grave”. Relatou que, reabriu o seu consultório e precisou encaminhar 4 pacientes para cirurgia cardíaca de urgência.
“O exercício é uma das formas que o cardiopata tem como grande ajuda na sua recuperação. À medida que o indivíduo engorda, fica sedentário, fica estressado por estar em casa, aumenta a pressão, o açúcar no sangue o que causa instabilidade nas artérias levando a infartos e derrames cerebrais” Idoso de 68 anos morre
“A insuficiência cardíaca tem sintomas parecidos de tosse e falta de ar, mas quando sai o laudo se atesta coronavírus. Mesmo que o resultado dê negativo, o registro de óbito já está feito e não muda”
Meu apelo a vocês: protejam-se, informem-se melhor ( a mídia não é fonte de informação fidedigna, pois seu único interesse é vender notícia, e o pânico está dando lucro para ela) e, por favor, NÃO PAREM AS SUAS VIDAS! Idoso de 68 anos morre
Texto por: Manuela Silveira (Médica)