Empresários concordam que os trabalhos na área são essenciais, mas alegam que clientes estão sumindo
Um dos principais problemas de Belo Horizonte durante o período chuvoso, a avenida Vilarinho, na região de Venda Nova, passa por obras. Na área, entre outros trabalhos, é feita uma estrutura hidráulica de captação dos escoamentos superficiais. Entre moradores e comerciantes da região a opinião é unânime: o trecho realmente precisa de uma solução. No entanto, em conversa com a reportagem de O TEMPO, nesta quinta-feira (2), eles também reclamam dos transtornos.
Kátia Carvalho é dona de uma loja de peças para motocicletas que funciona na região há 12 anos. Ela afirma que, desde o início dos trabalhos, o movimento caiu em torno de 60%. “Aqui está um caos. Para a gente, a obra é primordial, acreditamos que vai melhorar, mas até isso acontecer está muito difícil. A Vilarinho está praticamente fechada, mas as contas continuam chegando. A gente queria que acelerasse um pouco”, desabafou.
Com maquinário e trabalhadores nas pistas, o trânsito na área fica mais complicado e, consequentemente, clientes dos comércios evitam parar na região. “Quanto antes eles liberarem a via aqui vai ser melhor. Atualmente, quem pode desviar da Vilarinho, desvia. Os clientes que frequentam a minha loja são clientes antigos. Agora outros clientes que precisam de uma peça, eles não param. Vão para outra loja. Acho que essas obras poderiam ser feitas em dois turnos, aos fins de semana”, afirmou.
Plano B para não fechar as portas
A família de Ailton Vieira tem uma loja de ferragens na avenida há cerca de 30 anos. Ele repassou a administração para as filhas, que criaram um plano B para que a loja não fechasse as portas. “A situação do comércio aqui caiu assustadoramente por causa de uma obra sem planejamento, sem conversa com a gente. Nem pedestre conseguia passar na porta da minha loja, o jeito foi contratar motociclista para fazer a entrega dos clientes sem cobrar a taxa de deslocamento”, afirmou.
No passado, ele teve prejuízos depois que a loja foi invadida pela água durante a chuva. Para que não tivesse mais problemas, o comerciante precisou reforçar a proteção no local. “Coloquei uma porta de aço e uma proteção toda emborrachada com mais de dois metros. Ela veda na hora que fecha e também temos duas válvulas de retenção em cada tubo de esgoto. A obra é necessária, mas deve ser feita de um jeito que não prejudique o outro. Nós pagamos impostos em dia, devemos ter ao menos consideração e respeito!”, desabafou.
Rachaduras em imóveis
Se por um lado comerciantes reclamam do baixo faturamento, moradores também estão na bronca já que eles afirmam que trincas e rachaduras começaram a aparecer nos imóveis desde o início dos trabalhos. O motorista Antônio Corrêa da Silva mora em uma casa na rua Maçon Ribeiro e, por lá, as trincas já começaram a aparecer nas partes interna e externa.
“A máquina aqui não para de vibrar e eu fico gritando ‘para, para’. Moro aqui com a minha companheira e a gente percebe as trincas logo quando chega no portão e também nos cômodos, como quarto e sala. Na casa do meu filho, que mora na mesma rua, também tem trincas”, afirmou.
Segundo ele, nenhuma vistoria foi realizada por parte da prefeitura na residência. Sem nenhum tipo de orientação, a família espera um posicionamento do município. “Deveria vir um engenheiro olhar aqui, a gente fica sem saber o que vai acontecer, se vai ter um ressarcimento”, disse.
Visita
Nesta manhã, a Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara Municipal esteve na área de obras da Vilarinho. “A gente percebe que a obra está em andamento, muitos funcionários trabalhando apesar de ter sido pedido um aditivo de 90 dias para entrega da obra completa. Tem reclamação porque o trânsito está muito confuso. Os comerciantes têm sido prejudicados por falta de informações. O que a gente faz é o trabalho de fiscalizar e cobrar celeridade nas obras para que seja minimizado o prejuízo desses comerciantes e, principalmente, que a obra funcione para que não tenhamos mais alagamentos na avenida Vilarinho”, disse o vereador Wilsinho da Tabu (Progressista).
O que diz a Prefeitura de Belo Horizonte
Procurada pela reportagem de O TEMPO, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que três intervenções complexas e de grande porte para prevenção de enchentes na região da Avenida Vilarinho, em Venda Nova, são realizadas simultaneamente.
Em relação à reclamação dos comerciantes sobre a “falta de diálogo e planejamento”, o município destacou que a execução das obras foi amplamente divulgada por informativos institucionais da PBH e também pelos veículos de imprensa.
Sobre o trânsito na área, a prefeitura informou que “durante a mobilização do canteiro de obras e montagem dos tapumes foram realizadas as vistorias cautelares dos imóveis residenciais e comércios no entorno da obra. Neste momento, é explicado de maneira sucinta como será a execução da obra. Antes da mudança do trânsito local para execução das obras de pavimentação, representantes da Sudecap, BHTrans e da empreiteira contratada passaram pelos comércios mais próximos da obra para explicar como seriam as principais mudanças no trânsito. Além disso, faixas foram implantadas antes da alteração de trânsito, informando a data que tal mudança seria implementada. No decorrer dos serviços, várias alterações de trânsito foram feitas, mas sempre bem sinalizadas, de acordo com orientações da BHtrans”.
Ainda conforme o comunicado, assim que a equipe técnica da obra tomou conhecimento de possíveis trincas e rachaduras em imóvel na rua Maçon Ribeiro, nas proximidades da Obra da Caixa de Captação do Isidoro, “imediatamente uma vistoria foi realizada. De imediato, a casa localizada no fundo dos imóveis foi escorada e solicitado aos moradores que por questões de segurança não permanecessem no imóvel. O Cadastro da Sudecap para levantamento das benfeitorias e montagem do processo de indenização foi acionado. Foram realizados o cadastro técnico e o laudo de avaliação. O processo segue seu curso para indenização”.
A PBH reafirmou que mantém diálogo com os moradores e que reclamação ou sugestão e pedidos de vistorias em função da obra devem ser feitas por meio da Ouvidoria Geral do Município.
Veja quais são as obras, de acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte:
Córrego do Nado – Lareira e Marimbondo (Venda Nova): A primeira fase das obras de prevenção de enchentes na região de Venda Nova. Obras para tratamento de fundo de vale e controle de cheias nos afluentes Córrego Marimbondo e Córrego Lareira, com construção de bacia de detenção do Córrego Lareira. Investimento de aproximadamente R$40 milhões, recursos repassados pelo PAC, com contrapartida do Fundo Municipal de Saneamento. Previsão de conclusão: 1º semestre de 2022.
Caixa de captação – Vilarinho: Segunda etapa de obras de prevenção de inundações na avenida Vilarinho e rua Doutor Álvaro Camargos, região de Venda Nova. Nesta fase será implantada uma estrutura hidráulica de captação dos escoamentos superficiais (caixa de captação) no emboque do Ribeirão Isidoro, localizado na avenida Vilarinho com rua Doutor Álvaro Camargos e rua Maçom Ribeiro. A construção dessa estrutura de captação em forma de caixa – com área aproximada de 2.500 m² e volume da ordem de 10 mil m³ (10 milhões de litros. A caixa de captação vai receber o volume excedente de escoamento superficial proveniente da insuficiência das redes de drenagem do entorno. Ela vai drenar o excesso de águas sobre as vias durante os eventos chuvosos mais intensos, reduzindo o risco de elevação da lâmina d’água na região e o tempo de permanência da água sobre a pista
A Sudecap esclarece que a parte dos serviços que dá forma a estrutura já está praticamente finalizada. Toda a escavação e as paredes já foram concluídas, inclusive a laje de fundo. Também já foi executada a adequação dos interceptores de esgoto das margens da estrutura. No momento, está em finalização a adequação viária no entorno, com os ajustes da geometria das pistas e pavimentação do segmento da Avenida Vilarinho sentido Centro-Bairro. A galeria central do Córrego do Nado já foi demolida. Faltam fazer as adequações da entrada e saída da galeria do Córrego do Nado na caixa de captação e os trabalhos de acabamentos de passeios, sarjetas, meio-fio, sinalização viária e paisagismo.
Os serviços seguem dentro do cronograma previsto inicialmente, com previsão de término para o final deste ano de 2021. Estão sendo investidos R$ 12,8 milhões nesse empreendimento.
Grandes Reservatórios – Vilarinho: Ordem de serviço assinada início das obras em abril de 2021. Obras e serviços de otimização do sistema de macrodrenagem dos córregos Vilarinho, Nado e Ribeirão Isidoro (TR 10 anos) para a implantação de dois reservatórios profundos – Vilarinho 2 e Nado 1 – e mitigação das inundações recorrentes na av. Vilarinho e rua Dr. Álvaro Camargos. O investimento previsto é o da melhor proposta apresentada de R$ 124.632.055,43, com recursos financiados pela Caixa Econômica Federal. O prazo de execução dessa obra é de 36 meses. Os dois reservatórios subterrâneos têm capacidade de armazenamento de aproximadamente 115 milhões de litros d’água cada um, incluindo a laje de cobertura.
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