O Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou em entrevista à CNN que é contra as desonerações, como a de combustíveis implementada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), ou aquela voltada para a folha de salários, que tem sido motivo de divergência entre o governo Lula e o Legislativo.
Na visão de Campos Neto, as desonerações de forma geral são prejudiciais e levam a uma má alocação de recursos. Ele acredita que a “tentação” de abrir mão de recursos para reduzir os preços ou proporcionar melhorias na economia a curto prazo, sem a devida recomposição no futuro, é semelhante a “vender o almoço para comprar metade do jantar”.
Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto / Foto: REUTERS/Brendan McDermid
“Sou a favor, no caso da desoneração da folha, de considerar a eliminação gradual, mesmo que alguns setores precisem fazê-lo de forma faseada, e de optar por uma política mais uniforme, que distribua melhor os recursos. Em geral, sou contra esse tipo de política”, afirmou.
Quando questionado sobre a desoneração da folha e a tentativa do governo Lula de realizar o ajuste fiscal por meio do aumento de receitas, Campos Neto destacou que essa abordagem é menos eficiente e tende a gerar mais inflação do que a correção das contas públicas por meio da redução de gastos.
Por outro lado, considerando as experiências de governos com inclinações políticas diferentes, o presidente do BC reconheceu as dificuldades em cortar gastos no Brasil, principalmente devido às indexações e ao grande número de despesas obrigatórias no país. Nesse sentido, ele defendeu a necessidade de uma “reforma”.
“É muito difícil imaginar qualquer tipo de corte de gastos que não envolva uma mudança significativa nessa questão das indexações e das obrigações de gastos” – Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
Campos Neto também observou o aumento de despesas no início do governo Lula e mencionou que a mudança da meta de resultado primário para 2025 parece ter tido um efeito negativo nas expectativas do mercado. A meta passou de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0%.
“Após a mudança da meta, observamos algum efeito na curva de longo prazo. O mercado já previa que o governo não cumpriria a meta fiscal, e a preocupação era de que, após a mudança, as expectativas ficassem ainda piores. Os dados já indicam uma deterioração das expectativas”, afirmou.
Apesar das ressalvas, o presidente do BC reconheceu os esforços do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em relação ao ajuste fiscal, e pediu que Executivo e Legislativo ajustem sua abordagem em relação ao cumprimento das metas fiscais para que as expectativas sejam restabelecidas.
Com informações da CNN Brasil