Cozinha da loja da Tim, onde vendedora teria sido atacada por gerente e outro vendedor. Foto: Reprodução/Redes sociais
A ex-vendedora da Tim, vítima de uma tentativa de estupro por parte de um gerente e um outro vendedor no Rio de Janeiro, postou uma foto do lugar onde tudo aconteceu. A chamada “salinha da sarrada” – como os acusados chamavam o espaço – , era uma cozinha pequena, que os funcionários usavam para esquentar comida.
“Onde vivi o pior dia da minha vida, na ‘sala da sarrada’”, escreveu a mulher, que foi demitida por justa causa da loja da operadora de telefonia.
Segundo ela, a empresa alegou que a ela estava ferido a honra de seus superiores e colegas de trabalho, quebrando o código de ética da empresa. A Tim nega e diz ter outros motivos para a dispensa da funcionária.
“A demissão da ex-colaboradora se deve a eventos pregressos vinculados à relação de trabalho e totalmente alheios aos fatos relatados”, disse a empresa em comunicado.
Os dois acusados foram demitidos na sexta-feira 13, depois que a Justiça do Rio aceitou a denúncia do Ministério Público por estupro e coação no curso do processo.
Ameaça e desqualificação
A vítima também postou trechos do inquérito policial que serviu de base para a denúncia do Ministério Público.
O documento relata que o gerente tentou pressionar a vítima a pedir demissão e não levar o assédio adiante. Na delegacia, ele desqualificou a vítima dizendo que já havia visto fotos íntimas dela e que ela não “fazia o seu tipo”.
Ele também a ameaçou quando soube que a vendedora fez um registro de ocorrência: “Lá fora voê não me conhece”, disse.
Ou caso
Uma vendedora da loja Tim do Norte Shopping, na Zona Norte do Rio de Janeiro, contou em suas redes sociais que foi demitida após usar o canal interno da empresa para denunciar uma tentativa de estupro de um colega de trabalho e de seu gerente geral. Segundo o delegado que investiga o caso, Deoclécio Assis, um dos acusados chamava o espaço do refeitório de “sala da sarrada” .
O caso aconteceu no dia 15 de abril deste ano e o registro de ocorrência na 23ª DP (Méier) foi feito no dia 1º de junho.
Após a situação, a vítima conta que tentou continuar trabalhando normalmente por precisar do emprego. Mas, diante da dificuldade em ter que se relacionar diariamente com os acusados, decidiu recorrer a um canal interno da empresa para denunciar a situação.
“Decidi fazer a denúncia interna na TIM e responder uma avaliação da gestão do gerente geral, mal eu sabia que minha vida se tornaria ainda pior. Ele começou o olhar de cara feia e a me excluir dos grupos de trabalho para o meu bom desempenho profissional. Até que no dia 01.06.2021, me chama até a sala e depois chama os dois colegas de trabalho que presenciaram que eu fui atacada, humilhada de várias formas, ameaçada e coagida simplesmente porque ele teve acesso à denúncia e à avaliação da sua gestão, que eu claramente respondi de forma negativa”, escreveu na rede social.
A vendedora contou ainda que após fazer um registro de ocorrência, ficou muito abalada, precisando de cuidados médicos, que resultaram em uma licença de dois dias, que foi renovada por mais cinco.
Ao final do prazo, ela disse foi chamada até a sede da empresa, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, onde acabou sendo demitida.
“A coordenadora me demitiu por justa causa, no meio de uma crise de ansiedade, e me demitiu de forma humilhante, falando sobre eu ter ferido a honra dos meus superiores e colegas de trabalho, quebrando o código de ética da TIM”, contou a mulher
A mulher acrescentou ainda que foi diagnosticada com depressão, ataque de pânico e estresse pós-traumático.
“Eu estava falando a verdade, não teria motivo para mentir e destruir minha carreira e minha vida”, disse.
‘Sala da Sarrada’
Na conclusão do inquérito, o delegado Deoclécio Assis, da DP que apurou o caso, escreveu:
“O principal investigado/indiciado denominava a sala do refeitório (espaço pequeno) como sendo ‘sala da sarrada’, e há indícios de que os fatos já ocorreram com outras funcionárias que, em depoimento, negaram. A principal testemunha, mesmo advertida da necessidade de falar a verdade, mentiu, acompanhada da advogada da empresa. Ao ser submetida a uma acareação com a vítima, chorou, dando a nítida impressão que sofreu pressão para distorcer a realidade dos fatos. O principal investigado/indiciado, em seu depoimento insistiu em desacreditar a vítima, chegando ao ponto (e praticando novo crime) de dizer que a vítima já havia tido um relacionamento com um ex-funcionário, mesmo sabendo que o rapaz era casado; dito que já havia visto fotos íntimas da vítima na empresa e que a mesma não fazia o seu tipo”, escreveu o delegado.
O que diz a empresa
Procurada para se manifestar sobre o caso, a TIM enviou uma nota dizendo que a apuração dos fatos ocorre sob sigilo, que lamenta a situação da funcionária e que mantém um “canal sério e sigiloso” para denúncias.
Confira a íntegra da nota abaixo:
“A TIM repudia veementemente qualquer situação de violência, abuso ou assédio e esclarece que o caso se encontra sob apuração sigilosa por parte das autoridades competentes.
Em função do recebimento da denúncia do Ministério Público, pelo Juiz Criminal, a empresa demitiu os dois colaboradores.
A empresa lamenta a situação exposta pela ex-colaboradora e informa que entrou em contato com a mesma para prestar apoio e suporte psicossocial a ela e a sua família. A empresa esclarece que qualquer decisão tomada com relação a seus colaboradores é sempre feita de forma imparcial e baseada em fatos apurados e documentados.
Ressalta-se, ainda, que a demissão da ex-colaboradora se deve a eventos pregressos vinculados à relação de trabalho e totalmente alheios aos fatos relatados. ”