Pesquisadores da UFMG e da Fundação Ezequiel Dias (Funed) anunciaram, na última quinta-feira (14), a conclusão do isolamento e da microscopia eletrônica de uma amostra positiva de monkeypox virus, processo confirmado também por abordagem molecular (PCR). Os trabalhos foram realizados em conjunto nos dois centros de pesquisa, com o respaldo de uma contraprova validada por ambos.
O isolamento de um vírus é um método específico para o diagnóstico e fornece evidências de sua presença em amostras clínicas. No caso de agentes infecciosos, isso também é importante porque permite sua manipulação sem risco de contaminação das equipes de pesquisa, que poderão estudar suas características biológicas e imunológicas e buscar desenvolver vacinas e testes de novas drogas, entre outras possibilidades de avanço no manejo da doença.
Os responsáveis pelo trabalho são os professores Erna Geessien Kroon, Giliane de Souza Trindade e Jônatas Santos Abrahão, do Laboratório de Vírus do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), centro de referência na pesquisa de poxvírus na América Latina, em parceria com o pesquisador Felipe Iani, chefe do Serviço de Virologia da Fundação Ezequiel Dias (Lacen MG). O microbiologista Flávio Guimarães da Fonseca, do CTVacinas e do Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do ICB, integra a equipe, apoiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio da Câmara Pox, afiliada à Rede Vírus do MCTI.
Contraprova
Com vasta experiência em estudos no campo da virologia, em especial com os poxvírus, os pesquisadores destacam não se tratar ainda de um estudo, mas resultado do trabalho de contraprova que vem sendo realizado desde os primeiros sinais da chamada “varíola dos macacos” para certificar o diagnóstico do vírus. “Essa parceria entre a Funed com as universidades, principalmente a UFMG, tem sido de fundamental importância para o avanço nos diagnósticos e nas pesquisas de ponta realizadas no estado de Minas e no Brasil, auxiliando os gestores nas tomadas de decisão”, afirma Felipe Iani.
“Desde o primeiro momento, o Laboratório de Vírus tem sido parceiro da Funed, para que fosse possível diagnosticar precocemente o monkeypox em nosso Estado, quando aqui chegasse”, afirma Giliane Trindade, do Laboratório de Vírus da UFMG. O Laboratório capacitou a equipe da Funed e forneceu amostras-controle e células, os insumos iniciais para os testes moleculares para detecção de ortopoxvírus, causador da varíola bovina, e para o qual já existe um protocolo aprovado.
“A amostra recebida por eles foi compartilhada conosco. Os mesmos testes diagnósticos realizados lá, na Fundação, foram feitos aqui no laboratório de referência em poxvírus do ICB, para contraprova do resultado”, explica Giliane Trindade, que integra comissão instituída pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para monitorar o avanço da doença no país. Todos os testes de isolamento e PCR da amostra foram feitos duas vezes e deram positivo nos dois laboratórios. A partir daí, será possível à Funed, com apoio do Ministério da Saúde, estabelecer protocolos mais eficazes para garantir a qualidade dos diagnósticos feitos em Minas.
Certificação
Certificado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), o isolamento do vírus monkeypox foi realizado por integrantes do Laboratório de Vírus junto à equipe do Laboratório de Biossegurança Nível 3 (NB3) ou laboratório de contenção, que se destina a pesquisas com vírus, bactérias, fungos e outros microrganismos causadores de doenças transmitidas pelo ar. As imagens de microscopia eletrônica foram feitas pela equipe do Centro de Microscopia da UFMG, em conjunto com o professor Jônatas Abrahão.
Todo esse trabalho foi feito em parceria também com o CTVacinas, que extraiu o DNA do vírus e fez o PCR confirmando o diagnóstico por biologia molecular. “Quando o surto começou na Europa, o MCTI montou a Câmara Pox/RedeVírus MCTI, e o Centro se adiantou e encomendou os insumos para os testes moleculares”, afirma Giliane Trindade.
A doença
Causada pelo monkeypox vírus, muito parecido com o da varíola humana, a doença provoca febre, dores de cabeça e no corpo, além de fadiga, lesões cutâneas e inflamação de linfonodos. Ela pode ser transmitida por contato direto com secreções respiratórias, lesões na pele, além de fluídos corporais e objetos contaminados. A principal recomendação é o isolamento de pessoas infectadas para evitar a transmissão. As medidas preventivas incluem higienizar frequentemente as mãos e evitar o contato com pessoas e animais infectados.
Número de casos aumenta em Minas
Subiu para 32 o número de casos confirmados de varíola dos macacos em Minas Gerais nesta segunda-feira (18). Conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde, na última sexta-feira, eram 24. Os pacientes, segundo a pasta, estão em isolamento, e o estado de saúde deles é estável.
Belo Horizonte é a cidade com maior número de resultados positivos para a doença, totalizando 27. A capital mineira é o único município onde já existe transmissão comunitária da enfermidade. Dois casos de varíola dos macacos também foram registrados em Governador Valadares, no Rio Doce, dois em Sete Lagoas, na região Central, e um em Mariana, na mesma região.
Até o momentos, todos os diagnosticados com a doença em Minas Gerais são homens, com idade entre 22 e 46 anos. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, há dois casos em internação hospitalar para isolamento. Ainda conforme a pasta, todos os que tiveram contato com os pacientes estão sendo monitorados.
Quais são os sintomas da varíola dos macacos?
Os primeiros sintomas da varíola dos macacos são febre, dor de cabeça, dores musculares e nas costas, linfonodos inchados, calafrios e exaustão. A doença se desenvolve com lesões na pele, primeiramente no rosto. As lesões também podem se espalhar para outras partes do corpo, incluindo os genitais. As lesões na pele parecem as da catapora ou da sífilis até formarem uma crosta, que depois cai. Os sintomas podem ser leves ou graves, e as lesões na pele podem ser pruriginosas ou dolorosas.
Como a doença é transmistida?
A transmissão ocorre por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. A transmissão de humano para humano ocorre entre pessoas com contato físico próximo com casos sintomáticos. O contato próximo com pessoas infectadas ou materiais contaminados deve ser evitado. Luvas e outras roupas e equipamentos de proteção individual devem ser usados ao cuidar dos doentes, seja em uma unidade de saúde ou em casa.
Com Agências