O sonho de Wemerson Souza, jovem de 21 anos, morador do bairro Paulo IV, era proporcionar para a população do seu bairro entretenimento e lazer de qualidade. E foi desse desejo que nasceu UFC Beira Linha, evento de luta amadora que reuniu a comunidade do Paulo VI neste domingo (21 de abril), com atividades para toda a família.
Embora a ideia central tenha nascido da brincadeira de realizar lutas de UFC entre os moradores do bairro, o evento deste domingo proporcionou muito mais do que isso. A iniciativa ofereceu distribuição gratuita de pipoca, refrigerante e picolé para as crianças, uma rua de lazer com cama elástica, piscina de bolinhas e brinquedos infláveis. A criançada também contou com cortes de cabelo e tinturas gratuitamente no evento em uma parceria do UFC Beira Linha com a Blesseds Barbearia, estabelecimento da comunidade.
Wemerson explica que o UFC Beira Linha nasceu há cerca de um mês, quando ele decidiu tornar a brincadeira de luta, comum entre os moradores, em um evento que beneficiasse toda a população. “O UFC Beira Linha não é nada de ‘rincha’, é apenas uma brincadeira com os amigos porque a galera já brincava assim e nunca rolou inimizade”, reforça.
A ideia do jovem é que além de brincar com segurança, as famílias do Paulo VI tenham uma opção de lazer. “A gente está cansado de ver os meninos brincando só no asfalto quente o dia inteiro, com carro e moto passando toda hora pra lá e pra cá. Só tendo o entretenimento na favela como uma bola. Então eu quis fazer algo diferente. Se eu conseguir fazer sempre, vai ser muito bom”, comenta.
O jovem, que trabalha como gari, disse que boa parte do dinheiro utilizado no evento deste domingo saiu do seu bolso. Mas que outras pessoas também abraçaram a ideia. Como o barbeiro Daniel Martins, mais conhecido como “Macarrão”. O empresário ofereceu cortes de cabelo gratuitos para as crianças durante o evento. Macarrão explica que já tem um projeto de corte de cabelo gratuito para as crianças no seu negócio, a Blesseds Barbearia. E quando recebeu o convite de Wemerson, veio prontamente ajudar.
“Muitas vezes, o pai e mãe não tem condições de pagar um corte. Paga a conta de luz, paga as contas todas e não sobra para a criança. As crianças ficam com o cabelo grande, ficam infelizes, são zoadas no colégio. Aí a gente chega na comunidade e abraça. Além do Wemerson ser um camarada que vem lutando com a gente no dia a dia, viemos para somar mais um dia e sempre, porque comunidade é isso” comenta Macarrão.
A atendente de loja Carla Suelen Almeida, 27, que estava no evento e aproveitou para cortar o cabelo do filho. “Eu achei ótimo porque ajuda bastante. O corte, as brincadeiras, ajuda demais pra gente sair com a crianças no final de semana aqui no bairro. Deveriam ter mais eventos como esse. Aqui tem pouca atividade para as crianças, quando tem rua de lazer assim é bom para elas se distraírem”, explica.
É luta amadora, mas com regras e segurança
O UFC Beira Linha reuniu diversos competidores em aproximadamente oito lutas. Para garantir a segurança e a justiça na brincadeira, os participantes estão na mesma faixa de peso e um professor de luta atua como juiz, acompanhando a performance dos participantes. Nas regras do evento, o organizador explica que os lutadores não podem bater na nuca do oponente, e se o competidor “bambear” duas vezes, o oponente vence a disputa.
O bartender João Victor Pereira, 23, é um dos moradores do bairro que topou entrar na brincadeira. “Eu decidi lutar para ajudar a comunidade, para dar entretenimento pra geral. Está um evento bacana estou gostando de ver”, explica.
As intenções do mecânico Igor Luan Souza, 30, outro competidor do evento, são bem parecidas com as de João. “O negócio é brincar, trazer entretenimento para a comunidade. A gente sempre quer fazer na favela algo para reunir todo mundo, para que todos possam se divertir e brincar. E o UFC Beira linha trouxe isso pra gente. Tem quem jogue uma bola, tem quem solta um papagaio e tem quem troca soco. E é o que vale, ver a comunidade reunida, as crianças brincando. O UFC não é pra rincha ou trocar desavenças passadas, é brincar mesmo um com o outro”, comenta.
O campeão deste domingo, infelizmente, não leva para casa uma premiação. Wemerson explica que o dinheiro arrecadado foi usado para investir na diversão das crianças. Mas que sonha oferecer algo a mais para os competidores, em um próximo evento.