A travesti negra Paola Amaral teve os pés amarrados, foi colocada no porta-malas de um carro e atingida por pauladas em Teresina (PI) na última segunda-feira. A Polícia Cívil de Piauí investiga o caso. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra que parte da agressão ocorreu na presença de agentes da Guarda Civil Municipal (GCM).
Em nota, a corporação informou que foi acionada para uma ocorrência no residencial Parque Brasil III, na Zona Norte da capital piauiense, e que, ao chegar ao local, “a equipe encontrou uma travesti amarrada, suspeita de furtar apartamentos na região”. Após ouvir os envolvidos, os guardas, segundo o comunicado, “orientaram que o suposto agressor a desamarrasse”.
Paola Amaral, e um dos homens que a agrediu, foram algemados e conduzidos à Central de Flagrantes de Teresina para apuração do caso.
Nos vídeos que circulam nas redes sociais, dois homens agridem Paola com um pedaço de madeira, enquanto ela está no porta-malas, que em determinado momento é fechado com ela dentro.
A GCM, no entanto, informou que não presenciou o fato, pois chegou ao local posteriormente. “Em hipótese alguma, a Guarda Civil Municipal de Teresina defende que seja feita Justiça com as próprias mãos. O comando da GCM vai avaliar se houve falhas no procedimento”.
Em outro momento do vídeo, Paola, que está com os pés amarrados e já fora do porta-malas, leva uma rasteira de um homem. Algumas pessoas presenciaram as agressões, inclusive três guardas.
Bruna Benevides, secretária de articulação política da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), explica que os culpados pela agressão devem ser identificados e punidos.
— Nossa maior preocupação é manter a Paola viva. Também queremos que a GCM tome uma posição em relação a seus agentes, e que seja investigado quem está no vídeo e participou da agressão, o dono do carro e quem autorizou que ela fosse colocada dentro do porta-malas — completou Benevides. — Tortura é crime. Só vemos esse ódio desenfreado contra pessoas negras e, no caso dela, contra pessoas trans negras.
A Antra informou que Paola estava em situação de rua e de vulnerabilidade social extrema. Ela foi liberada da delegacia e acolhida por uma associação local, mas está com medo de ameças. Paola, que tem evitado falar com a imprensa, chegou a pedir ajuda em um vídeo:
— Fui na Defensoria Pública há mais de sete meses e até agora nada. Preciso de ajuda. Estou passando necessidade, muita fome, por isso roubei. Não aguentava de tanta fome, preciso de um emprego.
Benevides ressaltou que a tortura é inadmissível:
— Ela tem que ser levada para instâncias que devem tratar do delito. Não podemos admitir barbárie, tortura nem vingança. Não estavam fazendo nenhum ato de Justiça. Foi um tratamento desproporcional e que está sendo usado como justificativa para tentar aliviar quem a submeteu a essa situação.
Em nota, a Polícia Civil do Piauí informou que “a Delegacia dos Direitos Humanos abrirá Inquérito Policial para apurar as lesões corporais praticadas contra a travesti na cidade de Teresina, mostradas em vídeo e divulgadas através das redes sociais” e que “os prazos para conclusão do procedimento são os de praxe, estipulados por lei”.