A prefeitura do Natal enfrentou duas fortes greves nas últimas semanas, a da educação e a da saúde.
As pautas de reivindicação eram muito parecidas: melhores condições de trabalho e, principalmente, aumento salarial. A categoria da educação queria que a prefeitura pagasse um reajuste previsto em lei (como têm feito as prefeituras e governos estaduais pelo País afora) e a da saúde queria reposição após oito anos sem um centavo de aumento.
A forma como a gestão do prefeito Álvaro Dias (PSDB) encarou os dois problemas, no entanto, foi muito diferente.
Para a saúde, tratamento cordial e respeitoso. O prefeito chegou até a receber líderes da categoria, pessoalmente, para negociar um acordo. Em comunicações oficiais, a prefeitura tratava o movimento como um ato legítimo. Os protestos organizados em frente ao palácio Felipe Camarão não tiveram maiores transtornos – e olhe que os sindicatos fizeram barulho em frente ao prédio.
No caso da greve da saúde, também não houve judicialização nem promessa de desconto de salário pelos dias não trabalhados. E o principal: a pauta foi atendida. Para encerrar a greve, o prefeito autorizou aumentos de até 69%, para uma das categorias, como dos assistentes.
A coisa foi totalmente diferente no caso da educação.
Para começar, a categoria não foi recebida pelo prefeito ou pela secretária Cristina Diniz como gostaria. Foram vários ofícios protocolados, sem sucesso. Sempre uma desculpa diferente para não dialogar com os professores.
Depois, auxiliares do prefeito tentaram em vários momentos deslegitimar o movimento, sugerindo que, ao reivindicarem um direito, professores estavam na verdade com ganância sobre os cofres da prefeitura. Nas manifestações, houve tensão, empurra-empurra e quase aconteceu um conflito com a Guarda Municipal.
Outra diferença crucial: diferentemente da saúde, contra a greve da educação o prefeito Álvaro Dias foi à Justiça, pedindo até para usar força policial para expulsar, se fosse o caso, professores de prédios públicos.
E, agora, a novidade é que os dias não trabalhados pela categoria serão descontados na próxima folha salarial, mesmo com professores não se recusando a fazer a reposição.
Além disso, nenhum item da pauta de reivindicações foi atendida. Pelo contrário: o prefeito enviou para a Câmara um projeto propondo uma espécie de congelamento salarial para a categoria.
Diante dessa situação, é preciso questionar: por que tamanha diferença no tratamento dado às duas greves? Por que o prefeito Álvaro Dias, que é médico de formação, conduziu a greve da saúde de uma forma, e a dos professores, de outra? O fato de, historicamente, o sindicato dos professores ser berço e apoiar políticos do PT influenciou no tratamento dado pelo prefeito enquanto gestor público? Os dois setores são essenciais à população, mas por que só um movimento foi duramente enfrentado?
Com a palavra, a gestão.