Um grupo de funcionários terceirizados da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), responsável por realizar a leitura dos padrões de água da companhia, protestou nesta segunda-feira (20) em frente à sede da estatal, localizada no bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, contra as condições de trabalho na empresa.
Além da falta de itens básicos, como uniformes e equipamentos de trabalho, o grupo denuncia o número excessivo de leituras e o risco de segurança durante as medições. Os funcionários paralisaram as atividades durante o protesto.
Sindicatos têm denunciado a precarização dos serviços na estatal. Segundo o presidente do Sindágua, Eduardo Pereira, nos últimos anos, a companhia tem prestado “um serviço ineficiente” para justificar uma eventual privatização da estatal. Para ele, o “desmantelamento” da Copasa tem sido “calculado friamente” pelo governador Romeu Zema (Novo).
A deputada estadual Ana Paula Siqueira (Rede) concorda e acrescenta que essa seria uma “estratégia perversa” do governador “para vender a privatização como solução”. A Companhia nega e diz que vem sendo gerida por uma diretoria “extremamente técnica e profissional” (Leia mais abaixo).
No entanto, tanto Ana Paula quanto Eduardo avaliam que a atual política da empresa é voltada aos lucros dos acionistas. Na última sexta-feira (17), o Conselho de Administração da companhia recomendou para deliberação da Assembleia Geral Extraordinária a distribuição de R$ 372, 4 milhões de dividendos aos acionistas.
A crítica da oposição é que enquanto isso diversos bairros de Belo Horizonte e outras cidades mineiras têm sofrido de forma recorrente com a falta d’água. A situação tem se intensificado nos últimos dias durante a onda de calor que atingiu todo o país. A privatização da Copasa e de outras empresas estatais é uma das principais bandeiras defendidas por Romeu Zema desde a sua primeira eleição em 2018.
“Zema nunca escondeu seu interesse em privatizar a Copasa, bem como outras estatais. A partir da precarização dos serviços, ele quer provocar a revolta da população contra a Copasa para vender a privatização como solução. Uma estratégia perversa, ainda mais durante essa onda de calor que estamos enfrentando”, afirmou Ana Paula Siqueira.
“A falta de investimentos na companhia, que prioriza o repasse de dividendos aos acionistas, faz com que várias famílias estejam sem água e sem acesso ao saneamento básico. Não falta dinheiro para investir, o que falta é vontade política”, completou a deputada.
Vistoria. O presidente do Sindágua ainda acrescenta que o o governo do Estado estaria anunciando ações de manutenção como se fossem investimentos. Para ele, isso não é ilegal, mas é, “no mínimo, imoral”.
Segundo o sindicalista, o desabastecimento, um dos problemas enfrentados pela companhia, é fruto de uma soma de fatores resultante do descaso com a companhia. Ele cita como motivos para o problema a falta de construção de mais reservatórios, a redução do número de funcionários, além do aumento no número de ligações irregulares.
De acordo com ele, a “falta de políticas sociais da estatal” estaria levando ao acréscimo no número de “gatos”, o que aumentaria o consumo de água.
“A Copasa não é uma empresa ineficiente, mas o que vemos é o governo usando de algumas políticas para sucatear a empresa A Copasa foi criada para corrigir desigualdades do Estado, não para dar lucro. Mas estão mais preocupados em distribuir dividendos, mascarar os investimentos, do que preocupados com a questão social. Enquanto estamos vivenciando uma crise, com falta de água, os acionistas estão recebendo milhões de dividendos, lembrando que o Estado é acionista majoritário”, criticou Pereira.
*Participação de aliados é criticada*
O presidente do Sindágua, Eduardo Pereira, critica ainda a presença de “aliados” de Zema na estatal No último mês, após levar o presidente estadual do Novo, Christopher Laguna, para a assessoria executiva da presidência da Copasa, o governador afirmou que a escolha da corporação como modelo de privatização para a Cemig lhe blindaria do que classificou como “politicagem”.
Em maio, o ex-deputado federal Charlles Evangelista, que não conseguiu se reeleger no ano passado, também foi levado para ser assessor institucional da presidência da companhia.
“O que eu vejo são políticos sendo priorizados na gestão com salários altíssimos. Enquanto isso, cadê os investimentos anunciados? A região metropolitana precisa de mais reservatórios. Só o aumento do consumo não justifica a crise que estamos passando. O governo não quer solucionar o problema, ele quer criar o caos e vender”, afirmu o sindicalista.
A deputada Ana Paula Siqueira (Rede) ainda acrescenta: “A Copasa é uma empresa lucrativa, com seus próprios recursos conseguiria fazer os investimentos necessários para aprimorar os serviços. Não podemos colocar a culpa da precarização dos serviços da Copasa no endividamento do Governo de Minas. A dívida é histórica e observamos a redução dos investimentos a partir do governo Zema”
Companhia destaca gestão ‘profissional e técnica’ na diretoria
Em nota, a Copasa afirmou que vem sendo gerida por uma diretoria “extremamente técnica e profissional”, o que estaria, segundo a estatal, “aumentando sua eficiência e melhorando os resultados da empresa”. Questionada sobre a falta de investimentos em detrimento do repasse dos lucros aos acionistas, a companhia destacou que a distribuição de lucros é uma rotina de qualquer empresa de capital aberto, mas ponderou que os investimentos só têm crescido nos últimos anos.
“Empresas sólidas econômica e financeiramente como a Copasa buscam a máxima eficiência para gerar para ser competitiva no mercado seja quem for o controlador”, informou.
Questionada sobre a situação do abastecimento na região metropolitana, a companhia destacou que realiza o monitoramento constante, mas ressaltou o aumento do consumo de água durante a onda de calor. A Copasa não respondeu aos questionamentos sobre a criação de mais reservatórios em Minas Gerais.
“Equipes operacionais da companhia permanecem fazendo manobras para garantir o abastecimento de todas as regiões e auxiliar na normalização do abastecimento o mais breve possível”, informou a estatal, que enfatizou a importância do uso racional de água.
Sobre o protesto dos funcionários terceirizados nesta segunda, a Copasa informou que as demandas da categoria estão em análise e ressaltou que a companhia vem tomando todas as medidas para resguardar a execução regular das leituras e entrega de contas.
A Copasa informou também que o programa tarifa social, que concede descontos na conta de água e esgoto para famílias que têm renda mensal de até meio salário mínimo, atende atualmente 600 mil famílias em todo o Estado.
Investimentos
“Recorde”. Questionada sobre a suposta falta de investimentos, a Copasa afirmou que, de 2023 a 2027, serão destinados mais de R$ 8 bilhões em saneamento em todo o Estado, “um recorde histórico de recursos”, de acordo com a companhia. O montante será destinado para alcançar as metas do Marco Legal do Saneamento. Ainda segundo a estatal, de 2019 a 2022, no primeiro mandato do governador Romeu Zema, a companhia investiu 50% mais do que na gestão anterior.