Uma criança hospitalizada, um idoso desmaiado e mais de 15 integrantes com sintomas de vômito, desmaio, tosse, falta de ar e alergia à pimenta. Este é o relato do bloco Truck do Desejo após uma confusão ter sido registrada próxima à ala da bateria durante o Ensaio Geral do Carnaval nesse domingo (14 de janeiro). As pessoas que participavam do cortejo passaram mal após inalarem spray de pimenta lançado pela Polícia Militar (PM).
De acordo com Isabela Figueira, uma das coordenadoras do Truck do Desejo, a confusão gerou outros efeitos além dos citados: crises de pânico, de ansiedade e outros sofrimentos psíquicos. “O público, em geral, foi muito prejudicado com a interrupção do ensaio, mas pra gente era impossível continuar a apresentação sabendo que nem ‘todxs’ estavam com sua saúde e segurança garantidos”, afirmou.
A atuação da PM foi, segundo Isabela, inadequada e não garantiu o direito constitucional à segurança pública. “É inadmissível que um bloco formado por mulheres, bissexuais, lésbicas, travestis, transmasculinos e não binários, que está desde julho de 2023 ensaiando essa apresentação musical não possa exercer o direito de ocupar a cidade e tenha seu trabalho interrompido pelo uso inadequado do spray de pimenta”.
Isabela Figueira ponderou que o evento do final de semana, além de testar o novo sistema de som do Carnaval de BH deveria também servir para verificar a segurança, visto que a festa deste ano aguarda mais de 6 milhões de foliões. “Precisamos de um policiamento preparado para lidar com a população LGBTQIAPN+. Precisamos de um policiamento preparado para lidar com situações de assédio, violências de gênero, furto, exploração infantil, precisamos de um policiamento preparado pra garantir a execução da lei, ‘Não é não'”, complementou.
PM ainda pode melhorar escolha do uso do spray de pimenta
Segundo um policial que estava no comando da atuação, que não será identificado, a atitude seguiu o protocolo da PM. “Não dá para engessar uma situação, tudo depende do cenário e da circunstância. Mas, basicamente, em casos de multidão, nós usamos instrumentos de menor potencial ofensivo. Primeiro, o diálogo, depois, o bastão, o controle do contato entre os envolvidos e, por último, dependendo da gravidade da briga, o disparo de spray de pimenta para dispersão das pessoas e para abrir espaço para a atuação da polícia”, informou. “Ali foi um momento que foi necessária a intervenção próxima ao trio”, continuou.
Após a repercussão da confusão, o militar informou que as intervenções serão estudadas para o Carnaval oficial. “Todo planejamento pode ser aprimorado. Teremos mais reuniões futuras. A ideia é que, talvez, possa ser repensado o uso de spray próximo aos blocos, para não atrapalhar quem está tocando e cantando. Mas reforço que é uma medida necessária”, afirmou.