No frigir dos ovos, o presidente Jair Bolsonaro fará o que o ministro Rogério Marinho quiser. Foto: André Coelho / Ministério da Economia
Engana-se quem pensa que o ministro da Propaganda, Fábio Faria, está com a bola toda com Jair Bolsonaro, quando da disputa com o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) pela preferência do presidente nas eleições do Rio Grande do Norte. Tanto Fábio quanto Rogério brigam pelo apoio presidencial para disputarem o Senado. Na perspectiva de entendedores da política nacional, é Rogério Marinho, e não Fábio, quem disporia de maiores chances de emplacar a candidatura.
Ontem mesmo, em entrevista concedida à 96 FM de Natal, Bolsonaro mostrou o quanto está comprometido com uma ou com outra dessas postulações, afirmando que Fábio e Rogério devem “tirar no par ou ímpar” quem disputará o Senado e quem deverá tentar vaga na Câmara dos Deputados. Ou seja, Bolsonaro não irá meter a colher nessa briga, diferentemente do que se especulava a respeito. Antes pelo contrário, se tiver que apoiar uma delas, muito provavelmente será a de Rogério.
Antes de conceder entrevista a Bruno Giovanni e Ênio Sinedino por articulação de Fábio, Bolsonaro prestigiou pessoalmente Rogério, visitando-o durante a manhã em seu gabinete na sede do Ministério do Desenvolvimento Regional na companhia de figuras do alto escalão do governo federal, como o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Foi um gesto para mostrar a importância que Bolsonaro reputa ao trabalho que Rogério desenvolve, que tem dado ao governo federal obras para inaugurar, tanto no campo hídrico quanto no habitacional, o que tem rendido positivamente para o governo.
Rogério teve o lançamento de sua chapa, com ele para o Senado e o deputado federal Benes Leocádio para o governo, sustado por ação direta de Fábio junto à família presidencial, o que gerou uma crise que quase levou à demissão de Rogério, que solicitou licença do ministério – quando na verdade queria a demissão. Rogério não aceitou a interveniência presidencial em assuntos paroquiais potiguares.
A posição de Rogério acendeu a luz vermelha no clã bolsonarista, que viu ali o risco de perder um ministro operacional que tem dado resultados ao governo. A partir de então, cresceu no seio governamental a ideia de neutralidade em relação à disputa provinciana norte-rio-grandense, que nada agrega ao presidente em termos eleitorais nacionais. Daí o “tirar no par ou ímpar” ter sido o termo usado por Bolsonaro para demonstrar sua imparcialidade, deixando a questão para ser decidida entre Rogério e Fábio.
É nesse contexto que Fábio se enfraquece muito, tendo em vista que Rogério, muito mais organizado que Fábio em termos eleitorais, larga na frente disparado, por já ter alinhado com dezenas de prefeitos e lideranças norte-rio-grandenses uma rede de apoios a sua candidatura, muitos desses apoios fruto de parcerias administrativas, convênios e investimentos diretos do governo federal nas cidades do Estado.
No frigir dos ovos, Bolsonaro fará o que Rogério quiser, uma vez que o ex-presidente da Câmara de Natal, ex-deputado federal e relator das reformas trabalhista e previdenciária tem um grupo sólido de apoiadores, enquanto que Fábio conta apenas com o apoio do pai, ex-governador Robinson Faria, do deputado estadual Galeno Torquato e de mais meia dúzia de prefeitos e vereadores.
Para completar, soou muito mal a publicização da articulação entre Fábio e o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves, até então crítico ferrenho de Bolsonaro. Fábio se reuniu com Carlos Eduardo antes da publicação de uma pesquisa em que ambos aparecem em cenário relativamente interessante eleitoralmente, com o objetivo de fomentar uma chapa Carlos governo e Fábio Senado.
Porém, divulgou desastrosamente em suas redes que “orientou” Carlos a deixar de criticar Bolsonaro, gerando um problema para Carlos, cujo partido tem candidato a presidente, Ciro Gomes, que é crítico ferrenho da gestão presidencial.
Embriagado
A colunista Bela Megale, de O Globo, confirmou o que noticiei aqui: o principal afiançador da nomeação de Ciro Nogueira para a Casa Civil é o ministro da Propaganda, Fábio Faria. Inclusive, ontem após a posse de Ciro, foi Fabio quem regou a vinho e buffet de gala jantar em sua residência em Brasília, para celebrar o fortalecimento do centrão no governo federal, com presença de Bolsonaro, Ciro e seleto grupo de políticos.
Até o naufrágio
Politicamente junto ao governo federal, Fábio Faria joga muito bem e faz amarração que poderá, sim, resultar em sua indicação em eventual chapa presidencial de Bolsonaro como candidato a vice-presidente da República. Isso se o centrão não abandonar o barco bolsonarista antes das eleições de 2022 – o que não é impossível a contar com o crescente naufrágio popular bolsonarista e o fortalecimento de candidaturas como a de Lula.
E agora, Carlos?
O deputado federal Paulo Ramos (PDT-RJ) anunciou que o PDT não mais brigará pelo voto impresso por não compactuar com a proposta de Bolsonaro, que busca desestabilizar a democracia e fazer incursão golpista. Presidente do PDT no RN, qual será a posição de Carlos Eduardo, ficará contra ou a favor do partido? Em tempo: o ministro Fábio Faria pediu para que Carlos silencie as críticas a Bolsonaro.
Lula, lá
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceria a eleição do ano que vem no primeiro turno, indica pesquisa da empresa Quaest divulgada nesta quarta-feira. Por incrível que pareça, Lula só não levaria no primeiro turno, pelos cenários de hoje, se na corrida sucessória estiverem nomes como José Datena e Sérgio Moro.