Protesto foi convocado pelo Movimento SOS Salve Vargem das Flores e pela Associação de Proteção e Defesa das Àguas de Vargem das Flores (Aprovargem)
Moradores de cidades da Grande BH protestam, na manhã deste domingo (28), em Contagem, na Grande BH, contra o traçado proposto pelo governo de Minas Gerais para o Rodoanel Metropolitano. O protesto foi convocado pelo Movimento SOS Salve Vargem das Flores e pela Associação de Proteção e Defesa das Àguas de Vargem das Flores (Aprovargem).
A manifestação, batizada de ‘Não Vamos Trocar Água por Estradas’ teve início às 9h, MG-808, no bairro Granja Ouro Branco, em Contagem. Posteriormente, o movimento seguiu em carreata para a Prainha de Vargem das Flores, no bairro Solar do Madeira. Durante o ato, os manifestantes alertam sobre os impactos ambientais e urbanos que o traçado proposto pelo Executivo Estadual pode causar.
“Não vamos aceitar que o rodoanel destrua Vargem das Flores. Não trocar água por estrada”, entoaram os presentes no ato.
Integrante do SOS Vargem das Flores, a professora Adriana Souza, de 36 anos, destacou a importância da represa, inserida dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Vargem das Flores, para o abastecimento hídrico da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo ela, o modelo apresentado pelo Estado pode comprometer até 500 mil famílias, conforme estudos feitos pela organização.
“O traçado apresentado passa dentro da APA Vargem das Flores e pode induzir a uma ocupação urbana em uma área de preservação ambiental. É uma proposta que vai secar nascentes e, por sequência, a represa”, afirmou a professora que denunciou a ausência de diálogo com o governo de Minas. “O Estado não dialoga, não escuta as populações que serão afetadas”, acrescentou.
A geógrafa e presidente da Aprovargem, Dayse Reis, diz que a proposta apresentada pelo Estado não foi bem projetada. “Quando o governo fez esse projeto não pensou nos impactos, que são inúmeros. É uma obra que estudos técnicos mostram que passa por áreas importantes de aquíferos, mananciais, matas. É um projeto que não pode ser feito a toque de caixa, precisa ser melhor projetado e discutido com as cidades da Grande BH”, ressaltou.
Apreensão
Para quem mora nos arredores do reservatório de Vargem das Flores, o sentimento é de apreensão com o futuro da região. A dona de casa Nilza Fernandes, moradora do bairro Estâncias Imperiais há cinco anos, afirma que o local é um “paraíso” para quem vive. “Minha preocupação é do grande impacto, porque essa região é muito benéfica pela relevância ambiental. O rodoanel vindo pra cá, tudo isso vai acabar”.
Souza reforçou que os moradores não foram consultados sobre a proposta. “Em nenhum momento fomos consultados. O Estado quer nos impor essa proposta goela abaixo”, criticou.
O engenheiro químico José Alexandrino, de 57 anos, representou o movimento ‘Salve Santa Luzia’ no protesto. A cidade também receberá um trecho do Rodoanel. “O traçado começa em Ravena e cruza todo distrito de Santa Luzia. E o que nos chama mais atenção é que a população de Santa Luzia, que será duramente impactada, desconhece o que está acontecendo”, afirmou.
Alexandrino salientou que um estudo de impacto social e ambiental feito pelo movimento mostra a destruição de 18 nascentes de córregos da cidade que abastecem o Rio das Velhas. “O traçado divide a cidade ao meio em vários bairros, mas também sítios históricos e arqueológicos como o convento de macaúbas e cemitério dos escravos”, complementou.
A reportagem de OTempo enviou os questionamentos da população e dos movimentos à Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais (Seinfra) e aguarda posicionamento.
Problemas
Desde que foi colocado em pauta pelo governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), o projeto do Rodoanel Metropolitano tem sido alvo de críticas. Na proposta atual, a segunda apresentada, há diversos problemas, segundo as prefeituras da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Na última sexta-feira (26), inclusive, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Agostinho Patrus (PV), informou que vai enviar ofício ao Estado pedindo a suspensão da tramitação do projeto para análise dos deputados. Cálculos da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) apontam que o custo da obra total do Rodoanel, com 100,6 km de extensão, é de aproximadamente R$ 5,09 bilhões.
Os prefeitos de Betim, Vittorio Medioli (sem partido), e de Contagem, Marília Campos (PT), denunciam que a obra proposta pela Seinfra aumenta os impactos na área de Proteção Ambiental (APA) Várzea das Flores, localizada entre Betim e Contagem. Além disso, o traçado defendido pelo Estado pode descarregar nos centros urbanos dessas cidades o movimento das BRs 381 e 262.
Outra crítica feita ao projeto é que a obra, segundo apresentação da Seinfra, terá um pedágio cobrado de R$ 0,35 por km rodado por eixo. O valor é 1.067% maior do que o praticado na rodovia Fernão Dias, entre Contagem e São Paulo, por exemplo, que tem como preço unitário R$ 0,033 por km rodado por eixo.
Na BR–381, que liga Minas a São Paulo, há oito praças de pedágio, de R$ 2,30 cada. Em uma conta simples baseada na situação em que o motorista percorreria todos os 100,6 km do percurso do Rodoanel, um carro de passeio gastaria R$ 35,23 para transitar em todo o percurso.