Diante da descoberta dos altos cachês pagos a astros da música sertaneja por prefeituras em crise financeira, situação de emergência decretada ou afetadas por problemas decorrentes da pandemia, as revelações da cantora Anitta sobre um tipo de “rachadinha” nos contratos com artistas, exibidas no último domingo (5) pelo Fantástico, deixaram empresários do setor de eventos e prefeitos baianos em estado de tensão.
O temor é de que a avalanche de denúncias leve o Ministério Público (MP) a abrir investigações em série sobre esquemas baseados na prática de pagar valores expressivos para receber parte da soma em operações de lavagem de dinheiro. De acordo com profissionais do ramo de entretenimento que atuam no mercado de shows há mais de 20 anos, esse tipo de negociata é bastante comum, sobretudo durante a contratação de artistas para festas juninas, carnavais e eventos do calendário tradicional de cidades do interior baiano.
Basicamente, explicam, a prática consiste em estabelecer um valor superior ao que determinados cantores cobram e repassar parte da soma para o contratante. “Em geral, emissários de um prefeito ou secretário são escalados para fazer o contato e propor o acordo. A probabilidade da tal ‘CPI do Sertanejo’ preocupa muita gente do nosso setor. E essa preocupação é real”, confidencia uma das fontes ouvidas pela coluna.
Exemplo de como a área de eventos é usada para desviar dinheiro público foi revelado em 2017 pela Operação Adsumus, deflagrada um ano antes pelo MP da Bahia para desarticular uma organização criminosa especializada em fraudes e desvios de dinheiro público que agia em cidades do Recôncavo, especialmente em Santo Amaro, durante a gestão do então prefeito Ricardo Machado (PT).
Ao longo da apuração, os investigadores da Adsumus que um conhecido empresário da axé music, Manoel de Andrade Barreto, teria operado propina desviada dos contratos com a prefeitura de Santa Amaro para a realização de shows e eventos festivos na cidade. À época, Bareto chegou a ser conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para prestar depoimento na quinta da fase da operação, iniciada em 6 de julho de 2017.