Depois de sofrer um prejuízo histórico em 2022, as operadoras de saúde lucraram R$ 3 bilhões em 2023, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Mas mesmo com esse melhor desempenho pós-pandemia, os usuários dos planos coletivos devem se preparar: a projeção é que o reajuste de 2024 fique na casa dos dois dígitos. Esta previsão vem de um relatório da XP Investimentos, com base em dados da ANS de dezembro de 2023 a fevereiro de 2024.
De acordo com o documento, o mercado de planos de saúde aumentou os preços em mais de 15% nos últimos meses. Enquanto Sula, Bradesco e Amil reajustaram seus planos em mais de 20% desde a metade de 2023, Hapvida e NotreDame Intermédica estão mantendo os preços nos níveis do mercado, pressionando a taxa para baixo. Apenas em fevereiro deste ano, a média do reajuste dos planos de saúde em Minas foi de 13,8%.
Espera-se que as políticas de precificação agressivas continuem acontecendo por pelo menos mais um ano no mercado de planos de saúde, à medida que as empresas buscam melhorar a sinistralidade, o que pode continuar limitando o crescimento do mercado, detalha o relatório.
O mercado de planos odontológicos apresenta um cenário diferente dos planos de saúde, com aumentos de preços consistentes na casa do dígito. No entanto, as empresas que oferecem ambos os tipos de planos têm reajustes muito mais elevados. Enquanto Hapvida teve aumento de 10,3%, Sula teve 20,2% e Amil 19,2%; no Odontoprev, exclusivo para saúde dentária, o aumento foi de 4,1% em fevereiro deste ano.
Em nota, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) esclareceu que o reajuste dos planos de saúde reflete a variação das despesas assistenciais e é fundamental para garantir a manutenção e o aprimoramento da oferta de assistência médica aos beneficiários. Entre os fatores que influenciam o reajuste estão a inflação da saúde, representada pela evolução do custo da assistência; a obrigatoriedade de oferecer tratamentos cada vez mais caros; a ocorrência de fraudes; e a judicialização.
A associação destaca que o setor de saúde suplementar enfrenta desafios específicos de custos e frequências de utilização, refletindo os aumentos das despesas médicas praticadas por diversos prestadores de serviços de saúde. Portanto, os reajustes são um indicador de uma inflação persistente na saúde, um fenômeno global.
Globalmente, a inflação da saúde é calculada com base nos preços de serviços e produtos médico-hospitalares e na frequência de uso. Segundo dados da consultoria internacional AON, a inflação médica no Brasil deve atingir 14,1% em 2024, uma taxa superior à média global de 10,1% e também maior que a inflação oficial prevista pelo Boletim Focus, de 4,03%.
A Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (Anab) informou que o reajuste dos planos de saúde coletivos é negociado anualmente visando ao menor impacto possível para os beneficiários. A entidade atua para garantir que os reajustes sejam os mais razoáveis possíveis, levando em consideração os diferentes desafios enfrentados pelas operadoras.
Os planos coletivos, empresariais e por adesão, atendem cerca de 50,9 milhões de pessoas no Brasil, aproximadamente 88,6% dos usuários dos serviços de saúde. O reajuste é anual e negociado entre as empresas e os contratantes, não sendo regulamentado pela ANS. A transparência nos reajustes é essencial para permitir que os consumidores questionem os aumentos impostos pelas operadoras.
Mariana Magalhães, pesquisadora do Idec, ressalta a importância da transparência nos reajustes dos planos de saúde coletivos e destaca que os consumidores muitas vezes ficam sem opção a não ser aceitar os aumentos abusivos nos contratos. A falta de clareza nos cálculos e a falta de regulamentação tornam os consumidores reféns das operadoras.
Mariana reforça a necessidade de uma regulação mais rígida para os reajustes nos planos de saúde coletivos, garantindo maior transparência nos processos e evitando abusos por parte das operadoras.
A luta por uma regulação mais justa dos reajustes dos planos de saúde coletivos segue em pauta, com organizações e entidades buscando garantir a proteção dos consumidores e a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar no Brasil.