Thiago Medeiros é sociólogo do RN. Foto: Cedida
O que esperar das eleições de 2024? É uma pergunta que pode ser recorrente entre os atores políticos, comentaristas e sociedade. O novo ano poderá trazer muitas surpresas, devido a expectativa da população em relação ao novo pleito. Ao AGORA RNo comentarista político e sociólogo Thiago Medeiros falou sobre as possibilidades para a disputa.
Para ele, as eleições municipais têm um aspecto muito peculiar ao próprio território. “Nós não podemos negar que no Brasil nós temos eixos de poder. Por exemplo, quando a gente olha, nós temos as duas figuras de posição política, ou digamos assim, bastiões políticos muito fortes, que é o Lula e o Bolsonaro. Então, esses dois grandes atores políticos, eles vão fazer diferença em diversas situações”.
“A disputa de 2024, quando você olha para o macro, para os partidos, o que ela representa? De conquista, as ramificações de poder vão olhar para 2026. Então, os partidos como PT, como PL, e os partidos de centro querem ampliar a sua base de prefeitos para dar substância nas eleições de 2026. Vão tentar nacionalizar essas disputas. Eu acho que não são todos os lugares que vão conseguir isso”, observou.
Em relação a Natal, Thiago comenta sobre o favoritismo de Carlos Eduardo e o seu respaldo na legenda que faz parte, o PSD, com possibilidade de maior representação através da construção de novas alianças ainda a serem fechadas. Para isso, avalia ser necessário tentar montar um grupo, algo considerado, pelo sociólogo, difícil para o ex-prefeito de Natal.
Thiago comenta que outra personagem importante na disputa é a deputada federal Natália Bonavides (PT), contando com o apoio do presidente Lula, colega de partido, e da governadora Fátima Bezerra. “Apesar da constituição mais conservadora do eleitor [natalense]Natália pode tentar se aproximar, sair mais do eleitor progressista, que é o eleitor que lhe deu vitórias para vereadora e para deputada federal, e partir para um eleitor mais de centro”, afirmou o comentarista, ressaltando a necessidade da pré-candidata reposicionar o discurso.
“Outro eixo também de poder importante é o candidato de Álvaro Dias, que pode surgir, realmente, do seu governo. E, aí, teoricamente, já se mostrou que nenhum deles tem grande força política. É um processo de construção política, ou seja, que leva tempo”, disse. “Ele tem outros nomes como, por exemplo, o próprio Rafael Motta, que também já é um nome com bom capital político e, através de aliança, pode chegar mais rápido em um numerador possível de, digamos assim, brigar”, complementou.
Avaliação da gestão de Lula
“Em 2023, o governo tinha um grande desafio que se perdurou durante todo esse primeiro ano, que era fazer as questões não só da reforma tributária, que caiu no colo do governo Lula, mas, também, lidar com as questões fiscais. Sabíamos que não tinha mais uma meta no teto de gastos, porque isso já havia sido abandonado durante os governos anteriores. Não funcionava. Nós tínhamos que ter uma nova ferramenta. Essa sempre é a dificuldade do governo do PT, que é, teoricamente, se alinhar com as expectativas do mercado”, relatou Thiago Medeiros.
Ele destaca o protagonismo do ministro da FazendaFernando Haddad, para executar as novas ferramentas fiscais e cita a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LOA), aprovada com a aproximação ao déficit zero.
Para o sociólogo, o governo Lula também se baseia nas políticas públicas sociais. Segundo Thiago, não estamos falando de um “governo espetacular”. “Também não era, porque ele precisava reconstruir, reposicionar, ele precisava destravar o país depois do governo Bolsonaro, mas é um governo que deixa o país com um olhar para um novo horizonte para 2024. Então, eu acho que 2023 é o ano de arrumar a casa”.
Brasil diante do cenário internacional
Thiago comenta que o governo Lula (PT) não conseguiu desempenhar um bom papel em relação à guerra da Ucrânia. “Ele sempre tentou se colocar nessa possibilidade de ser um elo entre os países, mas, de fato, diplomaticamente, não conseguiu encontrar essa possibilidade, assim como também foi em Israel, que o Brasil demorou, patinou naquele início nos reconhecimentos do que era o Hamas”, disse. No entanto, o comentarista aponta o Brasil com uma imagem melhor para o mundo exterior após a eleição do presidente petista.
“O Brasil passou muito tempo durante o governo Bolsonaro desalinhado com o mundo, principalmente com o aspecto da proteção ambiental, preservação, etc. E o país se isolou nos principais, digamos assim, meios de discussões internacionais. Eu acho que Lula faz esse processo de reconstrução muito bem. Um processo que exige estratégia diplomática de política externa muito forte, viajar bastante, tentar participar e tentar colocar o Brasil dentro desse cenário”, disse.