O Brasil se comoveu com as lágrimas do estudante Lucas Meireles, de 12 anos, que recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 no início da semana, em São Luís, no Maranhão. A capital maranhense começou a vacinar o grupo na faixa de idade de Lucas desde o dia 06 de agosto, tornando-se a primeira do país a imunizar pré-adolescentes. A perspectiva em Salvador é que o mesmo comece a ocorrer na próxima semana.
Os próximos da fila da vacina na capital são as pessoas de 12 a 17 anos, com comorbidades. Depois, será a vez do público geral dessa mesma faixa etária, com ou sem doenças graves. “Se tivermos vacina, a previsão é essa. Mas temos que acabar os de 18 anos”, explica o secretário da saúde de Salvador, Leo Prates, que falou sobre a possibilidade dos jovens começarem a receber os imunizantes a partir da segunda-feira (23). O recadastramento dos adolescentes no Sistema Único de Saúde (SUS) já pode ser feito. A expectativa é fazer o cadastro de 200 mil jovens, segundo a SMS.
A estudante Mariana Zurita, 14 anos, não vê a hora de receber a dose anticovid. “Estou muito ansiosa, porque vai melhorar bastante a pandemia, principalmente porque a galera mais jovem começou a vacinar agora. Tanto eu como meus amigos estamos muito ansiosos, até para voltar a fazer aquela resenha”, conta Mariana.
Ela ainda não voltou às aulas semipresenciais no colégio onde estuda, por receio. “Minha mãe não estava muito confiante para deixar eu ir. Mas, agora, vai ficar menos preocupada. A vacina ainda deixa preocupação quanto às variantes, mas, tendo a vacinação em massa, melhora muito”, relata.
Ninguém da família dela contraiu a covid-19 – que ela saiba – até então. Porém, sua rotina mudou ‘drasticamente’. “Em relação às amizades, parece que colocou uma peneira e ficou só quem realmente é amigo. O vício no celular aumentou, já que a gente fica o dia todo em casa e não tem nada para fazer e as aulas ead dão zero vontade de assistir, não é nada dinâmico. É muito ruim ficar assistindo pelo computador. Por isso que quero voltar, vai ser melhor para aprender”, completa.
Pioneira na Bahia
Salvador serpa a primeira cidade da Bahia a avançar para o público de 12 a 17 anos. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), nenhuma cidade concluiu a vacinação do público de 18 anos ou mais – requisito para que se avance à próxima etapa. Além disso, a Sesab informa que o Ministério da Saúde ainda não enviou doses específicas para essa faixa etária.
A estudante Maria Luiza Pithon, 17, também é uma das próximas adolescentes da fila. “Estou muito ansiosa e animada. No início da pandemia, todo mundo ficou um bom tempo assustado e fiquei na casa de praia isolada. Foi um ano muito difícil”, conta. Nem ela nem os pais ou avós se infectaram com o novo coronavírus.
Ela estava com um intercâmbio programado, em 2020, para os Estados Unidos. Só que a pandemia atrapalhou os planos. Esse ano, Maria Luiza cursaria o último ano do Ensino Médio, mas decidiu que não valia a pena. “Queria me formar com meus amigos, ter a vivência. Só que não valia a pena pelo online. Então, preferi entrar logo na faculdade. Fico triste porque achei que ia demorar mais tempo e eles já estão de volta ao colégio, usando máscara e seguindo protocolos”.
Estudante Maria Luiza está “ansiosa e animada” para se vacinar Crédito: Acervo Pessoal. |
Vacinar adolescentes ajuda a diminuir transmissão do vírus
O imunologista Celso Sant’Ana, professor da UniFTC, esclarece que é importante vacinar os adolescentes para diminuir a circulação do vírus. “É preciso vacinar adolescentes para diminuir a circulação do vírus de uma forma dramática, porque quanto maior sua circulação de vírus, maior a possibilidade de existir variantes potencialmente mais graves que a cepas originais”, esclarece Sant’Ana.
O segundo motivo que justifica a vacinação dos jovens é reduzir a transmissibilidade da doença. “As crianças são vetores importantes de transmissão de doença. Embora as características do seu sistema imunológico fazem com que elas tenham a doença, em maioria, em formas leves ou assintomáticas, salvo casos raríssimos de uma síndrome sistêmica, elas funcionam como vetor de manutenção do vírus na comunidade, uma vez que transmitem pelo contato com os pais, avós, etc”, argumenta.
O imunologista afirma que elas não foram prioridade justamente porque tinham menor risco de óbito do que as demais faixas etárias. “Como as crianças, no início, não demonstraram casos graves da doença, não foram colocadas na primeira posição da fila. Mas, agora, que os idosos e adultos foram vacinados, é importante vacinar, se não, vai haver um deslocamento da incidência em cima das crianças, com surgimento de mais casos, estatisticamente falando”, alerta.
A eficácia e aplicação da vacina não muda. Continua o mesmo intervalo entre as doses, com duas injeções. Por enquanto, somente a Pfizer, que fez estudos clínicos em adolescentes, está autorizada a ser usada por esse público. A eficácia dela para casos graves dentre as pessoas de 12 e 17 anos é de 100%. .
“A vacina mostrou 100% de eficácia contra o coronavírus na faixa etária de 12 a 17 anos, além de incidência muito baixa de efeitos colaterais. É difícil assegurar que que não tem possibilidade de contrair o vírus, mas, nos casos graves, a proteção verificada nos estudos, depois de 14 a 15 dias da segunda dose, é de 100%”, detalha o professor da UniFTC.
Recadastramento de adolescentes é feito no site da SMS
O recadastramento do SUS dos adolescentes está disponível no site da Secretaria da Saúde de Salvador (SMS) e é feito da mesma forma que o dos adultos e idosos. “A criança ou adolescente, morador de Salvador, ou o pai ou responsável, cadastra no site as informações atualizadas e vincula à uma unidade de saúde de preferência”, explica Ariovaldo Júnior, coordenador do Núcleo de Tecnologia da Informação da Secretaria da Saúde de Salvador (SMS).
É partir desse cadastro que o governo federal faz o repasse de verbas para a Saúde e Salvador planeja a estratégia de vacinação para o dia seguinte. Quem é de outra cidade, mas tem residência na capital baiana, pode fazer a transferência do cartão do SUS, em uma das 12 prefeituras-bairro, mediante agendamento. É necessário levar certidão de nascimento ou documento de identificação com foto, assim como comprovante de residência (conta de água, luz, telefone ou contrato de locação).
O cadastramento das crianças com comorbidades ainda está em aberto. Contudo, ele deve ser feito por um médico, com a mesma senha usada no Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). Até então, 3 mil jovens com comorbidades estão cadastrados no sistema da SMS.
Até o recebimento das vacinas, o cuidado deve ser mantido. “Torcermos para que mais pessoas possam se vacinar, principalmente com a presença das variantes. Mas sempre pedimos que, paralelo a vacinação, mantenha o uso de máscara, distanciamento, uso de álcool em gel, para termos segurança”, conclui Júnior.
Butantan pede uso da Coronavac para adolescentes
Além da Pfizer, que está autorizada para aplicar as vacinas contra covid-19 em pessoas entre 12 e 18 anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Coronavac está em análise. Segundo a Anvisa, o Instituto Butantan entrou, no dia 30 de julho, com um pedido para que o imunizante fosse aplicado entre crianças e adolescentes de 3 a 17 anos.
A eficácia nas pessoas desta faixa etária, segundo estudo publicado na revista científica Lancet, uma das mais renomadas do mundo, é de 96% após 28 dias da aplicação da segunda dose. Em adultos, a eficácia global é 50,7%. Os resultados foram obtidos por meio de ensaios clínicos de fase 1 e 2 com 552 participantes entre outubro e dezembro de 2020, realizado na província de Hebei, China.
Poucos casos de reação foram registrados – foram observadas de grau 1 e 2, ou seja, de leve a moderada. Apenas 1% dos voluntários apresentou reação adversa de grau 3. A maioria das reações adversas ocorreu em sete dias após a vacinação e os participantes se recuperaram em até 48h. As reações mais comuns foram dor no local da aplicação (13%) e febre (5%).
Ainda de acordo com a Agência Sanitária, o laboratório Janssen solicitou autorização para condução de estudo com menores de 18, no Brasil, o que já foi autorizado. “O andamento do estudo é de responsabilidade do laboratório e os resultados são apresentados para a Agência no momento em que o laboratório tiver dados que considere suficientes para solicitar a aprovação em bula para este público específico”, diz a Anvisa, por meio de nota.
Ela pontua, por fim, que a decisão de entrada de uma vacina no Plano Nacional de Imunização (PNI) não é competência da Anvisa, mas sim do Ministério da Saúde. Procurado, o Ministério da Saúde (MS) não respondeu até o fechamento desta matéria.
PAÍSES QUE JÁ VACINAM MENORES:
Estados Unidos – desde meados de maio vacina público de 12 a 15 anos com Pfizer
Canadá – também desde maio, para o público de 12 a 15 anos com Pfizer
Chile – desde 21 de junho vacina população de 12 a 17 anos com Pfizer
França – desde 15 de junho, vacina de 12 a 18 com Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen
Itália – desde junho vacina público de 12 a 15 anos com Pfizer
Reino Unido – desde 4 de junho vacina público de 12 a 15 anos com Pfizer
China – autorizou vacinação de 3 a 17 anos com Coronavac
Alemanha – autorizou em maio vacinação a partir de 12 anos com Pfizer
Espanha – autorizou vacinação anticovid em pessoas de 12 a 17 anos
Israel – desde junho vacina público de 12 a 15 anos com Pfizer
Japão – aprovou vacinação do público de 12 a 15 anos com Pfizer
Brasil – após a autorização da Anvisa, a vacinação de menores já ocorre em São Luis (MA), São Paulo (SP), Betim (MG), Campo Grande (MS), Niterói (RJ) e Guajará-Mirim (RO)
TIRA-DÚVIDAS DA VACINAÇÃO:
Qual vacina pode dar?
Até o momento, a Pfizer é a única vacina contra a covid-19 autorizada pela Anvisa para aplicação em crianças e adolescentes acima de 12 anos no Brasil;
Como é o efeito em menores?
A eficácia e aplicação da vacina não muda. Continua o mesmo intervalo entre as doses, com duas injeções. A eficácia da Pfizer para casos graves dentre pessoas de 12 e 17 anos é de 100%;
Há riscos?
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o organismo dos adolescentes reage positivamente à vacinação contra a covid-19. A vacinação nesse caso não deve preocupar os pais porque as vacinas introduzidas no PNI – no caso do Brasil, a da Pfizer – foram estudadas na pediatria e mostrou-se segura.
Tem reação adversa?
Segundo especialistas, o risco é semelhante ao dos adultos. Os efeitos mais comuns são sensibilidade, dor e inchaço no local da aplicação, dor no corpo e febre baixa. Algumas pessoas podem apresentar fadiga e calafrios;
*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro
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