O secretário municipal de meio ambiente de Belo Horizonte, José Reis, garantiu, na tarde desta quarta-feira (28 de fevereiro), que 688 árvores serão plantadas na região da Pampulha até o início de agosto. A medida é uma compensação ao corte de 63 árvores que está sendo feito no entorno do Mineirão para a realização da Stock Car. De acordo com ele, na sexta-feira (1 de março), já serão plantadas mais de 60 na avenida Presidente Carlos Luz. “Essas novas plantas têm requisito mínimo de tamanho de 2,5m. Será uma pequena árvore”, afirma.
Os locais específicos de plantio de todas as árvores ainda não foram definidos. Segundo Reis, isso vai depender de fatores como espaçamento de calçadas e avenidas e das espécies mais indicadas para cada lugar. A empresa responsável pelo evento ficará a cargo da manutenção das plantas durante cinco anos.
O superintendente da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Henrique Castilho, ressaltou que a retirada das árvores é necessária para garantir a segurança dos pilotos e da população. Ele lembrou que a Stock Car é um evento muito importante, que contribuirá de diversas maneiras com Belo Horizonte.
Além disso, Castilho afirmou que tudo está sendo feito de maneira legal, responsável e segura. As expectativas, segundo ele, são de movimentar restaurantes, hotéis, bares e trazer mais visibilidade para a capital, atraindo turistas. “Quando tiver o evento, todo mundo vai entender que BH está conseguindo ter a Stock Car”, disse ele, lembrando que esse é o anseio de diversas cidades pelo país.
Protestos
Apesar das promessas da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), diversas pessoas, como ambientalistas, biólogos e moradores da região da Pampulha protestam contra o corte de árvores. As ações de retirada das plantas tiveram início nesta quarta-feira, e manifestantes marcaram presença no local, prometendo até mesmo fazer uma vigília para impedir o ato. O corte foi interrompido, mas deve continuar nos próximos dias.
Christina Malm, diretora do hospital veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que os prejuízos com os cortes da árvore serão grandes e vai afetar, inclusive, os animais. “É um absurdo. A região tem residências, casas de repouso e o hospital veterinário. A gente recebe pacientes de pequeno e grande porte e tem atendimento 24 horas por dia, 7 dias por semana. É uma região hospitalar onde a gente precisa ter silêncio. A corrida vai gerar um ruído muito alto”, diz ela.
A aposentada Maria de Fátima Ramos, de 64 anos, diz que não há nada que a faça defender a Stock Car na região. “Cheguei aqui para protestar e vi as árvores no chão. Cheguei perto de uma e ela ‘sangrava’ de tão viva que estava. É um sentimento de revolta, de tristeza”, diz ela.
A bióloga Maria Tereza Coutinho, de 68 anos, destacou que a cidade precisa de árvores, em vez de elas estarem sendo cortadas. “As perspectivas que temos em termos ambientais são as piores possíveis. Se a gente não começar a fazer isso agora, nós vamos salvar o que depois? Estou aqui por causa do aquecimento global, da guarda dessas árvores. Aqui não é lugar para fazer esse tipo de evento”, diz ela.
Entenda
Apesar da polêmica envolvendo a retirada de 63 árvores do entorno do Mineirão para realização de uma corrida de Stock Car, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) iniciou, nesta quarta-feira (28 de fevereiro), uma operação para realizar os cortes. Dezenas de árvores já foram derrubadas, o que gerou a indignação de moradores da região e ambientalistas. Para protestar, eles usaram os troncos cortados para fechar avenidas no local.
O ambientalista Felipe Gomes é um dos que marcaram presença no local tentando evitar o que ele chamou de “operação de guerra” da prefeitura para fazer os cortes. “Acredito que já foram cortadas cerca de 20 árvores. A Prefeitura está fazendo uma operação de guerra. Para enganar todo mundo, estão com caminhões para retirar as árvores cortadas imediatamente. Mas a população está revoltada aqui, colocamos árvores no meio da pista e vamos abraçar as árvores se for preciso, não vamos deixar continuarem”, reclamou.
Ainda segundo ele, a PBH deveria ter realizado uma consulta pública antes de iniciar os cortes. “Amanhã (quinta-feira, 29) acontece uma reunião do Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) e uma das conselheiras apresentaria um recurso para tentar impedir os cortes. Acreditamos que a prefeitura está atropelando isso, adiantaram o corte para evitar qualquer mudança”, completou o ambientalista.
Outro ponto bastante criticado pelas pessoas que são contra os cortes é o barulho dos carros de corrida, o que incomodaria e poderia até causar a morte de animais que vivem em áreas verdes na região e que estariam internados no hospital veterinário da UFMG, que fica próximo ao local da prova. Além disso, também foi levantado o fato de a PBH ter uma reunião marcada com a reitora da UFMG, Sandra Almeida, e, ainda assim, ter iniciado os cortes “às pressas”.
Na noite de terça-feira (27), a PBH fez uma publicação nas redes sociais em que chamava de “fake” a afirmação de que BH irá perder muitas árvores. “Serão plantadas 688 novas árvores e a empresa produtora do evento será responsável pela sua manutenção durante 5 anos”, detalhou a postagem.
“Temos a liberação de todos os órgãos”, diz superintendente da PBH
Ouvido nesta quarta-feira pela reportagem de O TEMPOo superintendente da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Henrique Castilho, garantiu que o município já tem todas as autorizações necessárias para o início da supressão das árvores.
“Nós temos a liberação de todos os órgãos necessários para poder fazer o corte. Com isso, foi feita a licitação para dar ordem de serviço o que foi publicado um Diário Oficial do Município”, afirmou. O superintendente também comentou o encontro com a reitora. “Chegou agora para mim um documento da reitoria da UFMG pedindo uma reunião com o prefeito. Essa reunião vai ser marcada no momento que ela quiser, e o prefeito Fuad Noman vai recebê-la com o maior prazer”, completou Castilho.
Sobre o barulho que poderia incomodar os animais, ele explicou que um professor da UFMG apresentará em breve um projeto de “barreiras de som”, para reduzir este impacto.
Ainda conforme o superintendente, as 688 árvores que serão replantadas pela empresa serão entregues pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que selecionará quais espécies. Além disso, elas não serão plantadas necessariamente no local de onde estão sendo retiradas, mas em outras áreas verdes da região da Pampulha.
“Elas serão plantadas em áreas verdes, microflorestas nos parques da regional da Pampulha. Isso vai ser determinado pela secretaria de meio ambiente”, explicou.