Depois de O TEMPO publicar a denúncia de que um dos suspeitos de envolvimento na morte do sargento Dias sofreu retaliações e agressões de policiais penais no presídio Inspetor José Martinho Drummond, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, a Associação Mineira dos Policiais Penais e Servidores Prisionais (AMASP) negou, nesta terça-feira (12), a ocorrência de tortura contra detentos no sistema prisional de Minas.
De acordo com Luiz Gelada, presidente da entidade, os profissionais penitenciários não fazem distinção entre os detentos e agem de acordo com o Estado Democrático de Direito. Ele também assegura que existe uma suposta proteção por parte dos demais detentos para aqueles que chegam à prisão acusados de assassinar um policial militar.
“Os policiais penais tratam com respeito todo e qualquer criminoso. Não fazemos avaliações com base no crime cometido. Na verdade, quando esse criminoso chega na prisão, ele é tratado como um herói. Ele é protegido pela própria bandidagem dentro da unidade prisional. O próprio crime o defende”, disse Gelada.
Questionado sobre a possibilidade de abusos, mesmo que de forma isolada, por parte de policiais penais contra os detentos em momentos em que os agentes estão a sós com os presos, Gelada afirmou que os detentos ficam isolados apenas em casos de punição.
Precariedade
Gelada reclamou da precariedade do sistema prisional de Minas, com falta de profissionais. A reportagem perguntou se, diante dessa situação de sobrecarga, poderia acontecer algum caso isolado de abuso por parte de algum agente contra os detentos. Ele mais uma vez negou a denúncia. “O sentimento de revolta como cidadão e como policial pode surgir, mas nós que vivemos em um Estado Democrático de Direito não podemos aceitar”, afirmou.
Com cerca de 60.000 presos e 172 unidades, o sistema prisional de Minas Gerais conta com aproximadamente 17.000 agentes, sendo 2.500 deles trabalhadores temporários, segundo Gelada. Ele defendeu a necessidade de aumentar o número fixo de agentes penais para pelo menos 25.000.
“O sistema carcerário de Minas está em condições precárias. O governador Romeu Zema não investe. Ele faz um marketing enganoso. Não cria novas vagas. Não realiza concursos e não convoca os excedentes do último concurso”, concluiu.
A reportagem entrou em contato com o governo de Minas e aguarda um posicionamento.
Barril de pólvora
O TEMPO mostrou, em novembro do ano passado, que práticas de tortura, espancamentos, ingestão forçada de detergente, ameaças, estupros e falta de assistência médica e psicológica são uma realidade em parte do sistema prisional de Minas Gerais. Entenda mais sobre o assunto aqui.