As ações da Petrobrás registraram queda de mais de 10% nesta sexta-feira 8, após a estatal ter divulgado queda no lucro de 2023 e decidido não pagar dividendos extraordinários, frustrando o mercado. Os papéis preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras caíram 10,57%, enquanto os ordinários (com direito a voto) recuaram 10,46%.
Com isso, a petroleira amargou perda de R$ 55,7 bilhões no pregão desta sexta. No pior momento, as preferenciais recuaram 13,1%, e as ordinárias caíram 14%, representando uma perda de R$ 72,7 bilhões.
No exterior, os ADRs (recibos de ações brasileiras negociadas nos EUA) da Petrobras caíam 11,50% no início da noite.
A companhia anunciou na noite de quinta-feira 7 que encerrou 2023 com lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, numa queda de 33,8% em relação aos R$ 188,3 bilhões registrados em 2022. Apesar da diminuição, o número veio em linha com o esperado pelo mercado e seguiu o observado nos resultados de outras petroleiras globais.
O que pesou, no entanto, foi o anúncio de distribuição de dividendos. A estatal frustrou o mercado ao comunicar que o conselho de administração recomendou remuneração de R$ 14,2 bilhões aos acionistas, sem dividendos extraordinários.
No fim da tarde, a agência Reuters noticiou que a decisão do conselho partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que o governo use para investimentos o dinheiro que seria destinado à remuneração extra aos acionistas. As ações da Petrobras voltaram a acentuar queda após a notícia.
O diretor financeiro da companhia, Sergio Caetano, afirmou, no entanto, que os dividendos extraordinários retidos não serão redirecionados para investimentos e reforçou que a finalidade da decisão é assegurar recursos para o pagamento de dividendos, juros sobre capital próprio, suas recomendações e recompras de ações.
Analistas do Itaú BBA destacam que investidores já esperavam maior cautela da companhia no pagamento de dividendos, mas a projeção era que a Petrobras pagasse cerca de R$ 22 bilhões em dividendos extraordinários.
“O consenso era que os dividendos extraordinários ficassem entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões (R$ 14,9 bilhões e R$ 24,9 bilhões), e a decepção do mercado deve aumentar preocupações entre investidores sobre o futuro da alocação de capital da empresa”, diz o BBA.
Após o anúncio da petroleira, o Bradesco BBI rebaixou sua recomendação sobre a Petrobras para “neutra”. Para o banco, o retorno de dividendos da Petrobras deixou de ser atrativo em relação aos seus pares globais e que o anúncio traz incertezas sobre a política de dividendos da companhia, que, na visão dos analistas, costumava ser bastante clara.
O Santander também rebaixou para “neutra” a recomendação para papéis da petroleira, afirmando que a companhia continua forte, mas que, sem dividendos extraordinários, não há catalisadores para uma possível alta dos papéis.
“Acreditamos que fundamentos sólidos prevalecerão novamente no futuro, especialmente se a Petrobras prosseguir uma estratégia de transição energética lenta. No entanto, mais clareza sobre a estratégia de curto prazo é necessária para uma visão mais otimista sobre a ação”, afirma o banco.
Na mesma linha, o Bank of America também cortou para “neutra” a recomendação para o papel, afirmando que a valorização das ações deve ser conduzida justamente pelos retorno de dinheiro aos acionistas. Com diminuição de dividendos e o aumento da percepção de risco da Petrobras, a recomendação de compra perdeu espaço.
Já analistas do BTG Pactual afirmam que a decisão do conselho de administração de reter uma parcela dos lucros da companhia não pagar dividendos extraordinários devem aumentar a percepção de risco sobre a Petrobras.
Com informações do jornal Folha de São Paulo