Adriana Lara, de 49 anos, faz um pouco de tudo para pagar as contas: faz faxina, vende bombons, produz marmitas e, há mais de dez anos, passou a fabricar também ovos de Páscoa caseiros. No ano passado, foram 125 unidades e um lucro 5% maior em relação a 2022. Neste ano, a expectativa dela é aumentar seu faturamento. Adriana, assim como muitas outras mulheres de Belo Horizonte, aproveitam a data para fazer uma renda extra. “É o Natal do Confeiteiro”, explica Daniele Costa Neves, de 48 anos, conhecida como Dani Formigueiro, que atua há 22 anos no segmento. A empresária acabou de realizar em BH mais uma edição do Confeitar Minas, um dos maiores eventos de confeitaria do país. Em três dias, 2.500 pessoas passaram pelo Minascentro para conferir palestras, workshops e aulas gratuitas.
Dani é categórica ao afirmar que, mesmo diante de matérias-primas cada vez mais caras nos últimos anos, ainda vale a pena fazer ovos caseiros para a Páscoa. Segundo Dani, a barra de chocolate utilizada na produção de ovos já teve um reajuste de 20% a 30% neste ano e a expectativa é que os valores fiquem mais salgados à medida que a festividade for se aproximando. “Mesmo com o reajuste dos preços, a margem é muito boa”, explica. Ela revela que um investimento de R$ 100 pode virar R$ 300 ou até R$ 400. “Tem gente que compra até carro com dinheiro de Páscoa. É o melhor retorno do ano”, afirma a confeiteira.
Desde o ano passado, o preço do cacau tem disparado no mercado internacional devido às mudanças climáticas, o que tem afetado o preço do chocolate no mundo todo. No Brasil, o quilo do insumo no Pará, maior produtor do país, que custava R$ 12,90 em fevereiro do ano passado, chegou a R$ 23,20 no início do mês, um aumento de quase 80%.
Ovos de colher são os preferidos dos clientes. Foto: Fred Magno/O Tempo
Ovos de colher: os queridinhos
Diante de ovos industrializados cada vez mais inflacionados, os caseiros acabam ganhando espaço e conquistando clientes ao passar pelo crivo da balança custo x benefício. Para Dani Formigueiro, há alguns anos, o público via com desconfiança os artesanais porque o mercado tinha disponível apenas uma cobertura sabor chocolate, com muita gordura hidrogenada, que dava o gosto de “parafina” ao produto de fabricação caseira. “Hoje tem chocolate de qualidade para comprar. Os clientes estão confiando mais. E quando fazemos ovo de colher ou trufado, a indústria não consegue acompanhar”, detalha.
O ovo de colher é, justamente, o mais procurado pelos clientes de Ângela Oliveira, que desde 2017 começou a fabricar bolos, doces e salgados em casa, enquanto cuidava de quatro filhos, sendo três deles ainda menores de 5 anos de idade. Os recheios variam entre tradicionais e gourmets, como brigadeiro, ninho, nutella, morango e ferrero rocher.
No ano passado, ela não conseguiu produzir porque estava cuidando da sua filha recém-nascida, mas em 2022 ela teve uma margem de lucro de até 100% e vendeu 20 ovos de colher e 80 mini-ovos. “Dobram minhas vendas. Foi o mês que eu mais vendi”, explica a confeiteira que, ao longo do ano, tem nos bolos de merversário seu faturamento principal.
Além dos ovos de colher, Ângela deve investir em produtos para o público infantil, coloridos e com incremento de balas populares, como a Fini. Mas para manter sua margem de lucro neste ano, ela precisará reajustar seus preços. Em 2022, a confeiteira vendeu o ovo de colher de 250 g a partir de R$ 35 e os ovinhos a R$ 7. “Vou ter que aumentar. O chocolate que uso dá o triplo de trabalho porque tem que fazer a temperagem. A linha nobre está muito cara. O chocolate fracionado, que muitas pessoas utilizam, não é chocolate. O que eu uso é nobre, com manteiga de cacau mesmo, e está R$ 10 (kg) mais caro do que no ano passado. O branco chega a R$ 15 [a diferença]”, lamenta.
Adriana Lara também preza por utilizar produtos de qualidade para fazer seus produtos de Páscoa: “tem que usar coisa boa para ter cliente sempre”, explica. Segundo ela, a diferença de R$ 2 ou R$ 3 que a doceira pode conseguir ao comprar um leite condensado mais barato para um recheio não vai compensar o risco de perder a clientela fiel.
Além de comprar material de boa procedência, Adriana costuma antecipar suas compras, além de conferir promoções em supermercados e em lojas de artigos de festa. “Eu tento fechar as encomendas um mês antes, pego 50% do dinheiro e compro de 20 a 30 barras de chocolate. Se você coloca o ovo num preço e, em cima da hora, o chocolate está mais caro, como vai aumentar o valor que já passou para o cliente?”, explica.
Para este ano, além dos ovos de colher, ela vai investir no kit com três ovos menores, uma demanda que percebeu que existia entre aqueles que queriam dar apenas lembrancinhas aos funcionários, num gesto simbólico.
Outra observação que os anos de confeiteira lhe deram é que sempre tem aquele cliente que deixa para fazer o pedido em cima da hora. Pensando neles, ela planeja a quantidade de insumos com uma “gordurinha” de sobra. “Tem que ter reserva de chocolate, de recheio, se não perde venda”, explica Adriana.
Além de ovos, bolos, biscoitos e bombons temáticos têm venda garantida durante a Páscoa. Foto: Fred Magno/O Tempo
Páscoa de ovos, bolos e biscoitos de chocolate
Para Dani Formigueiro, não somente de ovos de chocolate é feita a Páscoa. Há espaço para todo tipo de delícia. “Tem muitas lembrancinhas, como biscoitos decorados, que vendem muito, em formato de coelhinho. Quem trabalha com bolo caseiro, pode investir naqueles de cenoura com cobertura de chocolate. Mas se você faz brigadeiro, brownie, cone trufado, pode começar com o que tem”, explica.
A empreendedora acredita que ainda há oportunidade de lucro no segmento, mesmo diante da maior concorrência de outros confeiteiros, porque cada trabalho artesanal é personalizado e exclusivo. “O importante é começar e começar certo”, diz Dani Formigueiro.
Em 2024, a confeiteira acredita que os ovos de pistache e o ovo pudim vão continuar como uma tendência forte de vendas. “Isso a indústria não consegue produzir”, explica. Outra aposta é a linha infantil, até então um segmento pouco explorado pelas confeiteiras. “Antigamente, a mãe pagava mais caro num ovo por causa de um brinquedo de determinado personagem. Hoje conseguimos fazer o kit confeiteiro, em que a criança monta seu próprio ovo, ou até fazer com personagens da moda”, destaca.
10 Dicas para fazer uma renda extra na Páscoa com ovos caseiros:
- Aprenda as técnicas para fazer um produto de qualidade
- Tenha asseio: faça os ovos dentro das normas de vigilância sanitária
- Planeje quanto vai gastar de material
- Faça pesquisas de preço dos insumos
- Degustação não é gasto e pode converter em vendas
- A embalagem valoriza o produto, invista!
- Tire boas fotos para vender bem seu produto, mesmo que seja do seu celular
- Invista no marketing. Pode ser no WhatsApp, Instagram, Facebook ou tráfego pago
- Aprenda a precificar o seu produto, não se baseie apenas nos preços da concorrência. O Sebrae tem muitos conteúdos sobre o tema
- Fique de olho no promissor mercado corporativo
Fonte: confeiteiras entrevistadas pela reportagem de O Tempo.
Conheça o trabalho das confeiteiras: