A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e a Polícia Civil de Minas Gerais estão investigando pelo menos 13 mortes em dois presídios de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, que ocorreram desde dezembro do ano passado. Sete dessas mortes aconteceram nos últimos dez dias. De acordo com a Sejusp, a causa dos óbitos é uma suposta overdose causada pelo uso de entorpecentes da família “K”. Essa droga tem conseguido passar pela segurança dos presídios, sendo imperceptível a olho nu quando borrifada em papel ou diluída em tecidos e outros objetos.
A gravidade da situação já havia sido destacada pelo Super em uma reportagem especial há cerca de um ano, mostrando como o sistema prisional se tornou rota para essa nova droga antes dela se espalhar pelas ruas. Desde então, a situação está fora de controle, de acordo com um agente penal que trabalha no presídio Nelson Hungria, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, um dos maiores de Minas. Ele afirma que praticamente todos os presos consomem esse tipo de entorpecente e que o número de mortes certamente é muito maior do que o reportado.
O agente penal relata um aumento significativo no número de presos que precisam ser levados à UPA devido a mal-estar relacionado ao uso das drogas “K”. Ele também aponta que as consequências do consumo ultrapassam os danos à saúde, com muitos detentos ficando agressivos ao fazer uso da droga e causando desordem, o que leva a brigas entre os presos e resultando em mortes. Esse cenário mostra a falta de preparo dos policiais penais, já que a Sejusp não oferece capacitação ou orientação para identificar e evitar a entrada das drogas nos presídios.
O relato do agente penal foi confirmado pelo Sindicato da Polícia Penal de Minas Gerais (Sindppen-MG), que ressaltou a ausência de treinamento específico para lidar com essa droga no sistema prisional. Em nota, a Sejusp informou que está investigando todas as mortes e ressaltou a importância de prevenir a entrada de materiais ilícitos nos presídios. A secretaria também mencionou que está em processo de implementação de uma campanha interna sobre os malefícios do consumo de álcool e drogas em parceria com a Subsecretaria de Políticas sobre Drogas.
Sobre a demanda por mais treinamentos, a Sejusp destacou os investimentos do governo de Minas na capacitação dos servidores, incluindo a criação da Academia Estadual de Segurança Pública (AESP). De acordo com a pasta, desde 2021, mais de 20 mil profissionais passaram por cursos e treinamentos, com foco especial nos policiais penais. Essas ações visam fortalecer o trabalho de prevenção e garantir a segurança nos presídios.