Pescadores denunciam que a Prefeitura quer desocupar o prédio da Colônia/ Créditos: Ney Douglas
Localizado em um dos bairros mais antigos de Natal, nas Rocas, o Canto do Mangue é tradicionalmente conhecido pela atividade pesqueira. O local apresenta uma grande concentração de pequenas embarcações, pertencentes aos pescadores do comércio da região.
No Canto do Mangue, existe há anos a sede da Colônia dos Pescadores Z4, coordenada por Rosângela Nascimento. Denúncias recentes indicam que a Prefeitura do Natal está pressionando para que a organização abandone o prédio. De acordo com a gestão municipal, o pedido de desocupação é para que sejam realizadas obras de urbanização e reestruturação.
A Colônia dos Pescadores Z4 foi fundada em 1922 com o objetivo de garantir os direitos dos pescadores presentes no local. De acordo com a presidente Rosângela, acontecem na sede atendimentos relacionados a documentações e outras questões da atividade pesqueira que precisam de acompanhamento constante.
“Somos uma instituição centenária e a Colônia foi fundada por Café Filho. Ele foi nosso primeiro presidente e deixou a direção para se tornar presidente da República”, contou Rosângela. A saída do prédio, para ela, já é um desrespeito histórico.
Porém, há ainda mais um problema: a nova sede da Colônia ainda não existe. Um terreno foi oferecido pela União, próximo ao Museu da Rampa e ao Mercado do Peixe. No entanto, a Prefeitura do Natal quer indenizar os pescadores para que eles mesmos construam o novo prédio.
“Minha briga é essa. Se eles vão nos tirar de um lugar, deveriam entregar outro pronto, e que seja no Canto do Mangue. Sabemos que, hoje em dia, até o pão que você compra muda rapidamente de preço, o que pode inviabilizar a questão da construção por nossa parte”, explicou Rosângela.
Os trabalhadores demonstram insatisfação com a Prefeitura em relação à forma como estão tratando a situação. O pescador Izaqueu do Nascimento, de 53 anos, se sente impossibilitado de fazer algo para contornar a situação. “Vão tirar o restante dessas casas aqui, vão tirar tudo. O poder público vai tirar tudo. Isso é coisa muito errada, mas a gente que é pobre não pode fazer nada”, afirmou.
A sede da Colônia foi construída pelos próprios moradores nos anos de 1920, segundo a Prefeitura, após receberem a autorização para ocupar a área. Em relação a construção da nova sede, a Secretaria de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes (Seharpe) afirma que ainda está em negociação com os moradores. Por isso, deve acontecer, até o fim deste mês, uma nova reunião para tratar sobre o assunto.
Reestruturação.
O projeto de urbanização e reestruturação da região das Rocas foi iniciado ainda em 2005 pela gestão municipal. Em 2016, a Prefeitura do Natal transferiu os moradores da região do Maruim, no Canto do Mangue, para um novo empreendimento residencial, na Ribeira. No local das antigas moradias, agora haverá a construção de um complexo comercial, com três galpões destinados aos pescadores, marisqueiras, descascadores de camarão e comerciantes locais.
Até então, as obras em um dos galpões foram iniciadas e estão na fase final. A reestruturação tem previsão para ser finalizada em 2023.
Segundo a Seharpe, a obra da construção do complexo comercial tem como objetivo promover melhores condições de vida para os pescadores e aumentar o comércio do Canto do Mangue. “Eles vão ter uma condição de infraestrutura muito melhor. É um benefício, porque será uma estrutura que hoje em dia não tem”, frisou a secretária adjunta da pasta, Shirley Cavalcanti.
rumores.
Circula entre os pescadores da região o boato de que o poder público pretende retirar os trabalhadores do Canto do Mangue, onde eles pescam. Contudo, conforme Rosângela, são apenas rumores. “Por enquanto, pelo menos, ninguém pode retirar os pescadores do local. Nós temos um processo aberto, junto à União, para que a gente consiga a concessão para uso e trabalho no Canto do Mangue”, pontuou.