Governadora do RN Fátima Bezerra. Foto: José Aldenir
A justificativa apresentada pelo governo do Estado para que Fátima Bezerra (PT) usasse recursos públicos (diárias e passagens aéreas) para ir a São Paulo no dia do casamento do ex-presidente Lula (PT) é muito frágil.
Vamos combinar, caro leitor, que é coincidência demais que uma agenda administrativa da governadora, em tese marcada com antecedência, tenha caído no mesmo dia de uma agenda particular.
Todas as evidências apontam no sentido de que o compromisso formal de Fátima em São Paulo foi um mero pretexto para que a governadora não tirasse do próprio bolso os custos de sua ida ao casamento de Lula.
A própria agenda formal em si é questionável. Fátima foi a São Paulo para entregar uma medalha ao presidente da Fiesp, Josué Gomes. Além disso, a governadora tratou da 2ª edição do evento “RN Investe”.
Em que pese a importância da pauta e da representatividade da Fiesp para a promoção de eventos na área do desenvolvimento econômico, apenas esse compromisso não justificaria o deslocamento da governadora.
Trata-se de uma agenda que poderia, perfeitamente, ter sido deslocada para outro momento, dentro de uma rota de compromissos da governadora em São Paulo.
Mas, mesmo que a ida da governadora à Fiesp fosse imprescindível, trata-se de um enorme erro estratégico aproveitar a carona de uma viagem oficial para fazer passeio e lazer. E, no fim das contas, o que o contribuinte do RN pagou foi para a governadora prestigiar um aliado político em um casamento.
Até porque a diária de Fátima se estendeu até o dia seguinte do matrimônio, quando a petista poderia ter retornado no mesmo dia para Natal, após a reunião com o presidente da Fiesp.
Do ponto de vista da estratégia política, trata-se de um desgaste desnecessário para a governadora. Uma diária de hotel e uma passagem aérea para São Paulo é muito pouco para a governadora. O salário que ela recebe poderia muito bem bancar tal compromisso privado. Fátima poderia ter passado sem essa.
Do ponto de vista legal, o ato também é questionável. Usar recursos públicos em prol de uma atividade particular não é correto – o que mereceria maior apuração por parte do Ministério Público. Em outros tempos, aliás, algum promotor já teria aberto inquérito civil para apurar a conduta do governador? Por muito menos apurações rigorosas foram instaladas.
Vale lembrar que, nesta semana, o deputado estadual Nelter Queiroz sugeriu que promotores fazem ouvidos de mercador para malfeitos do governo de olho em uma promessa de vaga no Tribunal de Justiça – que caberá a Fátima indicar. Aqui está um bom exemplo para o MP provar sua independência.
A manobra de Fátima também suscita uma reflexão. Se a governadora trata a verba pública de menor monta assim, que atenção dará Fátima a movimentações mais vultosas de recursos?