Sim, a crítica brasileira, de uma forma geral, adorou o novo O Esquadrão Suicida. No Imdb, site que reúne uma grande comunidade cinéfila, o filme está com uma nota 8. No Rotten Tomatoes, a produção da DC ComicsWarner tem uma média de 97% de aprovação entre os críticos, algo absolutamente incrível. Para se ter uma ideia, está acima até de Pantera Negra, que se tornou um clássico contemporâneo e obteve 96%.
Mas, como dizia Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. E o jornalista que assina este texto está aqui para contrariar mesmo. Então, vamos à história: um grupo de anti-heróis vive numa prisão de segurança máxima nos EUA e é recrutado para uma missão secreta numa ilha fictícia chamada Corto Maltese, que vive sob uma ditadura e pode até ser interpretada como uma analogia a Cuba. Lá, os protagonistas devem encontrar um programa militar e um inimigo que ameaçam (adivinhe só!) a soberania americana.
E a velha fixação dos americanos em dominar o mundo – ou salvá-lo – está de volta às telas, como já vimos inúmeras vezes. Não bastasse o argumento de sempre, os anti-heróis tem poderes patéticos. Primeiro, um tal Bolinha (David Dastmalchian), um homem que tem traumas da mãe, a enxerga por todos os lados e solta bolas coloridas como tiros fatais. Tem também a Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), uma mulher que controla ratos com o auxílio da mente e os tem como aliados na hora de enfrentar os inimigos.
Drama superficial
Tem também o Sanguinário (Idris Elba), um terrível assassino que tem um mira muito precisa e é impiedoso contra os inimigos. Ah, e para ter mais um clichê, ele é um pai ausente que quer se redimir com a filha. Uma surpresa: apesar de não pensar duas vezes antes de matar alguém, ele morre de medo de… ratos, claro, afinal precisava de um pretexto para tornar impossível o convívio com a nova colega, Caça Ratos.
E esta fobia que ele tem vem de um trauma de infância. Roteiristas de HQs adoram, numa tentativa de “humanizar” seus personagens – ou para torná-los mais “complexos”, como gostam de dizer -, criar traumas para as figuras que criam, como se fosse fácil assim encontrar razões tão claras para o comportamento humano. Fosse tão simples, Freud não teria criado a psicanálise.
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Alice Braga é Sol Soria |
Ok, talvez eu esteja exigindo demais de um filme que pretende apenas divertir. O problema é que ele não diverte. É o mesmo amontoado de cenas “de tirar o fôlego” e as velhas piadas fora de hora que insistem em colocar para dar o tal “alívio cômico”, como gostam de dizer por aí. Piadas sem graça, diga-se. O problema é também que elas destoam completamente do filme, que em vários momentos se pretende “sério”, com críticas políticas rasas e umas leves alfinetadas à megalomania americana. São 2h06 sem nada diferente do que você já viu em outros filmes do gênero.
Mas alguma coisa se salva? Sim, a trilha sonora é mesmo bacana: muito rock pesado e tem presença brasileira, com Marcelo D2, Glória Groove e Céu. O Brasil também está representado por Alice Braga, no papel de Sol Soria, uma nativa que quer libertar Corto Maltese da ditadura.
Tem também Sylvester Stallone, que dá voz a um Tubarão que integra a turma de anti-heróis. Não, isso não quer dizer que Stallone seja um bom ator. Mas parece apenas que este é o papel adequado para ele, que, nas telas, é tão expressivo quanto um tubarão. E tem a divertida Arlequina (Margot Robbie), que ficou bem psicodélica sob a direção de James Gunn, o mesmo de Guardiões da Galáxia, que também trata de anti-heróis, mas da Marvel.
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