Protagonizada pelos atores mineiros Selton Mello e Letícia Sabatella, trama marca a volta das novelas totalmente inéditas desde que a pandemia começou
Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Habsburgo. Tão longo quanto o nome de batismo de dom Pedro II (1825-1891) foi o processo de produção de “Nos Tempos do Imperador”.
A nova trama das 18h da Globo finalmente estreia nesta segunda (9) após ter sido adiada algumas vezes, inclusive com a interrupção de gravações em março de 2020, quando a pandemia chegou ao país. Assim que “Novo Mundo”, folhetim de Alessandro Marson e Thereza Falcão e que tinha como pano de fundo o Primeiro Reinado, terminou, em setembro de 2017, os autores já começaram a vislumbrar a sequência.
“A gente começou a trabalhar nessa produção já naquela época. Foi uma solicitação da própria Globo. Brinco que estou me sentindo como o Raimundo Lopes (autor de ‘Redenção’, novela da TV Excelsior levada ao ar entre 1966 e 1968, famosa por ser a mais longa da história de nossa televisão, com 596 capítulos). E pela primeira vez vamos entregar uma novela praticamente pronta antes mesmo de estrear, apesar de faltarem poucas cenas para gravar. É uma novela híbrida. “Começou (a ser escrita) antes da pandemia e foi finalizada durante a pandemia”, explica Marson.
E, por ser uma espécie de sequência de “Novo Mundo”, o foco agora é em dom Pedro II. A outra autora, Thereza Falcão, ressalta a importância do monarca, que foi o governante que mais tempo ficou no poder no país (48 anos) e ainda é uma figura muito querida pelos brasileiros. “Era um homem admirável, que tinha uma preocupação com a educação, com a cultura, com a ciência”, frisa ela, lembrando que “Nos Tempos…” vai apresentar um Brasil mais definido. “A novela chega, historicamente, até a Guerra do Paraguai (1864-1870), trazendo movimento e aventura para a trama. Conseguimos também chegar a um lugar diferente, com personagens negros livres, complexos e que procuravam por sua abolição. Vamos mostrar essa conquista, que não foi apenas resultado de uma canetada”, complementa Thereza.
No entanto, a autora frisa que “Nos Tempos do Imperador” não é uma trama “chapa-branca”. “Temos que entender aquele contexto. Ele (dom Pedro II) é um homem do século XIX. Abordamos os impeditivos que levaram a não haver abolição naquele momento. Ele era abolicionista, mas não era o imperador que fazia as leis. A gente coloca também a questão da Guerra do Paraguai, que não foi fácil. Era uma figura que também tinha falhas. Mas procuramos realçar os pontos fortes de dom Pedro II, porque estamos carentes de uma pessoa que pense no Brasil da forma como ele fazia”, analisa Thereza Falcão.
Apesar de ser baseada em fatos e personagens reais, os autores salientam que a produção – que tem direção artística de Vinicius Coimbra – é uma ficção histórica e, por isso, dada a algumas liberdades. “Em ‘Novo Mundo’, aquele começo com uma grande viagem, e com o navio da princesa Leopoldina sendo atacado por piratas, nunca aconteceu. Mas por meio daquele episódio apresentamos alguns personagens ficcionais. ‘Nos Tempos do Imperador’ é uma ficção, mas somos respeitosos com as pessoas que existiram. E só de mostrar ao público quem foram dom Pedro II, a imperatriz Teresa Cristina ou a Condessa de Barral, já estamos prestando um serviço que vai bem além do entretenimento”, defende Alessandro Marson.
Presença mineira
Dois atores mineiros foram escolhidos para interpretar os nossos soberanos. Selton Mello, natural de Passos, no Sul do Estado, volta a fazer uma novela após 21 anos (a última foi “Força de um Desejo”) e interpreta justamente o imperador dom Pedro II. Já a belo-horizontina Letícia Sabatella faz a esposa do monarca, a imperatriz Teresa Cristina.
Selton Mello, que inclusive está usando lentes de contato azuis para ficar mais parecido com o filho de dom Pedro I, revela que não sabia tanto sobre esse personagem. “Não me lembrava de tantos detalhes da época em que estudei na escola. Quando comecei a ler os capítulos, fiquei muito intrigado por ver que um personagem tão importante como ele ainda não havia sido retratado na dramaturgia. Li várias biografias e não encontrei respostas para muitas coisas. Acho que os autores levantam mais perguntas do que respostas, e isso nos leva à reflexão. Estou fazendo o dom Pedro possível, usando minha sensibilidade, o meu não conhecimento, e isso é bom. Em algum lugar, eu até me identifico com esse cara, já que comecei bem criança, e ele teve que assumir muitas responsabilidades ainda muito menino. Estou bem emocionado”, frisou.
Questionado sobre como imaginaria dom Pedro II governando o Brasil em pleno 2021, o ator mineiro responde: “É difícil imaginar esse deslocamento histórico. Mas tudo indica que seria um governante demasiadamente humano, apoiando com gosto tudo o que se refere à arte, à cultura em geral. Seu prazer pelos livros, um refúgio desde sua infância, fez parte da construção de seu imaginário, e certamente estaria hoje estimulando autores novos, reverenciando os grandes escritores, apoiando a ciência, certamente estaria avançado na criação ou importação de vacinas. Teria um olhar generoso e cuidadoso com nosso meio ambiente. A educação certamente seria uma de suas maiores marcas. Foi assim, e hoje em dia penso que seria mais ainda”, acredita.
Já Letícia Sabatella, que chegou a fazer aulas de canto lírico para interpretar a imperatriz que nasceu na Itália, disse que ‘Teresa Cristina foi um mergulho arqueológico’ para ela. “Há uma identificação muito grande com as mulheres de antes e agora. Eu fui descobrindo muita coisa com o tempo sobre ela. O amor pelo Brasil, que a faz adoecer, morrer de saudade (a família imperial foi exilada, em 1889, após a Proclamação da República). Muito bonito isso nela. Ela recebeu essa alcunha de mãe dos brasileiros”, conta.
Mas o toque mineiro da produção da Globo não para por aí. A abertura terá uma versão inédita e exclusiva de um clássico do Clube da Esquina, “Cais”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. A gravação, claro, conta com a voz poderosa e belíssima de Bituca e participação dos músicos e produtores musicais Sacha Amback (teclado e arranjo), Rafael Langoni (teclado e arranjo), Dudu Viana (arranjo), além da St. Petesburg Orchestra.
Outras figuras históricas também serão retratadas na trama, como a condessa de Barral (Mariana Ximenes), que foi preceptora das princesas Isabel e Leopoldina e amante de dom Pedro II, e o presidente do Paraguai, Solano López (Roberto Birindelli). Entre os personagens ficcionais, destaque para Pilar (Gabriela Medvedovski), uma jovem que sonha em ser médica e que ainda vive um romance com Jorge (Michel Gomes), um homem negro que deseja a liberdade. Já Alexandre Nero será o vilão Tonico Rocha. (ACB)
De volta
Alguns personagens de “Novo Mundo”, novela que deu origem a “Nos Tempos do Imperador”, estarão de volta na nova trama das 18h. Numa caracterização que leva três horas, Vivianne Pasmanter e Guilherme Piva dão vida novamente aos caricatos Germana e Licurgo. “Esses personagens são praticamente imortais (risos). Não teria como imaginar essa novela sem a presença deles. Os dois têm tudo a ver com o Brasil, e o Brasil é o personagem principal da história”, frisa o autor Alessandro Marson.
Já Quinzinho, interpretado pelo garoto Theo de Almeida Lopes em “Novo Mundo”, cresceu e agora é vivido por Augusto Madeira, enquanto Vitória, filha de Anna (Isabelle Drummond) e Joaquim (Chay Suede), será uma arqueóloga vivida por Maria Clara Gueiros. Já os indígenas Piatã (Rodrigo Simas) e Jacira (Giullia Buscacio) se transformaram em Clovys Torres e Valéria Alencar.
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