‘Poemas de Dulce’ resgata escritos e cantigas da dona de casa Dulce Alves de Oliveira, que passou anos escrevendo sem que a família soubesse de seu talento literário
Dulce Alves de Oliveira era conhecida por seu sorriso fácil e pela doçura serena e amistosa com que tratava a todos. Mãe de onze filhos, quatorze netos, nove bisnetos e um tataraneto, ela adorava estar com a família e se mostrava ainda mais encantadora sempre que contava histórias sobre seus dias de juventude vividos em algumas cidadezinhas do interior mineiro.
O que pouca gente conhecia, no entanto, era a faceta poética que ela escondia e nutria solitariamente ao longo dos anos. Por meio de poemas e canções – tão meigos e afetuosos quanto sua personalidade –, Dulce fazia uma crônica delicada de tudo o que observava ao redor.
Um dia, seu talento poético acabou sendo descoberto por acaso e deixou todos os familiares surpresos e alegres.
“Ela nunca tinha revelado isso abertamente para ninguém antes. Somente algumas irmãs e filhos sabiam. Dá para se contar nos dedos aqueles que conheciam esse lado artístico dela”, conta o jornalista Lucas Hso, de 33 anos, neto de Dulce.
O impacto da descoberta foi tão positivo, que Lucas decidiu se juntar à tia Lucy A. Falcone, uma das filhas de Dulce, para compilar e registrar os escritos da avó em livro. O resultado é “Poemas de Dulce”, obra que acaba de ser publicada em edição limitada.
Com 152 páginas, a publicação é dividida em duas metades: uma contendo poemas e cantigas compostas por Dulce – todos escritos entre 1934 e 2020 –, e uma outra que traz um romance cobrindo detalhes da sua vida.
Uma poetiza oculta
Lucas conta que entrar em contato com a face artística da avó arrebatou seus parentes com uma euforia contagiante.
“Eu só fui saber dos poemas através da minha tia Lucy, que quase que sorrateiramente me contou esse grande segredo durante um café em sua casa. ‘Sua avó tem alguns poemas, Lucas, você sabia?’. Ela disse enquanto foi me mostrando os escritos. Eram papéis dobrados com letras antigas e novas, anotações muito simples mesmo. Foi nesse momento que meu coração sentiu que aquilo ali era muito especial”, relembra.
Tudo foi feito durante um período de três anos, quando Lucas se debruçou nas anotações deixadas pela avó, além de transcrever áudios de Dulce recitando para filha Lucy alguns dos seus versos.
“Fizemos todo o processo durante esses três anos com muito afeto desde a concepção até a escrita do romance. Estamos inundados de alegria”, celebra Lucas.
Ainda segundo Lucas, o desejo maior é que o livro possa eternizar a essência da avó através de sua poesia e humanidade.
“Passamos a vida ao lado das pessoas sem as conhecê-las. Agora teremos a sua obra eternizada conosco, e assim ela seguirá viva aqui na Terra”, conclui.
Biografia
Nascida em São Francisco do Humaitá, distrito de Mutum, na região do Rio Doce, Dulce Alves de Oliveira se casou em 1951 e se dedicou completamente à família. Em 1968, ela se mudou com o marido Orozires Cezanes de Oliveira para Belo Horizonte. Depois, viveu com os filhos e o esposo por dois anos na cidade de Itabira, na Região Central do Estado, até que regressaram para a capital mineira em 1985, onde Dulce faleceu em 2021.