Elas têm como meta auxiliar a Cidade a oferecer mais qualidade de vida para os habitantes, seja através da redução do lixo, tornando mais acessível e democrático o descarte de resíduos recicláveis; da instalação de filtros no transporte público, higienizando o ar contra vírus, fungos ou bactérias, inclusive contra o coronavírus; seja através da comercialização de inteligência em sustentabilidade. Esses são os negócios que atuam com o empreendedorismo social.
Ao contrário das iniciativas empreendedoras comuns, a modalidade social não se concentra apenas no lucro financeiro, mas também defende um ganho para a sociedade em que está inserido.
A analista técnica do Sebrae Bahia, Andreia Barbosa afirma que antes de qualquer coisa, é preciso ter a intencionalidade de gerar impacto social positivo e que a motivação para criar um empreendimento social não pode ser simplesmente a identificação de uma oportunidade de mercado, mas a expectativa de gerar mudança em um contexto social problemático.
“Essa intencionalidade vai garantir um posicionamento legítimo ao negócio, aliado a isso, o empreendedor precisa enxergar a proposta como um campo de negócios, logo, precisa se capacitar também em gestão de negócios e adquirir condições de dialogar com diversos atores”, esclarece.
Andreia salienta que o Sebrae incentiva essas iniciativas por meio de oferta de capacitações gratuitas na área, além de consultorias com valores subsidiados. “Em Salvador, 14 negócios de impacto positivo concluíram, em julho, o programa de Aceleração do Sebraelab. Por meio desse programa, os empreendedores são preparados para que seus negócios tenham mais possibilidade de se manter no mercado de forma alinhadas com seus propósitos, acessando a capital e gerenciando esses recursos de forma eficiente”, orienta.
Ar limpo
Por 17 anos, o empresário Loyola Neto, por exemplo, desenvolveu camisas para festas, abadás e confecções diversas para o segmento de entretenimento virando uma referência no setor. A consciência de que a área têxtil é um do mais poluentes do mundo e atento para as tendências de mercado, o empresário começou a investir em desenvolvimento sustentável e, há 12 anos, mudou o processo e a produção atuando numa proposta menos poluente. Os esforços renderam o prêmio de 2ª indústria mais sustentável da Bahia.
Loyola Neto conseguiu transformar a queda do faturamento do início da pandemia num impulsionador para desenvolver a Salvar e criar um filtro para o transporte urbano e ambientes climatizados (Foto: Anderson Falcão/Divulgação) |
O advento da pandemia, no entanto, trouxe uma surpresa desagradável com a suspensão de eventos e o empresário amargou uma redução de 60% do faturamento da empresa Loygus. Decidido a não se deixar derrotar pela Covid-19, Loyola trocou a produção de vestuário para máscaras com dupla proteção e, depois, com um tratamento antiviral. A experiência mostrou uma outra possibilidade e ele criou a Startup Salvar que produz um filtro para ar condicionado capaz de reduzir 99% a carga viral, incluindo o coronavírus, presente em ambientes fechados.
O produto se mostrou eficaz em 80% na redução de fungos e bactérias, sendo de fácil manuseio, podendo ser instalado em praticamente todos os aparelhos de ar condicionado. O funcionamento do produto ocorre como uma barreira filtrante do fluxo de ar no ambiente que retém agentes infecciosos virais e bacterianos, controlando dessa forma a disseminação de partículas contaminadas através do sistema de climatização. O produto está sendo utilizado por escolas, empresas e finalizou a fase de testes para ser implantado no sistema de transporte urbano em Salvador.
Sustentabilidade feminina
No último dia 08 de julho, as sócias e fundadoras do serviço de delivery de pós-consumo: o Roda, delivery da reciclagem, Saville Alves e Gabriela Tiemy começaram a atuar nas residências e estabelecimentos comerciais, como bares e restaurantes do Rio Vermelho. Para estar apto a participar do programa, os interessados deverão atender alguns critérios prioritários, como ter o endereço de retirada localizado no bairro do Rio Vermelho e proximidades.
Saville Alves defende o trabalhos dos empreendedores sociais em rede para potencializar as atuações e o impacto que as iniciativas possuem (Foto: Tayse Argolo/divulgação) |
“Além disso, devem ser sinalizados resíduos que nós conseguimos reciclar: vidro, papel, papelão, metais, plásticos (mole, duro e pet), isopor, óleo de cozinha, eletrônicos e eletrodomésticos. Não aceitamos em hipótese alguma: lixo”, frisam. Todo o contato é feito por WhatsApp, através do telefone 71 986117004, assim o público pode selecionar os itens que irá descartar e agendar a retirada que será feita por uma cooperativa de reciclagem contratada.
Em relação à escolha da região, Saville Alves explica que o bairro consegue traduzir bem a complexidade de Salvador, misturando suas belezas, culturas e desigualdades. “Neste paradoxo, nascemos como uma plataforma de potencializar e amplificar o que é produzido aqui nos eixos de cultura, empreendedorismo e sustentabilidade. Então como estamos ocupando esse território queremos mostrar que ‘santo de casa pode fazer milagre sim’ ”, destaca.
Liderada por mulheres, focada em gerar impactos positivos através da comunicação, responsabilidade social e sustentabilidade, a Aganju é uma empresa de consultoria, formada por profissionais com experiência nos setores público, privado e sociedade civil organizada. Segundo Leana Mattei, o objetivo é desenvolver e executar ações e projetos, de natureza obrigatória ou propositiva, que visem conectar pessoas, organizações, empresas e governos, de forma sustentável e estratégica. “Como premissa, apostamos sempre que resultados financeiros, equilíbrio ambiental e justiça social podem (e devem) andar juntos, visando sempre a minimização de impactos negativos e potencialização de impactos positivos. Entendemos sempre que a comunicação e a mobilização são ferramentas essenciais para a transformação social e promoção de equidades”, diz.
Como unidade de negócios, elas oferecem: consultoria, educação, eventos e conteúdos. Todas elas, de alguma forma, visam criar uma estratégia de sustentabilidade para projetos e negócios. “Nós vendemos inteligência em sustentabilidade, completa Leana.
Mercado soteropolitano
Para a representante da Aganju, no que diz respeito à cidade de Salvador, o mercado de trabalho é desafiador. “Muitas empresas ainda não conseguem investir em sustentabilidade porque ainda não tem recurso para isso ou porque contratam mão de obra no sudeste e desconsideram que aqui tem empresas tecnicamente qualificadas para prestar esse tipo de serviço”, completa.
Leana Mattei reforça a necessidade dos empresários locais apoiarem os serviços e produtos locais para fortalecer as iniciativas que movimentam a economia baiana(Foto: Rafa Mattei/Divulgação) |
Para ela uma boa alternativa seria estimular que empresas e governos priorizassem empresas locais, criando premissas de investimento na cidade. Isso ajudaria a fomentar o mercado. A valorização de territórios é um indicador importante de sustentabilidade presente em diversos tipos de relatório como GRI, Ethos. “Queremos ver Salvador como um nascedouro de boas práticas. Temos muito mais que carnaval e boas praias. Temos muita gente acreditando e trabalhando para um futuro melhor possível. Essa é a Salvador que queremos”, destaca.
Saville Alves é defensora da articulação entre essas iniciativas e na criação de redes. “É preciso que empreendedores dos mesmos segmentos se unam para garantir políticas públicas adequadas para o fortalecimento de seus negócios. É fundamental fazer barulho e trazer soluções para mesa de quem tem o poder da tomada de decisão”, completa.
Ajuda
Em Salvador, o Sebrae e o Colabore oferecem suporte para empreendedores que desejam criar um negócio de impacto social através dos processos de aceleração do Sebraelab, além dos programas de incubação e pré-incubação da IN Pacto (Incubadora de negócios sociais do Parque Social).
O Sebrae também oferece um curso gratuito para empreendedores que se interessem na área:
Quarteto para negócio social
1. Manter a perseverança;
2. Treine-se continuamente;
3. Conheça o ecossistema nacional dos negócios de impacto social positivo;
4. Fale sobre a sua iniciativa com outras pessoas para validar as hipóteses e agregar parcerias.
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