Programas jornalísticos que ocupam o horário nobre de emissoras de rádio em Natal têm se transformado, cada vez mais, em palanque para que pseudo jornalistas defendam grupos políticos específicos. Na mão desses, o papel do jornalismo está cada vez mais desvirtuado e virado de ponta-cabeça, o que tem assustado ouvintes que acompanham há muito tempo a cena política e a comunicação do Estado.
O exercício do proselitismo político disfarçado de jornalismo é cada vez mais escancarado nesses programas. Resta saber se isso é realizado por má-fé desses comunicadores ou se trata-se de mais uma consequência da decisão tresloucada do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar a exigência da formação acadêmica para exercer a atividade profissional de jornalista.
O fato é que a defesa de determinados grupos políticos ou ideologias tem tomado o lugar do bom jornalismo, aquele isento, neutro, plural, universal e que trata com equilíbrio os fatos políticos.
Até mesmo aqueles que respiram política 24 horas por dia e gostam de rádio se espantam com tamanho envolvimento partidário e ideológico de determinadas figuras. Por causa disso, parte do público tem fugido da audiência, deixando de acompanhar o noticiário de algumas FMs.
O jornalismo é essencial para a política e a democracia, mas, para isso, precisa ser exercido de maneira profissional e séria. É necessário o mínimo de isenção e o afastamento do sectarismo político, partidário e ideológico para servir ao (no caso) ouvinte uma leitura equilibrada de fatos de interesse público.
Quando estudantes de Jornalismo, aprendemos que devemos ser, embora seja uma missão difícil, o máximo neutros, plurais e objetivos ao apurarmos informações e reportarmos à sociedade.
É lamentável que comunicadores que ocupam espaços privilegiados de mídia rasguem o Código de Ética da profissão e desrespeitem premissas básicas do bom jornalismo em nome de interesses políticos.
A já citada decisão do STF que permitiu que qualquer um ocupe esses espaços é uma das culpadas. Pessoas sem qualquer embasamento teórico ou conhecimento dessas premissas já elencadas se tornaram “profissionais da comunicação”. A própria popularização das redes sociais, embora salutar, trouxe consigo o poder dado a qualquer um de ser “repórter”. Tudo isso tem contaminado o ambiente das FMs.
Seria mais honesto e digno que esses “profissionais”, pseudo jornalistas, se filiassem logo a partidos políticos e dissessem com clareza aos ouvintes a que grupos políticos servem. Dessa forma, podem manter a audiência cativa. Fora isso, é continuar recebendo a pecha de “jornalista” sem sê-lo.