Durães está à procura de emprego. Foto: Reprodução/Eduardo Durães Júnior/Linkedin
Não são mais as placas publicitárias que chamam a atenção. Os escritos agora são outros e as imagens, ao vivo, estão ali, bem diante de nós. Adultos, jovens e até crianças imploram por ajuda. Querem comprar comida. Pedem empregos. Informam que têm filhos para criar. É a miséria chegando cada vez mais perto dos que achavam que, em seus mundos luxuosos, talvez nunca fossem “conviver” com uma realidade tão crua.
Brasileiros e estrangeiros – a maioria venezuelanos – se misturam. Como numa colcha de retalhos, cada um tem sua forma, sua cor, sua origem, mas todos têm no avesso as tramas que os sustentam à espera de uma oportunidade de trabalho, de um prato de comida. Aguardam serem lembrados e tratados com dignidade. São a maioria dos que pedem socorro. Alguns que a eles se misturam com má intenção são exceções. A regra, neste exato momento em que você ler este texto, aponta para seres humanos famintos, no meio de nós.
Julgá-los é fácil demais. Achar que são vagabundos, preguiçosos, drogados e tantos outros adjetivos é cômodo, confortável. Vamos nos imaginar no lugar de um deles, que já bateu em tantas portas, que precisou sair de sua nação, que não tem a quem recorrer, que vê os filhos passando fome, que não tem morada, que enfrenta o frio, o calor, a sede, tudo ao mesmo tempo! A gangorra da vida está aí: um dia estamos em cima, no outro, despencamos. E nenhum de nós tem a capacidade de saber o que acontecerá daqui a um segundo, muito menos se teremos o que comer, o que beber e onde dormir no dia seguinte.
São as desigualdades sociais que maltratam quem tem humanidade, quem pensa além do ter, das riquezas materiais. Sim, as sociedades são formadas por diferentes camadas, jamais ficaremos, todos, no mesmo patamar, mas não custa nada ser solidário, tentar ajudar, repartir o que se tem com aquela criatura que está ali, humilhada, pedindo uma ajuda pelo amor de Deus.
Essas diferenças tão grandes geram uma sensação de impotência, de impunidade, de descrédito nos que prometem – e só prometem – fazer algo por essas pessoas menos favorecidas, desgraçadamente condenadas ao isolamento, mesmo que não vivêssemos em época de pandemia. Aliás, nem sabemos quando escaparemos da covid-19 e quando outra praga desse tipo – ou pior – baterá novamente em nossas moradas, sejam elas mansões ou em via pública, sob marquises de casas, lojas e até de templos religiosos, que se abrem facilmente somente na hora dos seus líderes receberem as “ofertas”.
Insensíveis e cruéis os que ignoram a miséria alheia. Hipócritas e cafajestes os que se aproveitam para permanecerem no poder. Incompetentes e bandidos os que podem fazer algo para mudar a situação dessas pessoas e nada fazem, achando que não correm o risco de passarem pelo mesmo.
Sem essa de “sextou” ou de qualquer outro tipo desses modismos babacas! Hoje é um dia como outro qualquer, quando nós estamos privilegiados, temos alimento, casa para morar e outros tantos estão jogados na lama. Hoje está assim. E amanhã?!