Estrelado por Laila Garin, espetáculo faz curta temporada no CCBB-BH com sessões presenciais e também online
A oportunidade de poder subir ao palco e ver o público na plateia, mesmo que em número reduzido, é motivo de alegria para a atriz e cantora Laila Garin. “É um reencontro delicado, profundo e emocionante”, disse ela, que protagoniza o espetáculo “A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa”, adaptação de umas das obras mais emblemáticas de Clarice Lispector (1920-1977), que estreou em março do ano passado, no Rio de Janeiro, e teve a temporada interrompida por causa da pandemia do novo coronavírus. Agora, com a retomada gradual das atividades culturais, a montagem voltou aos palcos em formato híbrido – com sessões presenciais e online – e, após passar por Brasília, chega ao Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB-BH) nesta quarta-feira (14) para curta temporada.
A produção é uma adaptação feita por André Paes Leme (que também assina a direção) e virou um espetáculo musical com canções inéditas de Chico César, compostas especialmente para “A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa”. “Esse projeto é da Andréa Alves (idealizadora e produtora da peça), que me fez o convite. Eu já conhecia esse texto da Clarice e já conhecia o filme, que foi muito marcante para uma geração. Na hora em que eu recebi o convite foi um susto, porque é um texto difícil de se fazer no teatro”, comentou o diretor. “Mergulhei em um estudo para entender o melhor caminho a seguir. Foi um desafio muito positivo”, pontuou ele, garantindo que o espetáculo é uma releitura da obra original.
A história gira em torno de Macabéa, “uma mulher nordestina, ‘invisibilizada’, porque ninguém a enxerga”, definiu Laila. “Ela não acha que tem direito a nada, e essa é a maior opressão que pode ocorrer; a pessoa nem sequer ousar desejar alguma coisa, porque ela acha que não tem direito”, explicou a atriz, dizendo que o enredo nos remete aos dias atuais. “Nosso povo ainda é oprimido assim. É a falta de educação, o desrespeito e a falta dos direitos de acesso a coisas básicas que fazem com que muitas pessoas não se sintam gente. Ela não representa apenas os nordestinos, mas todas as ‘minorias’ de direito, de representatividade, de reconhecimento”, afirmou.
André Paes Leme concorda com a protagonista de “A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa” e acrescenta: “É um texto muito humano, que faz um convite para que todos nós tenhamos mais empatia, para que pensemos mais no coletivo. No pós-pandemia, vamos ter um exército de pessoas invisíveis, e esse texto traz uma provocação para essa realidade”.
Versão musical
Laila Garin também vibra com o fato de participar de um trabalho sobre um clássico de Clarice Lispector. “É emocionante! Eu me sinto com um privilégio de pegar um clássico como esse”, frisou ela. “As palavras de Clarice passam por mim todas as noites, e eu sou transformada, de verdade. Cada dia eu descubro uma coisa nova, uma mensagem”, ressaltou. “Eu nunca fui tão transformada por um texto como agora”, garantiu Laila que, além de interpretar Macabéa, vive a atriz que, além de narrar a história, também comenta e lança uma série de questões ao longo da encenação – ela aparece em cena ao lado de mais dois atores (Claudia Ventura e Claudio Gabriel) e de uma banda.
Outro ponto de destaque de “A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa” é a trilha sonora, composta por Chico César. “Eu encaminhava para ele os textos em primeira mão, fragmentos que eu achava que a gente deveria cantar, e ele transformava maravilhosamente em música. Às vezes (as letras) eram tão fiéis que eu pensava que fazia parte do texto”, contou André Paes Leme. “Fico brincando que acho que o Chico tem contato com as musas”, disse Laila, aos risos. “Ele compreendeu a obra de um jeito genial”, completou ela.
Retorno com segurança
“Foi muito violento tudo o que aconteceu, essa interrupção abrupta em março (de 2020), esse confinamento”, disse Laila Garin, relembrando o momento que “A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa” foi forçado a sair dos palcos. “Depois a gente teve um momento de se reencontrar entre nós, mas não diretamente com o público, em dezembro do ano passado, quando a gente fez uma transmissão ao vivo”, observou.
O retorno aos palcos, com o novo formato, aconteceu em maio. “A gente se cercou de todos os cuidados que podia para poder fazer o teatro acontecer”, disse ela, citando os protocolos de segurança adotados nesta retornada, como o distanciamento entre as poltronas no teatro, as remarcações dos atores no palco, que também passaram a usar máscaras durante a apresentação.
“Descobrimos que o público está sedento, também, por isso. Logo na primeira apresentação houve um grito na plateia de um senhor que nos emocionou muito, porque eu imaginei o quanto o teatro era vital para ele e imaginei ele um ano e meio em casa assim, sem fazer essa troca”, revelou Laila. “Porque nós precisamos de arte para viver; isso é um direito que a gente tem”, afirmou.
Programas
“A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa” fica em cartaz no CCBB-BH de 14 a 26 de julho, com apresentações de quarta a segunda, às 20h.
Presencial: Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e estão à venda no site Eventim.
Online: Pela internet, as sessões gratuitas serão transmitidas pelos canais no YouTube do Banco do Brasil e fazer BB Seguros.
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