Apesar de as mulheres serem maioria em Belo Horizonte e Minas Gerais, é possível notar que elas ainda são minoria em diversas áreas profissionais. A falta de representatividade fica explícita na política, que, apesar de ter visto aumentar o número de eleitas, ainda está longe de uma proporção ideal.
Dos 41 vereadores eleitos em Belo Horizonte, só nove são mulheres (22%). Dos 77 deputados estaduais, são somente 15 deputadas (19%). Já entre os 53 deputados federais eleitos, apenas nove (17%) são do sexo feminino. No Senado, os três representantes mineiros são homens. Além disso, nunca uma mulher assumiu a prefeitura da capital mineira.
Eleita deputada estadual em 2022, Bella Gonçalves (PSOL) iniciou a vida política em 2016, tentando cargo como vereadora, mas foi a terceira com mais votos pelo PSOL, sendo a primeira suplente do partido. Com a eleição de Áurea Carolina como deputada federal em 2018, Bella assumiu a vaga na Câmara Municipal. Em 2020, concorreu novamente ao cargo de vereadora e foi eleita com quase 7.000 votos.
“Ainda é pouco (a representatividade feminina na política), mas tem crescido. Quando assumi como vereadora pela primeira vez, eram apenas quatro mulheres na Câmara. Na legislatura anterior à minha, apenas uma mulher. Hoje, são nove. A Assembleia Legislativa hoje tem o recorde de mulheres eleitas. Cada vez menos pessoas acham que política não é lugar de mulher, e cada vez mais mulheres, em especial, têm entendido a importância de votar em outras mulheres para que a gente supere essas desigualdades que atravessam a sociedade”, disse Bella Gonçalves ao Super Notícia.
A deputada estadual completou: “BH nunca teve uma mulher prefeita. Mas, quando a gente olha para outras cidades da região metropolitana, que tem mulheres nesse cargo, como o caso de Contagem – chefiada pela prefeita Marília Campos (PT) –, a gente percebe que elas são excelentes gestoras”, ressalta.
Persistência para vencer o machismo no trânsito
Aos 42 anos, Fabiana de Paiva trabalhava como auxiliar administrativa, mas acabou sendo demitida em 2019. Divorciada e com um filho para criar, decidiu ganhar a vida como motorista de aplicativo pelas ruas de Belo Horizonte, mas precisou enfrentar o machismo que ainda é presente no meio. Segundo a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), dos cerca de 1,2 milhão de motoristas em BH, 752,4 mil (59,9%) são homens e 504,8 mil (40,1%), mulheres.
“Logo que eu comecei a rodar, eu não só tinha medo, como eu sofri vários preconceitos por ser mulher. Tinha passageiro que chamava corrida e, assim que eu aceitava, via que era mulher e cancelava”, contou Fabiana. Ainda assim, ela seguiu na profissão. “Desistir nunca foi uma opção pra mim, pois os sonhos vão além dos obstáculos. Hoje colho frutos da minha determinação, persistência e fé”, afirma.
Respeito conquistado. Fran Januário é uma das mulheres que foram inspiradas pelas pioneiras Dona Ivone Lara e Beth Carvalho, divas do samba no Brasil. O caminho não foi fácil, mas a belo-horizontina ultrapassou barreiras e já levou sua música até para a França.
“Cheguei devagar, devagarinho, assim, como diz Dona Ivone Lara. Pisando devagar, pedindo licença, com muito respeito. Desde o início senti essa questão de um nicho extremamente machista e excludente. Principalmente para mim, enquanto mulher e mulher preta. Com certeza existe um preconceito muito grande, uma não aceitação que tem mudado bastante”, afirma.
Coletividade. Em 2022, Fran Januário criou o coletivo Donas de Si, composto apenas por mulheres do samba. “Surgiu da vontade de estarmos juntas e somar a nossa musicalidade, mostrar para quem nós viemos. Eu acredito muito na forma coletiva de trabalhar, e uma apoiando a outra faz a nossa bandeira ficar mais forte”.
Apoio na rua. Fabiana de Paiva criou o Guerreiras do Asfalto em 2019. O grupo conta com cerca de 200 mulheres motoristas de aplicativo e busca criar um elo de amparo entre elas. “O intuito é dar apoio às mulheres. Muitas ainda têm certo receio e medo de estar trabalhando no trânsito”, afirma Fabiana.