Caso foi registrado após homem ser preso suspeito de participação no cárcere privado de uma família da cidade
A Polícia Militar instaurou procedimento para apurar a atuação de policiais militares durante a prisão de um homem, de 21 anos, em Passos, no Sul de Minas. No decorrer da ação, a mãe dele, de 49, foi atingida por uma bala de borracha no abdômen e, segundo a família, teve o intestino perfurado. Em conversa com a reportagem de O TEMPO, nesta terça-feira (17), o companheiro da mulher afirma que parentes querem justiça.
O caso foi registrado na última sexta-feira (13), quando quatro homens foram presos após uma família ser mantida refém na cidade, entre as vítimas duas crianças de 7 e 2 anos (veja o caso abaixo). Segundo o boletim de ocorrência registrado pela corporação, após as prisões dos comparsas, o suspeito fugiu para casa
Ainda conforme a polícia, no imóvel, familiares, incluindo a mãe dele, teriam tentado tomar a arma e agredir um dos policiais. O suspeito também teria, na versão da corporação, sacado uma arma. Diante da situação, o agente de segurança efetuou disparos de elastômero, popularmente conhecido como bala de borracha.
“Meu enteado chegou em casa correndo não sei porque. Logo depois chegou a polícia e entrou na minha residência para pegá-lo. Nisso, o policial falou para ele não correr, mas meu enteado se aproximou do militar, que efetuou um disparo. Com isso, o ‘moleque’ pegou e saiu correndo e pulou o muro da vizinha”, explicou o pedreiro Adriano José Rodrigues, de 41 anos, companheiro da mulher atingida.
O jovem acabou rendido e colocado no chão. Ao ver o filho deitado, na versão dos parentes, a mãe teria perguntado o que tinha acontecido. Nesse momento, o militar teria disparado contra a mulher. Em uma rede social, a filha da dona de casa publicou o vídeo e contou o caso. Veja:
“Na hora que ele efetuou o disparo, minha mulher se afastou, fui ao encontro dela e percebi o ferimento. Eu perguntei ao policial se tinha necessidade de atirar nela. Ele me respondeu que tinha sim e perguntou se eu queria levar um tiro. Minha companheira foi colocada na viatura e levada para a Santa Casa, passou por cirurgia, colocou bolsa de colostomia e não tem previsão de alta. Ela está estável e precisando de doação de sangue. Não tinha necessidade de ter atirado, a gente quer justiça”, desabafou.
O advogado Roberto Junqueira acompanha a família em relação ao caso da mulher. Ele afirma que está reunindo provas, vai representar no Ministério Público, procurar a corregedoria da corporação e a Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
“É claríssimo que houve excesso, o policial não tem licença para matar, não tem licença para ferir. Ele só pode agir em legítima defesa dele ou de terceiros. O vídeo mostra que ela não representava risco nenhum, estava com as mãos para frente, não portava nenhuma arma. O disparo foi totalmente abusivo, excessivo”, afirmou.
Prisão após manter família em cárcere privado
A prisão do suspeito e de outros três homens aconteceu após o grupo ter mantido uma família em cárcere privado na última quinta-feira (12). Segundo o registro policial, as vítimas adultas contaram que estavam em casa com as filhas de 7 e 2 anos quando foram rendidas pelo bando, que portava uma arma de fogo.
Os bandidos exigiram dinheiro, sendo que um deles ainda pegou uma faca para fazer várias ameaças. Posteriormente, a mãe e as crianças foram levadas para um outro imóvel, na favela do Arrozinho, onde permaneceram em poder dos criminosos. Enquanto isso, o companheiro dela foi levado até um banco.
Sem conseguir sacar dinheiro, o grupo libertou a família, fugiu levando o carro das vítimas e exigiu R$ 5 mil para que o veículo fosse devolvido. Após a prisão dos suspeitos, o carro foi recuperado. A família não ficou ferida.
Posicionamento da Polícia Militar
Por meio de nota, a Polícia Militar se posicionou em relação ao caso. Veja o comunicado na íntegra:
“A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que em razão de uma ocorrência de roubo com cárcere privado, no dia 13 de agosto de 2021, em Passos, no Sul de Minas, foi acionada por duas vítimas que alegavam que haviam sido abordadas, no dia anterior, por quatro autores e feitas reféns, inclusive duas crianças.
Durante as diligências, a PMMG conseguiu recuperar todos os bens e prender os quatro indivíduos que, juntos, totalizam 63 passagens pela polícia, destacando-se os crimes de homicídio, roubo, tráficos de drogas e porte ilegal de arma de fogo. A instituição permanece na busca de um quinto indivíduo envolvido na ação criminosa.
A Polícia Militar de Minas Gerais esclarece ainda que durante a prisão de um dos autores, de 21 anos, houve resistência, inclusive de seus familiares, que conseguiram arrebatar a arma de um dos militares sendo, então, necessário o uso moderado da força com disparos de arma de menor potencial ofensivo (bala de borracha), que atingiu a genitora do autor na altura do abdômen, sendo socorrida e encaminhada à Santa Casa de Passos, ficando sob observação médica.
As vítimas foram assistidas pela Polícia Militar, tendo em vista o trauma que passaram, e os bens restituídos. A Polícia Militar de Minas Gerais esclarece que instaurou procedimento para apurar atuação policial militar”.
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que “ratificou a prisão em flagrante de quatro homens encaminhados à Delegacia de Polícia Civil de Plantão e envolvidos na ocorrência registrada na última sexta-feira (13), em Passos. Eles poderão responder pelo crime de extorsão, sendo que um deles ainda poderá responder por porte ilegal de arma de fogo. Os suspeitos foram encaminhados ao sistema prisional, onde estão à disposição da justiça, A investigação segue em andamento”.
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