Convidada a comparecer ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) nesta terça-feira (19), a irmã de Marcos Vinicius Vieira Couto, baleado à queima roupa e morto em uma abordagem policial na Vila Barraginhaem Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, no sábado (16), não conseguiu atender ao chamado por falta de condições emocionais.
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A informação foi confirmada pela Promotoria nesta tarde. Por telefone, uma colega da irmã de Marcos afirmou que ela está “muito debilitada” e sem se alimentar desde o acontecido. “Eles eram muito próximos. Ela pretende ir ao MPMG, mas só quando for possível. Ela tem ficado em casa, não tem saído”, disse.
Também nesta terça, o MPMG informou que aguarda a chegada do prontuário de atendimento da vítima no Hospital Municipal de Contagem para dar andamento às próximas providências do caso. O documento foi solicitado ao centro médico nesta terça. A prefeitura de Contagem declarou que o relatório foi encaminhado ao MP por volta das 14h15.
O crime
Marquinhos foi abordado por policiais militares em um bar. Conforme o boletim de ocorrência, os agentes de segurança o procuraram após uma denúncia de disparos de arma de fogo durante uma festa julina. Os policiais alegam que o rapaz teria apresentado resistência durante a abordagem. Familiares negam a versão.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que o policial encaminha o suspeito para a frente de um kombi estacionada no local. Na sequência, os disparos são ouvidos. O rapaz morreu com um tiro que atingiu a cabeça dele.
O que dizem os policiais envolvidos na ação
A PM diz que, Marquinhos, supostamente o chefe do tráfico na região, estaria coagindo a comunidade local com uma arma durante festa na comunidade. O homem estaria se envolvendo em brigas, ainda conforme relatos dos policiais.
Consta no boletim que, quando os policiais chegaram ao local, teriam se deparado com o homem de 29 anos que não teria obedecido às advertências verbais e teria tentado tomar a arma de um dos sargentos que atendia a ocorrência. Nessa versão, o militar teria reagido e atirado contra o homem.
O que dizem os familiares da vítima
Já segundo os familiares e conhecidos de Marquinhos, que estavam no local, a confusão teria sido iniciada na porta de uma pastelaria, quando o homem resolveu tirar satisfação com um vizinho que estaria se vangloriando no bairro por ter engravidado uma criança de 12 anos.
Marquinhos, que já estaria bêbado, teria pegado um pedaço de pau e ido para cima do outro morador, que estava armado pois tinha autorização legal de porte. Eles teriam discutido e Marquinhos tomou a arma dele e, depois disso, desferiu coronhadas. Os moradores falam que não houve disparos, ao contrário do que disse a PM. Após a confusão, a família do vizinho teria chamado a polícia para o local.
As testemunhas negam ainda que Marquinhos tenha tentado tomar a arma do policial. Os vídeos que circulam nas redes sociais não mostram esse momento e a PM alega que houve corte nas imagens.
No velório da vítima, o clima era de tristeza e revolta. “Por que não levaram ele preso? Por que mataram meu filho? Meu coração está sangrando, minha vida acabou”, lamentou a mãe de Marcos, Eliane Vieira Couto Lima, de 60 anos.
Socorro à vítima após os disparos
A família alega que Marcos Vinícius foi levado para uma viatura, que seguiu com o corpo dele para o Hospital Municipal de Contagem. Os parentes da vítima contam que quando chegaram ao local receberam a informação de que o rapaz já deu entrada sem vida no hospital.
A Secretaria de Saúde de Contagem confirma essa informação. Porém, mesmo com a confirmação da secretaria, a PM mantém a versão de que a vítima teria chegado lá com vida e morrido no hospital.
Suspeita de propina
UMA Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pede a apuração dos fatos e informou ter sido procurada por moradores que disseram que as ações dos policiais na vila estariam motivadas pela falta de pagamento de propina. Nas últimas duas semanas, foram três mortes na região por pessoas que não aceitaram valores de “suposta corrupção cobradas e devidas aos policiais”.
Em entrevista ao jornal O Tempo, a porta-voz da corporação, major Layla Brunella disse considerar a denúncia incoerente. “Se os militares recebiam propina, por que este traficante foi preso pelo tráfico de drogas? Ele foi detido, no dia 25 de julho, por posse ilegal de arma de fogo, além disso, ele estava com drogas. Independentemente disso, estamos apurando a denúncia e a investigação acontecerá”, disse.
Ministério Público vai investigar
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) instaurou, na segunda-feira (18), um Procedimento Criminal para investigar o caso. “Foi solicitado o prontuário de atendimento do Hospital Municipal de Contagem e será realizada a oitiva da irmã da vítima para esclarecimentos”, diz o órgão.
O Procedimento Investigatório Criminal (PIC) vai ser conduzido de forma conjunta pelas Promotorias de Justiça de Controle Externo da Atividade Policial e da Vara do Tribunal do Júri de Contagem.
Policial está solto
O policial militar que matou Marcos está solto. A informação foi confirmada à O TEMPO pela porta-voz da corporação, major Layla Brunella, na segunda-feira (18). “O militar chegou a ser preso e com o alvará de soltura expedido pela manhã, foi solto. É importante destacar que o alvará é emitido pela Justiça”, afirmou.
Questionada se o militar poderá trabalhar de imediato após a soltura, a major explicou sobre os procedimentos. “Volta normalmente, mas passa pelo psicólogo. O policial faz um acompanhamento, que não tem período determinado. Depende da avaliação do profissional para ele receber alta”, detalhou.