Elisângela Oliveira de Jesus, moradora de Rio Claro (SP), morreu na segunda-feira (26), dez dias depois de ter sido vítima de um acidente doméstico enquanto fazia comida. Ela tinha colocado óleo para esquentar em uma frigideira, quebrou um ovo e o colocou em um copo, para conferir se não estava estragado. Sem perceber que havia água dentro do recipiente, a mulher despejou o alimento na panela, e imediatamente as chamas subiram até o seu rosto. Com 17% do corpo queimado, Elisângela foi socorrida, ficou internada dez dias e aguardava a realização de uma cirurgia, mas não resistiu a uma parada cardiorrespiratória, aos 33 anos.
Mas por que isso aconteceu? O óleo, quando aquecido a altas temperaturas, torna-se inflamável. A água, ao entrar em contato com o produto quente, evapora instantaneamente. O vapor de água gerado se expande de forma rápida e se combina com o oxigênio presente no ambiente. Essa mistura, em contato com o fogo, pode se inflamar e provocar explosão.
É frequente que pacientes que sofrem acidentes parecidos com o de Elisângela, dentro de casa, sejam levados ao Hospital João XXIII, no centro de BH, referência no Estado para atendimento a queimados. “Os casos que mais acontecem são no ambiente doméstico (70%), principalmente com crianças e na cozinha. É fundamental educar e orientar, tanto dentro de casa quanto nas escolas, para evitar acidentes com queimaduras”, comenta a médica Kelly Araújo, coordenadora do Departamento de Queimados da unidade.
A especialista, que é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), orienta o que fazer em situações como a que aconteceu com Elisângela: “Em caso de fogo por conta do óleo quente, o correto é tentar cortar o oxigênio, abafando as chamas com uma tampa ou um pano úmido”.
Outra dica é usar preferencialmente as bocas do fogão que ficam na parte de trás, para que os líquidos livres não atinjam a pessoa com tanta facilidade. Também é melhor deixar os cabos das panelas voltados para a parte de dentro. Para fritar ovos, a médica sugere utilizar somente um pequeno fio de óleo na frigideira e tampá-la.
Desigualdade aumenta casos
A maior parte dos acidentes que causam queimaduras acontecem em países considerados subdesenvolvidos ou que estão em desenvolvimento, como o Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A especialista Kelly Araújo, do João XXIII, ressalta que apenas 5% dos casos estão em países desenvolvidos.
Sem ajuda
Dos cerca de 1 milhão de pessoas sofrem queimaduras todos os anos no Brasil, apenas 100 mil procuraram atendimento médico, de acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ).
Quando e por que a queimadura pode levar à morte
O paciente que apresenta queimaduras em 20% do corpo ou mais é tratado como grande queimado, ou seja, considera-se que a pessoa tem grande risco de óbito, segundo Kelly Araújo.
Isso ocorre porque as alterações no tecido prejudicam todo o restante do sistema do organismo, podendo levar a um colapso total. A pele funciona como barreira vital contra micróbios nocivos: regula a temperatura corporal e dos fluidos. A depender da gravidade, as queimaduras podem ser irreversíveis.
As queimaduras podem ser em três graus. As de primeiro grau são as que ocorrem na camada superficial da pele. As de segundo levam à formação de bolhas. Já as de terceiro grau, mais graves, afetam as camadas mais profundas da pele.
Perigo nos líquidos.
Em 2022, dos 1.576 queimados atendidos no João XXIII, 934 foram por líquido livre (água ou óleo quente). Em 2023, do total de 1.688 casos, 1.003 foram por líquido livre – aumentos de 7,1% e 7,4%, respectivamente.
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