Após mais de um ano fechados, estabelecimentos do interior e dos arredores do estádio terão que seguir protocolos
O reencontro da torcida com os bares do Mineirão acontece hoje, em um cenário bem diferente do anterior.
O tradicional tumulto à beira do balcão vai dar lugar a protocolos de prevenção à Covid-19, que incluem a proibição de bebidas alcoólicas e o distanciamento nas filas.
Os estabelecimentos do interior e dos arredores da arena se prepararam para a reabertura e esperam que o público siga as regras para que a flexibilização seja mantida.
Há 36 anos administrando parte dos bares do Gigante da Pampulha, Sônia Maria da Costa, 66, afirma que a pandemia lançou os estabelecimentos em um período de dificuldade financeira, mas espera com ansiedade o retorno dos torcedores.
Ela é responsável por 22 estabelecimentos no estádio, que vendiam cerca de 7.000 refeições em dia de jogos lotados.
“Não só eu, como todo mundo que presta serviço para mim, pais e mães de família, todo mundo chegou na estaca zero. Graças a Deus foi uma alegria a volta do público. Espero que continue, estamos fazendo de tudo aqui dentro para o Gigante funcionar, tomando todos os cuidados. Na hora que eu vir todo mundo entrar aqui, acho que não vou aguentar. Só de falar, meu olho já enche de água. Sei o que eu passei, o que todo mundo passou, é muito triste”, diz ela.
O bar do Bolão, que fica na Esplanada, está se preparando para o aumento do movimento em relação aos dias sem partidas de futebol.
Mesmo sem a venda de bebida alcoólica, que impacta negativamente o faturamento, a gerência do estabelecimento celebra a volta da torcida.
“Aposto que o cara vai entrar aqui e comer um espaguete, um mexido. Porque ninguém compra mais de uma água ou de um refrigerante; agora, cerveja, o cliente compra até dez”, diz Marcos Rodrigo, responsável pelo Bolão.
Fechado para os clientes durante 2020, o Bar do Peixe, em frente ao estádio, voltou a receber a clientela neste ano e vai funcionar nesta quarta-feira (18), com esperança de que a torcida controle os ânimos e não se aglomere.
Em um clássico habitual, antes da pandemia, o estabelecimento vendia cerca de 600 pratos de tropeiro. Desta vez, o dono do bar, Ely Leal, pretende preparar cerca de 200.
“Perdemos vários amigos torcedores para a Covid e estamos preocupados com como o torcedor vai se comportar no jogo. Vamos vender na porta e pedimos encarecidamente que as pessoas mantenham o distanciamento. É um jogo de teste para todos nós. Estou superfeliz de a torcida voltar. Precisamos trabalhar e pagar nossas contas”, diz.
Talheres descartáveis e filas com distanciamento de 2 metros
O protocolo da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para o funcionamento de bares e restaurantes no estádio, durante o jogo entre Atlético e River Plate, pelas quartas de final da Libertadores, exige a proibição da venda de bebidas alcoólicas, o distanciamento de dois metros nas filas e que os talheres sejam descartáveis ou entregues em embalagens plásticas.
A administração do Mineirão garante que as medidas serão seguidas. “Os funcionários dos bares passarão por treinamentos de manipulação de alimentos, atendimento e protocolos sanitários. Nosso foco é na segurança e experiência”, disse o a assessoria do estádio em nota.
Os bares e restaurantes na Esplanada do Mineirão já estão em funcionamento, seguindo os mesmos protocolos dos demais estabelecimentos da cidade. Em dias de jogos, os bares ao redor do estádio vão funcionar das 11h às 23h, com limite de quatro pessoas por mesa, proibição de bebida alcoólica e no máximo uma pessoa a cada 5 m².
Ambulantes miram lucro mesmo com proibição
Os vendedores ambulantes preparam-se para as vendas no entorno do Mineirão e, se for preciso, para tentar escapar à fiscalização da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
Somente os vendedores licenciados pelo governo municipal, como pipoqueiros, têm autorização para circular pela área, mas os que comercializam bebidas já estão abastecendo os carrinhos, em meio à restrição da venda de bebidas alcoólicas na Esplanada e dentro do estádio.
“A fiscalização deve estar em dobro, mas grande parte dos nossos trabalhadores ambulantes não teve acesso nem ao auxílio emergencial. Com esses números de desemprego, muita gente demitida foi para a informalidade. Esse é o maior evento que teremos na pandemia e é uma oportunidade para quem está na informalidade ganhar um dinheiro e levar alimentação para dentro de casa”, diz o presidente da Associação dos Vendedores Ambulantes de BH, Adjailson Severo.
“Pode ter o problema que for, mas ambulantes vão, porque a necessidade é muito maior do que o medo”, concorda o presidente da Associação dos Barraqueiros da Área Externa do Mineirão (Abaem), Ernani Francisco.
Na fábrica de gelo Gelinho, na região Noroeste, o encarregado pela logística João Alves mantém expectativa em alta. “No começo da pandemia, a produção de gelo praticamente parou. Semana passada, com o jogo sem torcida do Atlético contra o Palmeiras, já subiu”, diz.
A catadora Eva Silva, 66, também pretende sair do bairro Mantiqueira, em Venda Nova, para catar latinhas no entorno do Mineirão. “Já teve jogo em que consegui 13 kg de latinhas. Com a pandemia, não estava conseguindo nada”, conta.
De acordo com a PBH, a Guarda Municipal fará ronda ao redor do estádio, e vendedores sem licença estão sujeitos à apreensão de mercadorias e a uma multa no valor de R$ 2.203,17.
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