Marcus Verhine, candidato à presidência do Bahia. Crédito: Divulgação
Comunicação clara com os sócios, foco na agenda ESG e conciliação entre os diferentes grupos políticos. Essa é a base do que Marcus Verhine se propõe a ser enquanto presidente do Bahia. Ele é um dos candidatos para comandar a Diretoria Executiva do clube nos próximos três anos, em eleição que será realizada neste sábado (2). Formado em Ciências Econômicas, Verhine é tricolor desde criança e disse que aprendeu na épica virada do Esquadrão contra o Santa Cruz, em 1981, que “o impossível não existe”. Foi conselheiro do clube entre 2013 e 2017 e também presidente do Conselho Fiscal entre 2017 e 2023. No dia 2 de dezembro, cerca de 7,8 mil sócios do Bahia poderão escolher o presidente e o Conselho Deliberativo do clube para o triênio 2024-2026 que, como associação, detém 10% dos direitos da SAF e tem o dever de fiscalizar e garantir o cumprimento do contrato assinado com o Grupo City. Confira abaixo a entrevista de Marcus Verhine ao CORREIO.
O Bahia Associação tem muito menos sócios que a SAF. De que forma você pretende trabalhar para alavancar esse número?
Tem uma comunicação falha na parte pós-close. Muitos sócios não sabem direito qual é o papel dele, qual o papel do clube. Então, a primeira ação que vamos fazer é estabelecer um canal direto com o sócio, um plano de comunicação claro, didático, mostrando qual o papel do sócio. Além disso, vamos redesenhar a política de benefícios dos parceiros para os sócios. Esses benefícios não estarão relacionados apenas a descontos, mas também a experiência. Nós podemos proporcionar algumas experiências do sócio com atletas, também vamos entrar em contato com ex-atletas. Os sócios serão consultados de forma extraordinária pelo menos uma vez por ano e serão envolvidos também em processos de planejamento estratégico, workshops e na consulta para a escolha da modalidade que vamos abraçar, e uma vez escolhida essa modalidade, o sócio terá acesso aos jogos através de um programa similar ao acesso garantido do futebol. Será uma gestão participativa, transparente e que vai buscar priorizar a participação do sócio. Por fim, o papel importantíssimo das embaixadas, com os sócios no interior e em outros países, as embaixadas podem fazer isso, tanto na aquisição de sócios como na de parceiros para o programa de sócios.
Como você avalia a gestão da Associação, principalmente nesse primeiro ano de SAF?
Eu fui conselheiro até outubro. Entendo que até o “close” (fechamento de contrato com o Grupo City) em maio, houve um processo de transição na transferência de ativos e passivos junto ao Grupo City. Mas após o “close” entendo que poderia ter sido diferente, porque houve uma falha na comunicação para os sócios do clube, de falar qual o papel deles nesse processo, a importância que o clube tem na SAF. Acompanhei muitas reuniões do Conselho Deliberativo e muitos conselheiros insistiam em solicitar à diretoria um processo de discussão de planejamento sobre o futuro pós-SAF, e isso de fato não aconteceu. Do ponto de vista da relação com a SAF, em agosto, o Conselho Deliberativo escolheu o representante do clube no conselho fiscal da SAF, previsto em estatuto, e até hoje não tomou posse. Não há justificativa para esse atraso.
Qual é a principal ação a ser tomada de imediato na gestão da Associação?
Formatar o plano de comunicação para os sócios, vamos abrir a seleção para o gerente de projetos, que vai ter um papel fundamental e está previsto no orçamento, é exatamente a pessoa que vai ajudar na captação de recursos e elaboração de projetos para as modalidades esportivas. Vamos iniciar o processo de planejamento estratégico participativo, já engajando os sócios para fazer parte desse novo modelo de atuação. Há outra medida também que está relacionada à agenda ESG. Vamos aderir ao Pacto de Equidade Racial aqui em Salvador. É um gesto, no sentido de clube, de participar da construção da sociedade baiana. Sem a gestão do futebol, o trabalho da Associação fica um pouco mais longe dos holofotes.
De que maneira você pretende comunicar o trabalho da diretoria para o torcedor sem que pareça algo chato e burocrático?
Vamos ter um plano de comunicação específico para isso. Será algo costurado, estudado. A gestão transparente não é só pegar as informações e jogar no site. É explicar para o sócio de maneira clara para que todos entendam aquilo que está sendo dito. Não adianta nada ter o balanço para divulgar e ninguém explicar nada. É preciso ter relatórios específicos sobre o próprio “close” e relacionados a finanças, mas também teremos um acompanhamento trimestral das metas, prazos, indicadores, no que será a implantação de uma nova cultura de acompanhamento da gestão do clube. É uma forma de engajar os sócios na vida do clube. Vamos abrir um canal de escuta direto com os sócios para levar contribuições para o conselho administrativo da SAF. O próprio City espera uma postura proativa, que agregue valor à SAF, mas de forma que nós mantemos nossa cultura, a nossa alma tricolor, e é nosso papel levar essas informações e sugestões do sócio e da sócia.
Quais outros esportes estão em pauta como prioridade de desenvolvimento do clube?
Nosso processo de definição das modalidades olímpicas, paralímpicas e não olímpicas é fazer um levantamento das modalidades que têm relação com nossa cultura. Na sequência, vamos consultar os sócios, e até por isso não temos uma modalidade pré-definida. Após a consulta, faremos um estudo técnico de viabilidade financeira, levando em conta as oportunidades de mercado e os custos relacionados à própria modalidade. Na sequência, faremos o projeto para adequar à Lei de Incentivo ao Esporte, e procuraremos parceiros na iniciativa privada para essa modalidade ganhar corpo. Parceiros também para termos casa para os jogos, e à medida que o processo for crescendo, a ideia é sermos competitivos. Conhecemos a torcida do Bahia, que é exigente, ela nasceu para vencer, a modalidade é para ser vencedora. Queremos explorar o matchday (dia do jogo) não só com ingressos, mas com o consumo.
De que forma você imagina que o fomento a esses esportes pode aproximar o torcedor do clube?
A gente sabe que o torcedor do Bahia ama futebol, mas ele ama mais o Bahia. Se ele encontrar, na praia, um time com a camisa do Bahia, já vai querer saber se ele está ganhando. É uma forma de engajarmos os sócios. Nosso projeto estabelece uma meta que, no último ano de gestão, apresentarmos um projeto para termos nosso próprio ginásio. Isso vai ser importante para engajar os sócios, porque ele vai também poder usufruir daquele espaço, quando tivermos os jogos, virar um espaço de convivência e ponto de encontro.
Por falar em torcida, há anos se fala da relação do Bahia com o interior do estado. Como você planeja uma melhor difusão do clube pelo território baiano?
Nosso estatuto já estabelece como o clube deve se relacionar com as embaixadas. É uma pena que isso não esteja sendo cumprido. As embaixadas são importantíssimas e serão ainda mais no processo de engajamento do sócio, para fazer a interlocução com o sócio do interior e do exterior, pode identificar parceiros para o plano de sócio que será redesenhado, poderão participar de experiências também. Quando tivermos a modalidade esportiva, nossa equipe fará viagens, então podemos fazer ações junto com as embaixadas. Podemos conversar com a SAF para fazer ações relacionadas ao futebol, porque fortalecer a nossa marca no interior é importante para o futebol também.
Você estabeleceu metas macro para cada ano de sua gestão? Quais são elas?
Com relação a sócios, temos atualmente cerca de 7,8 mil sócios em dia. Pretendemos mostrar ao sócio qual o papel dele na associação com transparência e engajamento. Logo no início, podemos chegar a uma média de 10 mil sócios para o ano que vem, 15 mil em 2025 e 20 mil em 2026. No segundo ano, a ideia é que as modalidades já ganharem corpo, quando entram os recursos da Lei de Incentivo ao Esporte e podemos também explorar o matchday. Com essa projeção e com as ações que pretendemos fazer em relação a captação de recursos, recorrendo ao setor privado, também a parceiros do próprio City, e à Lei de Incentivo ao Esporte, nossa projeção de receita é de R$ 7,5 milhões para o ano que vem, R$ 14 milhões em 2025…