+ BH tem mais gente em extrema pobreza do que 844 cidades em MG têm de habitantes
O número de pessoas em situação de extrema pobreza na região Norte, que faz divisa com o município de Santa Luzia, na região metropolitana, é duas vezes superior à quantidade de pessoas que vivem com até R$ 105 reais na região Centro-Sul de Belo Horizonte, a quinta região com a maior população de extrema pobreza, e quase cinco vezes superior à quantidade daqueles que moram na região Oeste, que possui o menor registro (5.708).
Para o pesquisador e coordenador de políticas públicas do Movimento Nossa BH, André Veloso, o que se observa em Belo Horizonte é a desigualdade em âmbito municipal e regional. “No contexto da cidade, essas pessoas são deslocadas para as periferias das regiões Norte, Venda Nova e Barreiro. Já na escala regional, a desigualdade é aguda entre bairros ricos e pobres, como na região Centro-Sul, em que você vê a riqueza em contraste com o Aglomerado da Serra, o Morro do Papagaio e o Morro das Pedras”, exemplifica.
O levantamento do CadÚnico mostrou ainda que a região com o segundo maior número de pessoas em situação de extrema pobreza é a Noroeste, com 13.196. Ela é seguida pelas regiões do Barreiro (12.618) e pela Leste (12.579). As regiões da Pampulha (7.455) e Oeste (5.708) são as que possuem o menor número de indivíduos na citada condição. “É bem possível que um grande número de pobres ou extremamente pobres vivam dentro da capital, sejam por regiões de habitação precária e/ou ocupação irregular, mas normalmente estão nos limites, principalmente, por causa da valorização territorial”, afirma Bruno Lazarotti.
Pessoas em situação de extrema pobreza por regional de BH
Região Norte – 28.191
Região Noroeste – 13.196
Região Barreiro – 12.618
Região Leste – 12.579
Região Centro Sul -11.861
Região Venda Nova – 8.992
Região Nordeste -8.738
Região Pampulha – 7.455
Região Oeste – 5.708
Registrados fora da área CRAS – 120.364
Endereço não georreferenciado – 8.886
Dados: CadÚnico Abril 2022
Novo Aarão Reis tem o maior números de pessoas em situação de extrema pobreza
O bairro Novo Aarão Reis, na região Norte de Belo Horizonte, é o que possui o maior número de pessoas em situação de extrema pobreza na capital. São 7.226 pessoas registradas no CRAS Novo Aarão Reis — Brasilina Maria de Oliveira até o mês de abril deste ano. Os cadastros são indivíduos que vivem com renda individual de até R$ 105. Para o líder comunitário do bairro Novo Aarão Reis, Marcos Oliveira dos Santos, a pobreza se acentuou na região Norte, principalmente durante os anos de pandemia. Ele, que reside no bairro há 27 anos, relata que este é o período de maior dificuldade desde que se mudou, ainda adolescente.
“Chegou um momento em que não conseguimos mais atender as demandas. O número de pessoas que precisam de ajuda aumentou e nós não tínhamos mais doações”, disse o líder comunitário, em relação aos inúmeros pedidos de doações de alimentos e produtos de higiene. Marcos do Santos aponta que, além dos problemas com itens essenciais, a população da regional tem enfrentado desafios com a infraestrutura. “Durante a pandemia, com os alunos em home-office tivemos que ajudar com internet, por exemplo. Algumas precisaram de ajuda até para ir ao hospital”, disse.
Desigualdade de renda aponta também dificuldade no acesso aos serviços públicos
Os desafios para quem vive nesses bolsões de pobreza são diversos: a falta de infraestrutura e até a dificuldade no acesso a serviços de mobilidade e de saúde fazem parte do dia a dia de mais de 100 mil famílias. Um estudo realizado pelo Movimento Nossa BH apontou que moradores do bairro Capitão Eduardo, na região Nordeste da capital, demoram dez vezes mais tempo para chegar a uma unidade de saúde de alta complexidade, em horário de pico, que moradores do bairro Funcionários, na região Centro-Sul. O levantamento mostrou que os moradores do bairro Capitão Eduardo passam cerca de 67,1 minutos no trânsito em deslocamento. Enquanto os moradores do Funcionários, apenas 5,9 minutos.
Para o pesquisador e coordenador de políticas públicas do Movimento Nossa BH, André Veloso, muitos dos moradores acabam optando por carona ou até mesmo por se deslocar a pé devido a falta de transporte público. “A distribuição do transporte público acentua as desigualdades regionais e sociais de Belo Horizonte, enquanto deveria ser o contrário. O transporte público deveria ser voltado para combater as desigualdades, mais abundante e mais barato, justamente onde as pessoas mais precisam del”, afirma.
O ranking da falta de acessibilidade das unidades de saúde seguiu com moradores dos bairros Beija Flor (65 minutos) e Maria Tereza (64,5 minutos), ambos na região Nordeste. Já quem reside no bairro Funcionários enfrenta apenas 5,9 minutos. O levantamento é do Mapa das Desigualdades 2021, um estudo desenvolvido pelo Movimento Nossa BH e que tem como objetivo mapear as informações sistematizadas e territorializadas sobre as condições socioeconômicas, raciais e de gênero dos bairros belo-horizontinos.
O estudo apontou também que moradores dos bairros da região Centro-Sul possuem as maiores rendas médias em Belo Horizonte, sendo Belvedere com 11,6 salários mínimos, e São Bento e Comiteco com 7,7. Do outro lado, os moradores da Grotinha (região Nordeste) , o Distrito Industrial do Jatobá (região do Barreiro) e o Vila Real II (região Noroeste) vivem com uma renda média de até 0,3 salários mínimos cada um.
Para Bruno Lazarotti, essa diferença de renda é consequência da segregação socioeconômica que, segundo ele, caminha junto à segregação espacial. No entanto, apesar dessas pessoas viverem na metrópole, onde a circulação de dinheiro é maior, elas vivem em situação precária. “A partir disso, a necessidade de políticas públicas, é um fenômenos das grandes cidades que não dá para ignorar”, conclui.