Uma semana depois da primeira visita do presidente Lula (PT) a Minas, a passagem dele ainda repercute no Estado. Com petistas mineiros pouco privilegiados, a percepção de correligionários é que, ao contrário de fortalecer as candidaturas de prefeitos da legenda, o maior beneficiado foi o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, do PSD.
Com direito a selfie com Lula, além de ter sido o anfitrião do presidente no Estado, Fuad foi o único prefeito a se sentar à mesa do evento oficial com o petista, além de assinar atos para demandas da cidade, como a revitalização do Anel Rodoviário e a cessão de parte do aeroporto Carlos Prates. Enquanto isso, prefeitos petistas, que, assim como Fuad, devem ser candidatos à reeleição, foram pouco citados, e os pré-candidatos à Prefeitura de BH ligados à esquerda também ficaram de lado na agenda.
Apesar de a visita ter tido como um dos objetivos amenizar as cobranças por uma agenda do presidente no Estado, que foi decisivo para sua vitória em 2022, o incômodo começou ainda na chegada antecipada de Lula, que pegou muitos de surpresa. No evento, a queixa era que os petistas não tiveram lugares reservados nem para se sentar.
As referências aos políticos mineiros do partido se limitaram aos discursos do governador Romeu Zema (Novo) e do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD), que foram os únicos, por exemplo, a mencionar a presença da prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), gestora da maior cidade administrada pelo PT no país. Com um dos maiores eleitorados de Minas, Juiz de Fora, que a princípio também seria contemplada pela visita, foi retirada da agenda de Lula. Nos bastidores, a justificativa foi a logística devido ao curto período do presidente no Estado, já que, se fosse a Juiz de Fora, também deveria ir a Contagem.
Em ano de eleição, era esperado que a agenda de Lula contemplasse mais seus correligionários. A prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), deve enfrentar uma disputa acirrada. Na avaliação de interlocutores, a ausência de Lula é sintomática de um descaso do PT com Minas, que tem tido dificuldade de interlocução em Brasília. Quem tem ajudado a fazer essa ponte seria Rodrigo Pacheco.
Fuad x Lula Apesar de a visita de Lula ter sido anunciada e comemorada pelo pré-candidato do PT à PBH, o deputado federal Rogério Correia, a agenda do presidente pode ter fortalecido justamente a candidatura do seu principal concorrente, o prefeito Fuad. Correia recepcionou Lula na base aérea ao lado de Fuad, mas não teve protagonismo no evento no Minascentro nem nenhuma outra agenda com Lula, mesmo ele passando grande parte da quarta-feira em Belo Horizonte.
A explicação para essa postura pode estar em uma desconfiança sobre qual será o envolvimento de Lula nas eleições da capital mineira. Há quem aposte que os esforços ficarão concentrados em 2026, quando a intenção é fazer uma aliança com Pacheco para o governo de Minas. Lula não estaria interessado em se envolver nas eleições municipais sem que houvesse alguma candidatura competitiva para apoiar em BH. Ele deve aguardar as pesquisas, já que tanto Fuad quanto Correia não são até o momento os candidatos mais bem colocados.
Outra linha diz que a candidatura de Correia é uma forma de o PT retomar algum protagonismo no Estado após o grande desgaste com o ex-governador Fernando Pimentel (PT), que fez uma gestão com índices altos de desaprovação e até hoje é marcado pelo parcelamento de salários e calote em prefeituras.
A candidatura de Correia seria uma alternativa para o PT ao menos ter um peso na hora de negociar apoio no segundo turno a outro candidato, que poderia ser o próprio Fuad. A ideia é que, em um segundo turno, o PT possa rivalizar com grupos de direita alinhados ao bolsonarismo e a Zema.
Correia nega ter sido preterido e diz que Lula volta em março
O pré-candidato do PT à Prefeitura de Belo Horizonte, Rogério Correia, disse que Lula deve voltar a Minas em março e visitar outras cidades. Ele reforçou o apoio do partido à sua candidatura e classificou a relação de Lula com Fuad como “republicana”.
“Assim como foi com o Zema. Ele tem uma relação republicana, assinou verbas importantes que virão pra cá e não poderia ser diferente, uma prefeitura é muito importante para as obras que vão acontecer aqui. E na próxima vinda ele irá também à UFMG, que tem dois prédios da Belas-Artes já feitos, vão funcionar agora em março”, adiantou.
O parlamentar disse que, diferentemente de outros candidatos, já teve conversas com o presidente antes da visita. “Quando o presidente Lula me chamou no Palácio do Planalto para poder informar e discutir a agenda, é, claro, que ele fez uma sinalização muito clara do apoio que está dando a minha pré-candidatura. Não existe a possibilidade de uma composição em que o PT não tenha a cabeça de chapa, ele (Lula) já me deixou isso claro. O presidente sabe muito bem que tem duas candidaturas, a do Fuad, que disse ao presidente que pretende ser candidato, é a minha. O presidente respeita isso, mas, evidentemente, até por eu ser vice-líder dele, fundador do PT, ele tem um carinho mais especial com a minha pré-candidatura”, afirmou.
Correia ainda negou qualquer insatisfação de quadros do PT com a visita do de Lula. “Nós fizemos uma reunião onde estava a direção estadual, a municipal, os movimentos sociais para organizar, inclusive, a vinda do Lula, quem seriam os convidados. Eu sei que o PT está nacionalmente unificado e é a minha pré-candidatura já foi homologada”, acrescentou.
Presidente. Procurado, o presidente do PT em Minas, o deputado estadual Cristiano Correia, também negou qualquer desprestígio de Lula a quadros do partido no Estado.