Foi em 2021, em plena pandemia, que a Casa Fúnebre abriu suas portas em frente ao Cemitério da Saudade, na região Leste de Belo Horizonte. Naquela época, os proprietários contavam com o Carnaval 2022, que acabou não acontecendo, após a chegada da terceira onda de Covid-19. Apesar de um início difícil, pouco a pouco a casa foi atraindo a atenção de clientes e se tornou, digamos, “a casa do Carnaval de BH”. “O intuito era ser sede do Bloco Fúnebre para realizar ensaios, ações e oficinas. Mas no ano passado recebemos por volta de 80 blocos”, conta Flávia Ribeiro, de 38 anos, sócia-proprietária da casa ao lado de Leonardo Duarte e Tales Lacerda, e também vocalista do bloco. Este é um exemplo de bares e casas de shows que faturam alto em todo o período anterior ao Carnaval, ao abrigar os ensaios dos blocos – e seus fiéis seguidores. Uma prova de que o pré-Carnaval é uma grande oportunidade de negócio em Belo Horizonte. Os ganhos da Casa Fúnebre vêm, especialmente, do período pré-folia, já que durante o Carnaval o bar fecha as portas. “As pessoas vão para rua. Nosso público está na rua”, explica a sócia-proprietária do bar. Neste ano, a expectativa é de um incremento de 50% na receita do estabelecimento em relação a 2023. O índice é bem acima do esperado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas (Abrasel-MG), que prevê um aumento de 15% no faturamento do setor de 27 de janeiro a 18 de fevereiro deste ano. Os ensaios de blocos na Casa Fúnebre são gratuitos e abertos ao público. O bar oferece toda a estrutura aos grupos e os foliões, ganhando, em contrapartida, nas vendas e divulgação. “Agora tem vários lugares que abriram com intuito de pegar ensaio. Antes, [os bares] cobravam dos blocos. Eles já tinham faturamento e ainda recebiam dos blocos. A Casa Fúnebre tem visão de bloco para bloco. Abriu com empatia”, detalha Ribeiro, proprietária da casa. Desde meados de setembro do ano passado, já passaram pelo bar blocos que arrastam uma multidão nas ruas de BH, como Baianas Ozadas, Tchanzinho Zona Norte e Pisa na Fulô. O desfile do Bloco Fúnebre neste ano será na sexta-feira (9/1). O cortejo está previsto para sair à 0h da praça da Bandeira, na região Centro-Sul da capital. Ensaio de bloco no bar Xangô, na Sapucaí, em BH. Foto: Instagram @xangobh/Reprodução Sapucaí: o ponto de encontro e descanso dos foliões Quem também tem faturado com o pré-carnaval é o bar Xangô, localizado na rua Sapucaí, no bairro Floresta, na região Leste de BH. O local passou a ser base para ensaios de alguns blocos e viu seu faturamento aumentar até 10% nesses dias. Desde março do ano passado, o estabelecimento também foi beneficiado com o fechamento do tráfego na via aos domingos, das 8h às 15h. Diante de um movimento aquecido semanas antes do Carnaval, Pedro Ludolf, de 45 anos, sócio-proprietário da casa ao lado de Patrícia Marques, está com expectativa alta para o Carnaval 2024. “Ano passado foi bem legal e acredito que este vai ser mais ainda. Tem muita gente vindo para cá. Pelo número de blocos, superamos o Rio. Em termos de movimento, deve ser 15% a mais para gente”, detalha Ludolf. Durante o Carnaval, pela rua Sapucaí passam milhões de foliões e a via funciona como o “esquenta” e também a “dispersão” do público. Fora isso, blocos já tradicionais de BH, como o Corte Devassa, fazem seu cortejo por lá. Além de faturar com os ensaios, durante a festa o Xangô também deve estender seu atendimento, já que não terá concorrência dos estabelecimentos ao lado, que permanecerão fechados, dando férias coletivas para os funcionários. “É uma via de mão dupla: não se pode colocar mesa na rua, mas a venda de balcão aumenta bastante. É um movimento intenso; muita gente na rua. Quando o bloco está passando é literalmente um sufoco”, detalha Ludolf. Para conseguir atender a demanda, o empresário vai reforçar seu estoque em 20%, especialmente de latas. “Já sirvo chopp e dá para servir drink on tap (prontos para beber). Fora do habitual, devo gastar uns R$ 2 mil, já que os fornecedores devem oferecer promoção no Carnaval. Um problema grande é o gelo: a demanda aumenta muito e é importante o estoque”, diz o sócio-proprietário do Xangô. Com unidade na Sapucaí, além da Savassi, o Laicos terá horário de funcionamento especial durante o carnaval e também quer ser o ponto de encontro dos foliões, oferecendo ambiente climatizado e pontos de energia para carregar celular. Além do cardápio tradicional, a casa vai oferecer lanches rápidos, no estilo Drive Thru. Haverá ainda uma opção de drink saindo pela metade do preço, todos os dias. Filé, bar tradicional da avenida Fleming, no bairro Ouro Preto, em BH. Foto: Flavio Tavares/O Tempo Restaurantes fora da rota carnavalesca também faturam Ao que parece, todo mundo sai ganhando com o Carnaval de BH, até mesmo os estabelecimentos que ficam fora do núcleo da festa, distantes da região Centro-sul da capital. Neste ano, o Filé, tradicional bar da famosa avenida Fleming, no bairro Ouro Preto, na Pampulha, tem expectativa de uma média de 10% a 15% de aumento do seu faturamento no período. “A expectativa é sempre crescente, visto que cada vez mais foliões estão vindo de outros Estados”, conta Marco Aurélio Magalhães, de 47 anos, gerente do Filé. Ele conta que, na região, o bairro com cortejos de blocos mais próximo é o Castelo, mas os foliões acabam frequentando a casa no pré e pós-desfile. “Ao término dos bloquinhos, eles vêm em busca de boa refeição e acabam encontrando um ambiente agradável e continuam a festejar conosco”, explica. Entre os pratos que fazem mais sucesso no bar, estão o contra filé com fritas (R$ 92,90), o espeto de picanha (R$ 63,90) e o baião de dois (R$ 32,90). O local também conta com uma carta grande de drinks e oferece chopp. Para “segurar” os clientes na casa durante o Carnaval, o Filé conta com uma programação musical “mais animada” durante a festa. Durante a folia, a média de clientes passa de 700 a até 1.200 num dia. Para dar conta da demanda, Magalhães conta que à equipe fixa de 70 colaboradores unem-se freelancers nos dias de maior movimento. Segundo Karla Rocha, presidente da Abrasel-MG, diferentemente do Natal, no Carnaval não há expectativa de contratação de pessoal no setor. “Os estabelecimentos reduzem o cardápio. É muito específico, precisa de agilidade”, explica. O governo estadual prevê, porém, a criação de 24 mil empregos temporários. Entram na conta profissionais dos setores de comércio e serviços, como hotelaria, além de limpeza urbana. Mudança no fechamento de ruas a pedido da Abrasel-MG Neste ano, haverá uma estratégia nova para o fechamento de ruas em Belo Horizonte para a passagem dos bloquinhos de Carnaval. Os trajetos serão fechados pela BHTrans apenas uma hora antes da passagem do cortejo e liberados logo após o encerramento da atividade. A novidade foi definida num acordo entre a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG) e a Belotur. Ainda serão criados os chamados ‘bolsões’, uma estratégia que prevê que os cortejos saiam sempre do mesmo lugar em determinadas áreas/regiões. Assim, as mesmas ruas estarão fechadas entre sábado e terça-feira da festa, garantindo uma previsibilidade da população para se deslocar pela cidade. Outra novidade definida durante o encontro entre Abrasel-MG e a Prefeitura de Belo Horizonte é que os donos de bares e restaurantes agora poderão solicitar credenciais para atuarem como ambulantes no Carnaval. !function(e,t,n,c,o,a,f)(window,document,”script”),fbq(“init”,”6157506134366228″),fbq(“track”,”PageView”)