Presente no dia a dia do feminino do clube, o goleiro sabe das diferenças entre categorias e colabora do seu modo para ajudar no crescimento da modalidade
A bola estava prestes a rolar no Sesc Venda Nova para América e Atlético, no último domingo (11), para o primeiro jogo das quartas de final do Campeonato Brasileiro Feminino A-2, quando Matheus Cavichioli chegou ao estádio, de forma discreta, para acompanhar a partida. De folga, o goleiro do time profissional masculino do Coelho foi, segundo ele, ‘aprender com as meninas’.
O defensor é figura presente junto ao time feminino do clube e tem como elo Flávia Magalhães, médica da equipe; através dela, se informa de horários de treinos, jogos e viagens. Em suas redes sociais, Cavichioli publica com frequência mensagens de apoio as atletas. Porém, a relação só se estreitou em maio, quando ele esteve presente em um treinamento.
“Vim em um treino, trouxe pares de luva para as goleiras. É importante que a gente esteja próximo, juntos, ainda mais quando a gente, graças a Deus, tem uma condição de ajudar. Passei por momentos onde não tinha condição financeira ou alguém que pudesse fazer isso por mim, até que pessoas bacanas passaram pela minha vida, me ajudaram, principalmente com material que é difícil”, disse o jogador.
Matheus Cavichioli explica que possui contrato de patrocínio no qual recebe luvas, artigo que, para jogadoras do time feminino, não é tão acessível. “O pessoal pouco se atenta para os valores que o material de qualidade tem e para o futebol feminino acaba se tornando ainda mais difícil, porque a gente sabe da realidade que não tem essa remuneração como é o masculino. Trouxe as luvas, assisti um pouco do treino, conversei com elas, nada melhor do que poder acompanhar e fazer com que cresça, faz bem para o esporte, para o clube”, revelou o goleiro, em entrevista exclusiva ao Super.FC.
O goleiro explica que gosta do futebol, do futebol feminino e do esporte, e fica feliz ao ver a felicidade das atletas. Faz questão de reiterar que não quer atenção para si apenas por acompanhar a modalidade. “Vim do CT para cá pensando no que dizer, falar, contar um pouco da minha história e de como comecei, o quanto foi difícil. Só que falar para qualquer uma dessas meninas sobre dificuldade vou estar sendo totalmente fora do eixo porque elas têm total conhecimento da dificuldade que é”, pontuou.
Início difícil e conquista do sonho
Aos 34 anos, Matheus Cavichioli está disputando pela segunda vez a Série A do Campeonato Brasileiro, porém, a primeira tendo sequência como titular. Sua estreia na elite foi em 2012, quando defendia o Sport; atuou em um jogo, como reserva, na vitória do Náutico por 1 a 0 sobre o Leão da Ilha. O goleiro disse que esta e as futuras gerações do futebol feminino devem seguir o exemplo das principais vozes, como Marta, e persistir.
“Perseverança. No trabalho, as coisas não acontecem na maioria das vezes como a gente quer, mas tudo tem seu tempo, eu esperei 17 anos da minha vida para jogar uma Série A, com 34 para 35 anos, então às vezes para alguns acontece antes, para outros, depois, mas a paciência e persistência permanecem”, ressaltou.
“A única coisa que peço em troca é que no momento em que elas estiverem em um momento bom, consolidadas na profissão, que elas façam isso por alguém. Quando tiverem condições de ajudar da mesma forma que eu fiz, que façam. Porque foi isso que me pediram para fazer. O cara que me ajudou, no momento que mais precisava de material esportivo, que eu não tinha condições, ele disse que não queria nada em troca, e que eu fizesse por alguém”, contou o goleiro.
O defensor americano foge dos holofotes. “Nunca foi a minha vontade, fico até sem graça na maioria das vezes”. Agora, no América, Cavichioli é titular absoluto: são 67 jogos, todos como titular.
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