Lyvia Prais diz ter sido vítima de violência doméstica de 2013 a 2015, período em que morou com o atual presidente do PT Contagem, Miguel Ângelo. O político nega as acusações
“A primeira agressão foi um tapa no rosto dentro do carro voltando de uma festa. Depois, evoluiu para puxões de cabelo, socos, chutes, e, por fim, fui violentada sexualmente”. Esse é um trecho do depoimento da jornalista Lyvia Prais, de 27 anos, que afirma ter sido vítima de violência doméstica entre os anos de 2013 e 2015, período em que morava com o atual presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Contagem, na região metropolitana, Miguel Ângelo Andrade. O político nega as acusações.
Na última sexta-feira (6), Lyvia usou uma rede social para quebrar o silêncio de seis anos e denunciar as agressões sofridas. “Nem a minha família sabia que eu havia sido vítima de violência doméstica. Demorei seis anos para falar sobre o que passei, porque somente agora, depois de me cuidar psicologicamente, me senti forte para contar a minha história. E agora, com o meu relato, posso ajudar outras mulheres que foram ou são vítimas de violência doméstica a se libertarem da dor”, explicou.
No sábado (7), Lyvia foi até a Delegacia Especializada de Plantão de Atendimento à Mulher, em Belo Horizonte, e fez um boletim de ocorrência. O caso já está sendo investigado. Foi realizado também um pedido à Justiça de medida protetiva de urgência para que o suspeito fique distante dela.
Lembranças doloridas
Em entrevista a O Tempo Online, a jornalista contou que conheceu Miguel Ângelo em um evento político que aconteceu em Timóteo, na região do Vale do Aço, no ano de 2012. Os dois trabalharam juntos por um curto período, até que ela se mudou para Belo Horizonte para viver com ele. Lyvia ainda lembra que, depois que eles começaram a morar juntos, tudo mudou. O atencioso e pacato companheiro revelou seu lado agressivo e cruel. A comunicadora diz ter sido violentada física e emocionalmente várias vezes durante os quase dois anos em que o casal ficou junto.
O primeiro deles, segundo ela, foi quando os dois voltavam de uma festa. “Eu estava fumando no banheiro com outras amigas quando ele apareceu, impaciente, querendo ir embora. Dentro do carro, ele começou a me xingar e me deu tapas no rosto. Eu não sabia o que fazer, pensei até em pular do carro em movimento. Comecei a gritar para pedir ajuda, ele parou o carro e eu saí correndo, sem destino. Eu não falei com ninguém sobre o que acontecido por vergonha e orgulho”, narrou.
Em outro episódio, em uma confraternização com amigos, na versão de Lyvia, Miguel Ângelo teria a acusado de traição. “Nesse dia eu levei chutes, socos e puxões de cabelos. Dei um chute nele para que ele parasse as agressões, mas elas só pioraram”, detalhou.
Estupro – A jornalista ainda conta que foi vítima de estupro. “Era a última noite que eu passaria debaixo do mesmo teto com ele. Ele foi até o meu quarto e me estuprou. Nunca imaginei que ele poderia fazer algo tão cruel comigo, mas fez, e semanas depois, descobri que havia contraído uma doença sexualmente transmissível”, contou.
Perseguição – Ainda conforme a comunicadora, após o término, ela foi perseguida por quase um ano por Miguel Ângelo. “Ela me ligava insistentemente, ligava para minha mãe para falar que eu o traía. Me seguia na rua até a porta da minha casa. Tudo isso parou quando ele se mudou para o exterior, foi quando pude retomar a minha vida”, disse.
Violência Psicológica – Lyvia ainda revelou que a última vez que viu Miguel Ângelo, foi no mês passado, em um ato político na região central de Belo Horizonte. Ela firma que, na ocasião, foi coagida e violentada emocionalmente pelo político. “Depois de tudo que ele me fez passar, ele ainda veio até mim e me cumprimentou estendendo a mão nesse evento. Eu gelei e achei ele sarcástico com o cumprimento. Me senti coagida, aí toda a dor voltou”, relembrou.
Versão do suspeito
À reportagem Miguel Ângelo disse que vê com o caso com indignação e afirma que as acusações são mentirosas.
“Diga-se de passagem, passados quase seis anos da separação, somente no último sábado, a denunciante procurou a Delegacia de Mulheres para registrar suas fantasiosas denúncias, as quais não pode comprovar, pois representam denunciação caluniosa. Sabedor da atuação séria deste veículo, alerto para o fato de que quem me acusa não apresenta quaisquer evidências. E não poderia ser diferente, uma vez que as acusações são falsas, sem contemporaneidade e criminosas. Registro o avanço representado pela Lei Maria da Penha no combate à violência contra a mulher, mas o que me parece é que a alegada vítima adota uma estratégia que tem se tornado cada vez mais comum nestes tempos de pós-verdade: a de veicular insistentemente uma mentira nas mídias sociais, na tentativa de que, mesmo sem qualquer fundamento, ela possa, inadvertidamente, ser tomada como verdade”, pontuou a nota.
PT
Sobre as acusações, a Secretária de Mulheres do PT, Andréa Cangussú, disse que o caso está sendo acompanhado.
“A luta contra o machismo, contra a violência e a favor das mulheres é um princípio básico do PT. Sempre tratamos com rigor, transparência e justiça qualquer denúncia apresentada. O caso citado está sendo acompanhado pela Secretaria Estadual de Mulheres, que, após analisá-lo, tomará as medidas cabíveis de acordo com o Estatuto”, frisou a nota.
Polícia Civil
A Polícia Civil informou que instaurou um procedimento investigativo para apurar os fatos e que a investigação tramita na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Contagem. “Outras informações serão prestadas em momento oportuno”, finalizou a nota.
Reportar
Qualquer tipo de violência contra a mulher é crime, como prevê a Lei Maria da Penha e deve ser denunciada pelos telefones 100, 180 ou 190. A denúncia também pode ser feita presencialmente em qualquer delegacia. Em Belo Horizonte, a Delegacia de Plantão de Atendimento à Mulher fica na avenida Barbacena, 288, no barro Preto, na região Centro –Sul. O local funciona 24h por dia. Para mais informações basta ligar (31) 3330-5752
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