A tradição e a ancestralidade da gastronomia afro-brasileira marcaram o fim de semana em Itaparica. O aroma do azeite de dendê atraiu moradores e visitantes da cidade que celebraram o I Festival do Acarajé, em homenagem ao Dia Nacional da Baiana de Acarajé, comemorado no dia 25 de novembro. O objetivo do evento foi promover a cultura baiana através da gastronomia, reunindo os mais diversos amantes do quitute, e exaltar o ofício das baianas de acarajé que é considerado um patrimônio histórico cultural brasileiro.
Tradicionais baianas de Acarajé itaparicanas, que mantêm viva a tradição do preparo desse quitute tão especial da gastronomia baiana, compartilharam segredos da preparação do famoso bolinho feito de massa de feijão fradinho frito no azeite de dendê, em uma aula show aberta ao público, que foi convidado a colocar a mão na massa. Os acarajés preparados durante o festival foram distribuídos para os participantes do evento que fizeram fila para degustar a iguaria gratuitamente. O festival contou também com atividades culturais, como apresentações de grupos de roda de samba e capoeira.
A venda do acarajé teve início há quase 300 anos, no Brasil, durante o período da escravidão. Na época, mulheres negras escravizadas usavam o dinheiro da venda dos quitutes para comprar a sua própria alforria. Após a abolição da escravidão, o acarajé passou a ser oferenda nos terreiros de candomblé, e seu significado na culinária e cultura popular brasileira são indissociáveis das baianas, que continuam perpetuando a tradição africana e ganhando o sustento de suas famílias através da venda da iguaria.
Os segredos das receitas do acarajé também são uma forma de transmissão de conhecimento e saberes entre gerações. Foi o que aconteceu na família da baiana Letícia Bispo Gonçalves,44 anos. Neta da primeira baiana de acarajé da praia de Ponta de Areia, a mãe de santo dona Cecília, ela é a terceira geração da família que perpetua a tradição da venda de acarajé, que começou há mais de 60 anos, em Itaparica.
“Vendo acarajé há 35 anos. Comecei ajudando minha mãe quando tinha nove anos e a venda do acarajé sempre foi a minha principal fonte de renda. Tenho duas filhas e as duas já aprender a fazer. Eu me sinto orgulhosa pelo meu trabalho, e por poder ajudar a outras mulheres a começarem a aprender também”, afirma Letícia, uma das baianas que ministrou a aula show do festival.
Baiana de acarajé há mais de 40 anos, Beth Santana, de 60 anos, uma das mentoras do Festival, tem orgulho de ser baiana e de poder repassar o conhecimento do oficio. “Criei os meus três filhos e construí praticamente toda a minha vida com o dinheiro do acarajé. Tenho muito orgulho disso. É importante continuar repassando esse conhecimento para perpetuar a tradição e ajudar outras mulheres que queiram fazer do bolinho uma fonte de renda”, diz.