Com um investimento de mais de 100 milhões de dólares, a Equinox Gold inaugurou, neste mês de julho, uma nova planta industrial, na cidade de Santaluz, a 212 km de Salvador. O equipamento vai processar o ouro com mais eficiência, pois usará resina no beneficiamento do mineral ao invés de carvão ativado. A mina de onde o metal é extraído faz parte das áreas descobertas pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM).
Segundo a mineradora, as obras da unidade contaram com 1.200 trabalhadores, durante nove meses. Agora, a expectativa é de que a mina e a planta operem com mais de 800 colaboradores e que tenha uma produção anual de, aproximadamente, três toneladas de ouro.
“O efeito indutor proporcionado pela mineração no desenvolvimento socioeconômico regional é muito importante, porém limitado no tempo, pois os recursos minerais um dia acabam. Nesse contexto, é fundamental que as autoridades locais busquem empregar os recursos gerados pela mineração no incremento de outras áreas que venham trazer benefícios duradouros para as cidades e, principalmente, para a população”, diz Albert Hartmann, gerente da CBPM.
O gestor representou a companhia no evento de inauguração da unidade industrial, que foi prestigiado também por lideranças globais e locais da Equinox, representantes de segmentos privados e públicos, entre eles o INEMA, a Agência Nacional de Mineração (AMN) e a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM).
Infraestrutura ferroviária é imprescindível
Sempre que as mineradoras falam de ampliação e construção de novas estruturas que, obviamente, resultarão em aumento de produção, a falta do transporte ferroviário de carga na Bahia vem à tona. Mas, justamente para apresentar um projeto para destravar a logística que prejudica o desenvolvimento econômico do estado, a Fundação Dom Cabral (FDC), que tem sede em Minas Gerais, já iniciou o processo do “Estudo de oportunidades em infraestrutura ferroviária no Estado da Bahia”, que foi contratado pela CBPM.
O pesquisador Bernardo Figueiredo, um dos coordenadores do projeto, já está em Salvador, onde já iniciou reuniões para o desenvolvimento das análises. “As áreas de mineração, com enorme potencial de crescimento na Bahia, são dependentes naturais do transporte ferroviário para o escoamento da produção. Com isso, a falta de infraestrutura ferroviária se torna o principal entrave para o seu desenvolvimento”, diz Figueiredo, que é economista, especialista em ferrovias e ex-diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Para o especialista, a competitividade logística da economia baiana depende da disponibilidade de um serviço de transporte ferroviário de cargas que atenda às necessidades do mercado. “A análise dos resultados desta simulação permitirá quantificar os benefícios gerados pelas intervenções ferroviárias e avaliar as intervenções prioritárias e os modelos aplicáveis para sua implementação”, destacou.
Crescimento com inovação
A questão logística tem conexão também com a gestão sustentável das empresas. No que diz respeito ao transporte ferroviário, se evidencia o fato dele ser menos poluente, com o uso de biocombustíveis, por exemplo. Mas, as empresas podem expandir as próprias ações cuja finalidade seja o cuidado com o meio ambiente e, consequentemente, com as pessoas. Um dos assuntos que a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) vem discutindo com pesquisadores, técnicos e gestores públicos e privados é o aproveitamento de resíduos da mineração em novas rotas tecnológicas, na agricultura, na construção civil e na indústria química. Trata-se de dá novas destinações, sustentáveis e também viáveis economicamente, para materiais sólidos resultantes dos processos de beneficiamento aos quais são submetidas as substâncias minerais.
Um dos debates realizados, recentemente, pela CBPM contou com a presença do engenheiro e conselheiro do Instituto Politécnico da Bahia (IPB) Lenaldo Cândido de Almeida. Para o representante do IPB, instituição que tem mais de um século de existência e é mãe, por assim dizer, da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, a discussão é pertinente e precisa de aplicações, pois ainda são pouquíssimas as empresas que estão se fazendo valer dessa nova cadeia produtiva. “Quando fui convidado a participar logo aceitei, pois eu acho importante a gente valorizar esses recursos que as companhias já possuem. A Bahia tem um potencial enorme, mas, na prática, a coisa requer estudo, planejamento e ação. O entusiasmo não é suficiente, digo isso com base na experiência do IPB, que é a segunda mais antiga instituição de engenharia do Brasil”, salienta.
Discussões colaborativas e ações
Cada contribuição de profissionais de áreas distintas tem enriquecido as proposições da CBPM com relação ao uso de resíduos. Entre elas estão os técnicos da SEAGRI (Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura). Durante reunião sobre a temática, os técnicos Djalma Pereira Seixa e Ismael Medeiros chamaram a atenção para a necessidade de uma maior divulgação dos resultados obtidos com o uso de remineralizadores – uso de pó de rocha como fertilizante na agricultura. “A gente precisa difundir isso de uma forma mais direta, com uma linguagem mais aberta para o pequeno produtor entender, para o grande entender. Nós temos serviços e conhecimentos, com base em nossas experiências que também podem ser aproveitados”, diz Ismael Medeiros, que é geólogo.
Nessa troca de ideias, também estão profissionais das áreas de análises estatísticas, planejamento estratégico e desenvolvimento, como Edgar Porto da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), Ranieri Barreto e Antonio Valença da SEPLAN (Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia). “Na conjuntura atual, quando está havendo uma crise no suprimento de insumos agrícolas, principalmente de corretivos de solo e outros materiais que são importados, além do valor econômico que o resíduo possui, temos argumentos suficientes para valorizar e não desprezar esse material, esse insumo”, destaca Valença, que é coordenador executivo de projetos especiais na SEPLAN, órgão que irá desenvolver um estudo inédito sobre o aproveitamento de resíduos da mineração.
Este conteúdo tem apoio institucional da WWI e oferecimento da Ero Brasil (Mineração Caraíba).
Este conteúdo não reflete nem total nem parcialmente a opinião do jornal Correio e é de inteira responsabilidade do autor.